A pessoa se olha no espelho, vira de perfil, lado direito, lado esquerdo... Alguma coisa incomoda ali faz tempo. É o nariz. A vontade é afinar um pouco. Quem sabe levantar a pontinha. E agora? Qual a melhor técnica para deixar o visual mais harmonioso? É o caso de cirurgia plástica?
Tanta dúvida tem motivo. Afinal, não é bobagem se preocupar com segurança na hora de fazer um procedimento estético, por mais simples que ele pareça.
No caso de alterações no aspecto do nariz, existem duas opções: a rinoplastia e a rinomodelação. A primeira é uma intervenção cirúrgica, e a segunda, um procedimento minimamente invasivo feito com preenchedores.
A rinoplastia deve ser feita por um cirurgião plástico ou um otorrinolaringologista. Já a rinomodelação pode ser feita, também, por um dermatologista. Buscar algo fora dessas especialidades é se arriscar com profissionais não habilitados, o que aumenta as chances de complicações.
A dermatologista Karina Mazzini explica que a rinomodelação é um procedimento para correção de algumas deformidades estéticas do nariz. "Trata-se de uma técnica não cirúrgica que usa o ácido hialurônico de alta densidade. Ao injetar essa substância no nariz, é possível corrigir imperfeições ou defeitos, e, desse modo, melhorar o contorno nasal".
Esse procedimento, segundo a médica, é indicado para pacientes que têm o nariz razoavelmente fino e com pequenas deformidades. A pessoa pode disfarçar alguma deformidade na giba nasal, que é a corcova na parte óssea e cartilaginosa do nariz. Ou pode alterar a ponta nasal. "No local em que essa região é mais fina e caída, a rinomodelação cria um suporte e eleva a ponta", diz ela.
É importante ressaltar que a rinomodelação tem indicações limitadas. "Não é indicado, por exemplo, para corrigir um nariz grande, pois o procedimento não deixará o nariz mais fino ou menor. Também é contraindicada para pacientes com problemas de coagulação ou que fazem uso de anticoagulantes, já que pode gerar complicações", pontua Karina.
Essa técnica utiliza o ácido hialurônico, uma substância que apresenta segurança e possibilidade de reversão quase imediata do resultado, caso necessário, de acordo com a dermatologista.
O resultado também não é definitivo. Geralmente, o efeito do preenchedor dura em torno de 12 meses.
Mesmo assim, embora seja um procedimento minimamente invasivo, a rinomodelação também envolve riscos. "Quando executada de forma inadequada, ela pode desencadear infecções, distúrbios vasculares, dores crônicas, formação de osteófitos - que é o crescimento anormal do tecido ósseo -, entre outros problemas graves", destaca Karina Mazzini.
Após o procedimento, o paciente já é liberado para retornar a sua rotina. No entanto, é preciso seguir algumas orientações, como: evitar apertar a região e manter curativo por dois a três dias, não fazer exercícios físicos intensos, evitar o uso de maquiagem pesada na região, não usar óculos no local da aplicação e evitar ficar exposto ao sol na primeira semana.
A chamada harmonização facial virou uma febre, atraindo uma farta clientela às clínicas de estética para fazer os mais variados tipos de procedimentos, entre eles a rinomodelação.
"Harmonização nem é um termo médico! É uma invenção das clínicas de estética e de profissionais não médicos", alerta a dermatologista Edileia Bagatin, coordenadora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
A questão, diz a médica, é que nenhuma técnica que utilize substâncias injetáveis pode ser feita em clínicas de estética. Esse tipo de procedimento exige um médico responsável e deve ser feito por um médico, de preferência um dermatologista ou cirurgião plástico, que recebem treinamento durante a residência médica para essa finalidade".
O perigo é real, segundo Edileia: "A face e o nariz são áreas que têm uma anatomia muito complexa. São regiões muito vascularizadas. A complicação mais simples é de um hematoma, causado pelo rompimento de um vaso sanguíneo e que desaparece logo depois. Até um inchaço, um edema, que também é uma complicação simples, pode ser mais demorado e exigir conduta médica".
O risco maior são as complicações graves. "O problema é injetar substâncias dentro de um vaso sanguíneo, causando uma oclusão desse vaso e, consequentemente, uma necrose da pele naquela região. Vai virar uma lesão profunda e deixar uma deformidade, uma cicatriz, às vezes, para sempre, sem possibilidade de correção", destaca a especialista.
