> >
O alerta de dermatologistas contra o perigoso uso de cremes 'da moda' por crianças

O alerta de dermatologistas contra o perigoso uso de cremes 'da moda' por crianças

Produtos com embalagens coloridas e promovidos por influenciadores na internet têm forte apelo entre crianças, mas podem causar danos na pele

Publicado em 27 de janeiro de 2024 às 17:41

Ícone - Tempo de Leitura 3min de leitura
Imagem BBC Brasil
Alguns produtos de pele podem ser danosos a crianças. (BBC)

Annabel Rackham

Na moda entre crianças, o uso de cremes de pele indicados para adultos pode deixá-las com problemas dermatológicos, alerta a Associação Britânica de Dermatologistas.

Movidas pela propaganda e por influenciadores no YouTube e TikTok, crianças de menos de 10 anos têm pedido de presente cremes de beleza — mas alguns deles contêm ingredientes nocivos à pele infantil, como ácidos esfoliantes.

Usados para combater o envelhecimento da pele, esses ácidos só devem ser usados por adultos.

Isso porque podem provocar reações alérgicas, irritações e eczema.

A britânica Sadie, de oito anos, começou a assistir a vídeos de cuidados com a pele no TikTok. Ela foi particularmente atraída por um produto da empresa Bubble. "Quando você aperta, ele faz (o formato de) uma flor", conta Sadie à BBC News.

Imagem BBC Brasil
Sadie foi atraída por embalagens coloridas e vídeos no TikTok; acabou desenvolvendo problemas na pele . (BBC)

Outros favoritos de Sadie e de mais crianças da faixa etária dela são os produtos da marca americana Drunk Elephant: "É porque eu gostei muito da embalagem", explica a menina.

A dermatologista pediátrica britânica Tess McPherson diz que é importante que crianças tenham acesso "a informação, e não desinformação" sobre cuidados com a pele.

"Muitos desses produtos são antienvelhecimento. Podem ser adequados para peles mais velhas, mas não devem ser usados por crianças. Podem causar irritação em qualquer idade — mas, na infância, são potencialmente perigosos ou problemáticos", explica McPherson, que representa a Associação Britânica de Dermatologistas.

"Para uma criança com eczema ou pele sensível, os danos podem ser significativos. E muitos produtos têm muitas fragrâncias, que podem causar alergias."

A médica também se preocupa com o fato de as embalagens serem coloridas e atraentes para crianças. "São produtos vendidos como empoderamento, mas na verdade se aproveitam de vulnerabilidades", afirma.

Imagem BBC Brasil
Retinol, presente em produtos como os da Drunk Elephant, não deve ser aplicado em crianças. (BBC)

A BBC News recebeu mensagens de diversos pais preocupados com o interesse de seus filhos com os cuidados de pele — e também com a influência das redes sociais nesse fenômeno.

Com suas embalagens coloridas, a Drunk Elephant é uma das marcas mais presentes nos conteúdos promovidos por influenciadores — sejam eles adultos ou juvenis. Mas muitos de seus produtos mais vendidos, que chegam a custar o equivalente a quase R$ 400 cada, contêm esfoliantes como ácidos alfa e beta hidroáxidos e retinol.

Conteúdos de beleza não enfrentam nenhum tipo de controle nas redes sociais. É comum que vídeos de rotinas de "skincare" recebam milhões de visualizações. Há relatos também de crianças e adolescentes visitando lojas como a da varejista Sephora para testar os produtos da Drunk Elephant.

Imagem BBC Brasil
Sadie, em entrevista à BBC: menina 'implorou' à mãe que comprasse produtos. (BBC)

'Mantenham distância'

Diante da popularidade da Drunk Elephant nessa faixa etária, a fundadora da marca, Tiffany Masterson, teve de pedir, nas redes sociais, que "crianças e pré-adolescentes mantenham distância dos nossos produtos mais potentes, que incluem ácidos e retinol".

"A pele delas ainda não precisa desses ingredientes", afirmou Masterson.

A BBC News pediu que a empresa se pronuncie e aguarda resposta.

Enquanto isso, a fascinação com a marca fez com que as amigas de Sadie comprassem os produtos — a ponto de a menina "implorar" a sua mãe, Lucy, que os comprasse também.

Diante da negativa da mãe, Sadie pediu o presente a outros parentes, menos cientes do potencial danoso dos produtos para a menina. O resultado é que, depois de usá-los, Sadie ficou com a pele vermelha e irritadiça. Lucy resolveu intervir.

"É muito difícil, porque ela só falava nisso (em comprar os produtos)", diz Lucy à BBC News. "A Sadie gosta de fazer (rotinas de beleza) com as amigas e se sente excluída quando é impedida."

Lucy acabou decidindo banir o uso do TikTok pela filha. Mas muitos criadores de conteúdo de beleza estão presentes também no YouTube Shorts.

"Tentar educar uma menina de oito anos quanto a cuidados com a pele é muito difícil quando existem influenciadoras em quem ela acredita mais do que qualquer pessoa", lamenta Lucy.

"Ela é minha filha mais nova, e não achei que fosse precisar me preocupar em policiar os cuidados de pele dela nessa idade. A sensação é de que a infância dela foi roubada."

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

Tags:

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais