A pandemia do coronavírus vem afetando nossas vidas em vários aspectos físicos e emocionais. Mas pouca gente se dá conta de que um dente quebrado pode ser mais uma consequência desse mal-estar todo.
Os consultórios odontológicos observaram um aumento significativo dos casos de fratura de dentes nesse período, o que pode ter como causa o bruxismo, um problema funcional que atinge cerca de 40% das pessoas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), ou pelo menos 80 milhões de pessoas no Brasil, de acordo com a Associação Brasileira de Odontologia (ABO).
Os efeitos disso podem ser leves ou graves. "As consequências mais comuns são os desgastes do esmalte dos dentes, podendo expor até mesmo a dentina, que é a camada do dente abaixo do esmalte. Em casos mais severos, pode ocorrer fraturas dentárias e dores na face, na região dos músculos da mastigação", diz a dentista.
De acordo com Flávia, o bruxismo ocorre, predominantemente, durante o sono. "Mas alguns indivíduos podem apertar os dentes durante o dia, em situações de estresse, ansiedade e até durante a prática de esportes."
Quem sofre disso costuma relatar uma sensação de boca travada, mandíbula dolorida, dor de cabeça e no pescoço, entre outros sintomas que surgem ao acordar.
É uma tensão que pode rachar os dentes. "Quando ocorrem fraturas apenas na coroa dos dentes, a restauração protética pode resolver o problema. Quando a fratura acontece na raiz, na maioria dos casos o dente deverá ser extraído e substituído por um implante dentário", afirma a especialista.
Não é tão simples detectar o que causa isso. Mas já se sabe que há uma relação com questões emocionais que ficaram muito evidentes desde o aparecimento da Covid-19.
"As prováveis causas são bastante complexas. O estresse e a ansiedade parecem ser coadjuvantes, agravando ou perpetuando essa parafunção", destaca Flávia.
A ABO afirma que a causa do bruxismo também pode estar relacionada com problemas de dentição ou com fatores hereditários, já que pais que sofreram com a doença podem aumentar as chances de os filhos desenvolverem o mesmo distúrbio.
O mal pode afetar crianças, adolescentes e adultos. Costuma ser mais recorrente em crianças dos 2 aos 4 anos e, nos jovens, acontece com frequência dos 10 aos 12 anos e aos 18 anos. A explicação é que o bruxismo fisiológico acontece nessas fases em que crianças ou adolescentes passam por descobertas, adaptações, modificações e aprendizados.
O bruxismo pode ser transitório. Mas Flávia Machado frisa que não se deve deixar de tratar. "O tratamento deve ser multidisciplinar, envolvendo ações médicas, odontológicas e até de fisioterapia."
Há casos que tiveram sucesso com aplicação de toxina botulínica, que, comprovadamente, já tem diversos usos para além do tratamento de rugas.
Esta deve ser a próxima aposta da professora de Redação e Literatura Marli Siqueira Leite, 57 anos. Ela já perdeu três dentes por causa do bruxismo somente durante a pandemia de coronavírus. “Eles trincaram no meio. Por isso, tive que tirar, fazer implante”, conta ela.
Marli diagnosticou o distúrbio no início do ano passado. “Veio a pandemia e deixei rolar. Até que fraturei o primeiro dente. Meu problema é ranger e apertar. Fiquei assustada! Não tinha noção que isso poderia acontecer durante o sono, que é quando deveríamos estar relaxados, descansando. É uma violência enorme! Minha dentista disse que tem atendido muitos pacientes com bruxismo”, comenta a professora.
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