E se é o paciente que teima em se arriscar para ter um nariz igual ao de uma celebridade? Aí, se estiver diante de um profissional responsável, ele terá que ouvir umas verdades. "Ele vai precisar 'nascer' de novo com aquele nariz", dispara Edileia Bagatin. Quem promete isso, argumenta ela, está vendendo uma ilusão.
Para ela, aliás, é essencial pensar duas vezes antes de se submeter a uma técnica como a rinomodelação, mesmo com um especialista. "O profissional precisa ser muito habilidoso. Precisa conhecer profundamente a anatomia da região para fazer algo com volumes adequados, com posicionamento adequado, para evitar complicações, que são muito frequentes".
O uso de substâncias como silicone e metacrilato, segundo a médica, é um erro e aumenta muito o risco de problemas.
Rinomodelação é uma palavra que não faz parte do vocabulário dos cirurgiões plásticos. Ali, quando uma pessoa se sente desconfortável com o aspecto do nariz ou tem problemas, a indicação é operar mesmo.
"A rinoplastia pode ser indicada por uma questão estética ou funcional, quando a pessoa não respira bem e precisa melhorar a função nasal. Há quem tenha que resolver as duas questões, concomitantemente. Assim, é possível melhorar a parte estética, como o contorno do nariz, e a parte funcional, para melhorar a respiração", ressalta o cirurgião plástico Ariosto Santos, atual presidente da Sociedade de Cirurgia Plástica do Espírito Santo.
Resolver um problema estético, argumenta o médico, vai além da vaidade. "Muita gente sofre bullying por causa do nariz. Se é muito grande, a pessoa recebe apelidos já na adolescência, chamam de 'tucano'. É bem desagradável", comenta.
É possível operar o nariz a partir de 17, 18 anos de idade. "É quando já existe uma conformação óssea da face", diz Ariosto.
A plástica pode ser feita para pequenas intervenções também. "Mas a cirurgia é algo definitivo. Podemos modelar a pontinha do nariz, usar cartilagem para levantá-la", esclarece ele.
Ariosto concorda que o que não dá para prometer ao paciente é deixá-lo com um nariz tal qual o de um artista ou modelo. "A pessoa não pode chegar ao consultório com uma expectativa fantasiosa. O que é bonito no Brad Pitt não necessariamente fica bonito no rosto do paciente. Há rostos mais largos, rostos mais compridos... E o nariz tem que ser compatível com os traços dela. Se alguém nos procura com essa intenção, já é um sinal de que não devemos operá-la. Porque é encrenca. Isso não é tecnicamente possível e nem deve ser desejado. Ela nunca vai alcançar o que deseja, vai estar sempre frustrada. Pode ser o caso, na verdade, de tratamento psicológico", comenta.
Uma expectativa fora da realidade acaba levando a pessoa a recorrer a profissionais pouco ou nada habilitados para esse tipo de procedimento. E aí é que ela pode pôr tudo a perder. "Recebemos muitos casos no consultório de pessoas que tiveram complicações, que estão com necrose ou sem conseguir respirar por causa de um procedimento mal feito. Só que o estrago, muitas vezes, é irreversível", conta o especialista.
A decisão de modificar o nariz exige, de acordo com o cirurgião plástico, muito planejamento. "Nessa região, é o tipo de cirurgia que mais exige o que chamamos de planificação pré-operatória. Fotografamos o rosto de frente, de perfil, de cima para baixo. E explicamos o que é possível e o que não é possível fazer. Isso tem que ficar muito claro. Nos Estados Unidos, a rinoplastia é a segunda cirurgia que mais requer retoques, só perdendo para o implante de silicone".
Os riscos dessa cirurgia são os mesmos de qualquer outra. "Por isso, o paciente deve fazer exames de sangue, coração, ver se comorbidades como diabetes e hipertensão estão sob controle", explica Ariosto Santos.
E o pós-operatório também não é tão simples, segundo ele: "O paciente deve ter muita paciência e seguir as recomendações do médico. Porque o nariz, muitas vezes, precisa ser quebrado e vai ficar inchado por muitos dias. E o resultado refinitivo só vai aparecer depois de seis meses. Não pode sair da cirurgia e praticar esporte com bola uma semana depois", ressalta.
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