Na pandemia do coronavírus, Mainy, de 10 anos, passou a estudar em casa, assim como milhões de crianças e adolescentes. Todos os dias, ela se senta diante do computador das 13h às 17h30. Com o tempo, ela, que usa óculos desde os 2 anos de idade, passou a reclamar que estava mais difícil enxergar.
A mãe dela logo tratou de limitar celular e TV e levou a filha à oftalmologista para exames. “Ela tem miopia. Mas começou a se queixar que estava ruim para enxergar. Achamos que foi por causa das aulas on-line. Agora estamos tentando fazê-la brincar mais ao ar livre, com luz natural. Mas sabemos que a pandemia nos limita de fazer as coisas fora de casa pela necessidade de isolamento e cuidado”, conta Lidiane Dal Bo Bazoni Prati, 40 anos, atendente dos Correios.
De fato, os pequenos agora dependem quase que exclusivamente de telas para aprender e se divertir. E um dos impactos disso foi na visão.
“Existem vários artigos publicados em revistas internacionais evidenciando o aumento de miopia em crianças e adolescentes durante a pandemia, e temos recentemente um artigo no American Journal of Ophthalmology, umas das principais revistas americanas em Oftalmologia, mostrando o aumento exponencial da miopia em crianças, além de estrabismo e olho seco pelo simples ato de piscar com menos frequência, por exemplo”, cita a oftalmologista Hanna Teodoro, do Hospital de Olhos de Vitória, que atua na área infantil e estrabismo.
Hanna destaca que não é de hoje que se fala em limitar o tempo de uso de eletrônicos pelas crianças, deixá-las curtir o lazer ao ar livre sempre que possível. “O indicado é não expor aos eletrônicos as crianças menores de 2 anos. Aquelas com idades entre 2 e 5 anos devem ter no máximo 1 hora de exposição por dia. Para as que têm acima de 5 anos de idade, o indicado é até 2 horas de uso por dia, de preferência sempre fracionando o uso”, aponta.
O oftalmologista César Ronaldo Filho, também do Hospital de Olhos, concorda que o caminho mais seguro é este mesmo. “A mensagem principal que devemos passar é que ainda não se sabe, com certeza, quanto tempo de exposição às telas é seguro para uma criança durante seu desenvolvimento. Porém, até termos a certeza, acredito que crianças não devem ser expostas às telas durante tempos prolongados”, avalia.
Com a suspensão das aulas presenciais e adoção das aulas on-line, como dosar isso com os menores? “Vale espelhar a tela do computador na televisão, para desta forma afastar o máximo possível do rosto. Porque quanto mais próximo o eletrônico do rosto, mais danoso ele se torna à visão”, orienta a oftalmologista infantil.
Seu filho anda meio “viciado” em joguinhos e vídeos no celular? Tente convencê-lo a trocar pela TV. “A televisão se torna menos maléfica por conta da maior distância. Celular e tablet são mais prejudiciais pela proximidade do rosto, o que força mais a visão para perto, estimulando mais a miopia e o estrabismo”, sugere ela.
Segundo Hanna, pais devem observar os filhos para identificar se já há algum comprometimento da visão. O ideal mesmo é marcar uma consulta com o especialista.
“Muitas vezes as crianças não apresentam sintomas relacionados à baixa de visão. Daí a importância do exame de rotina com o oftalmologista. Mas quando os sintomas aparecem, geralmente encontramos dor de cabeça aos esforços visuais, ressecamento ocular, lacrimejamento excessivo, forçar os olhos para olhar objetos distantes, aproximar alguns objetos do rosto, aumento de sensibilidade à claridade, dificuldade escolar ou quedas frequentes”, cita.
Uma vez instalada a miopia, que é a dificuldade de enxergar de longe, o problema tende só a progredir. “A miopia tende a aumentar com o crescimento da criança, devido ao aumento do globo ocular. Geralmente, quando se faz necessário o uso dos óculos, a criança irá sempre precisar deles”, explica a médica.
A psicóloga Danielle Alvim aconselha os pais a irem com jeitinho na hora de limitar as telas em casa, afinal, o período já está bem estressante. “Eles precisam ter paciência e calma. Não devemos interromper de forma radical o uso das telas. As crianças podem passar por um processo de abstinência e mudar muito o comportamento, reagindo com birras, agressividade.”
Uma dica, diz ela, é colocar alarmes para lembrar a hora de desligar o celular. “Com isso, não vão precisar ficar avisando. E o importante neste processo é manter o combinado”, ressalta a especialista, afirmando que vale substituir os eletrônicos por outra diversão.
"O legal é fazer isso na base do diálogo, conversando com a criança, incentivando as outras brincadeiras, estabelecendo limites ao uso. Pode ser trabalhoso para os pais no início, mas oferecer alternativas para substituir o uso das telas, incentivar o hábito de brincar, tendo sempre brincadeiras para sugerir, brincar com os filhos, levá-los para cozinhar junto, entre outras medidas podem convencer as crianças a diminuírem o uso. A maioria das crianças vão topar a brincadeira quando percebem que os pais estão dispostos a brincar também", evidencia Danielle Alvim.
Só não vale é dar mau exemplo. “Os pais também devem ficar atentos ao usarem telas na frente dos filhos. As crianças aprendem com os exemplos e os pais são sua referência”, destaca Danielle.
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