Por muitos anos, a criadora de conteúdo Raquel Sarcinelli, 23 anos, teve uma relação ruim com o cabelo. Ela chorava por não ter os fios liso e, quando ele começava a crescer, gerava ansiedade. "O meu cabelo era alisado. Quando criança, sempre ia com a minha mãe ao salão e pedia para alisar. Até que um dia ela permitiu e aí fiquei dependente do alisamento por 10 anos", lembra.
O processo da transição capilar começou em 2019, porque Raquel não se reconhecia mais de cabelo alisado. "E queria muito entender como lidaria com meu cabelo natural. Além disso, em 2018, meu cabelo caiu por conta de um alisamento, então já comecei a pensar se voltaria a usar os fios naturais. Mas demorei tomar a decisão."
A restauração dos fios durou seis meses. "Eu usei tranças para lidar melhor com o processo de um cabelo com duas texturas e eu não gostava de falar e nem assumir que estava em transição para não ser 'julgada'". Até que Raquel começou a se reconhecer e a gostar dos próprios fios.
A transição capilar é o processo para eliminar a química dos cabelos como alisamentos, escovas progressivas ou tinturas, dentre outras técnicas que modificam a estrutura natural dos fios. "Hoje em dia vemos um movimento muito grande de crespas e cacheadas assumindo seus fios naturais, mulheres cada vez mais jovens deixando de pintar e assumindo os fios brancos. Todo esse processo é chamado de transição capilar. É um momento difícil, pois exige paciência e aceitação, mas oferece muitos aprendizados sobre autoconhecimento", conta Zica Assis, cabeleireira e fundadora do Beleza Natural.
O processo da transição capilar é muito íntimo e pessoal, que vai além da escolha de como tratar os cabelos. Durante esse período, o cabelo geralmente fica com duas texturas diferentes, o que pode incomodar algumas pessoas. "Alguns optam logo por um corte radical, outros usam laces, tranças, penteados, texturizações ou finalizações que diminuam a diferença entre os formatos dos fios", diz Zica Assis.
O tempo de duração a transição capilar é individual. Quem deseja parar de fazer química nos cabelos e voltar ao cabelo natural precisa ter em mente que vai precisar de muita paciência e cuidado. "O processo é longo, e demanda um aprendizado sobre o seu próprio cabelo e como adquirir uma nova rotina de cuidados que valorize a característica natural dos fios", afirma a cabeleireira.
Sobre os melhores produtos para a transição capilar, Zica diz que especificamente sobre as crespas e cacheadas, é fundamental para a saúde dos cabelos manter uma rotina de cuidados que inclui lavagem, condicionamento, hidratação e creme de pentear de duas a três vezes por semana, com os produtos ideais para o seu tipo de fio, embora durante a transição a curvatura possa variar.
"Uma sugestão é investir em produtos à base de óleos vegetais, para nutrição e reconstrução, para o cabelo crescer saudável. E finalizadores que ajudem a texturizar os fios, isso vai auxiliar a passar por essa fase mais facilmente", destaca.
A tricologista Cristal Bastos diz que há duas formas de assumir as madeixas naturais. Uma, o 'Big Chop', sendo mais radical, é o corte de toda a parte do cabelo alisado com química, quando a transformação começa de vez. Para quem quer ir com mais calma, a sugestão é cortar os fios gradualmente. "Assim, o cabelo cresce das raízes já natural, sem ser necessário abrir mão de todo o comprimento de uma só vez. É uma ótima saída para quem tem medo de mudar radicalmente", pontua.
Para o período de transição capilar é preciso ter paciência e usar alguns truques para passar por essa fase com a autoestima elevada. "Manter a rotina de hidratação capilar é fundamental para ter uma transição mais tranquila, porque ajuda a controlar o volume dos fios e mantê-los sedosos e brilhosos. Também é importante texturizar as pontas alisadas, pois deixa o cabelo mais harmonioso. Existem produtos específicos para ajudar a deixar a parte com química do cabelo mais ondulada e também penteados que podem ser feitos com kits de bobs e rolinhos para deixar os fios alisados com cachos", diz Cristal Bastos.
O normal é que o cabelo cresça cerca de um centímetro por mês, e a transição só estará completa quando todo o comprimento que passou por química seja eliminado. "Para quem não fez o 'Big Chop', o recomendado é cortar pelo menos a ponta, que geralmente é a parte mais danificada, cerca de quatro dedos. Você pode repicar. Hoje a crespa e cacheada pode ter o corte de cabelo que desejar", observa Zica Assis.
A texturização é uma das possibilidades de passar pela transição sem fazer o 'Big Chop'. Com ela, é possível praticamente igualar as texturas do cabelo. "Para tentar texturizar as pontas, onde geralmente predomina a parte lisa, a dica é aplicar creme de pentear e amassar com cuidado os cabelos, com a mão em formato de concha", diz Zica Assis. Em seguida deixe secar sem mexer muito nos cabelos. Isso irá estimular a memória do cacho dos fios e amenizará a diferença das pontas lisas para a raiz cacheada.
Cristal Bastos conta que o cabelo alisado é um cabelo mais ressecado, rígido, pouco maleável e com tendência à quebra e queda e ao frizz. Por isso, o cronograma capilar é importante, já que cumpre três funções básicas para a saúde capilar: hidrata (reposição hídrica), nutre (reposição lipídica) e reconstrói (reposição proteica). "Ele deve fazer parte da terapia capilar, que consiste num conjunto de tratamentos individuais e personalizados, que ajudam a manter ou devolver a saúde dos fios e do couro cabeludo".
Zica Assis diz que a reconstrução consiste na reposição de proteínas, a nutrição é uma reposição lipídica, ou seja, da oleosidade dos fios, e a hidratação repõe toda a água perdida. "Os cabelos cacheados e crespos necessitam mais da reposição desses nutrientes. Isso acontece por conta do formato em espiral do fio, que dificulta que a oleosidade natural da raiz chegue até as pontas, e os fios crespos e cacheados tendem a ser mais finos e delicados. Mesmo na raiz, a oleosidade natural tem mais dificuldade de se espalhar. Por isso é fundamental que a cacheada e crespa siga uma rotina de cuidados lavando, condicionando e hidratando as madeixas de duas a três vezes por semana, com os produtos ideais para as necessidades do seu fio, principalmente durante a transição capilar", finaliza.
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