Nos últimos anos, a dieta low carb emergiu como uma das tendências mais populares na busca pelo peso ideal e pela saúde. No entanto, junto com essa popularidade, surgiram interpretações equivocadas que demonizaram certos alimentos ricos em carboidratos.
“Alimentos como batatas, batata-doce, mandioca e inhame foram considerados ‘maus’ carboidratos e excluídos do padrão alimentar em muitas casas. O problema é que esses alimentos são fontes de vários nutrientes e sua substituição por vegetais de baixas calorias pode não garantir as vitaminas, fibras e minerais que o corpo necessita”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
Um estudo recente reforça essa visão, demonstrando que a exclusão de vegetais ricos em amido em favor de opções à base de cereais, em apenas um dia, levou a diminuições de: 21% no potássio, 17% na vitamina B6, 11% na vitamina C e 10% nas fibras.
Segundo a médica, para muitos, é tentador pensar que todos os alimentos ricos em carboidratos podem ser substituídos. “Mas estes alimentos são categorizados dentro de diferentes grupos alimentares por uma razão – e a mais importante delas é que eles tendem a ter conteúdos vitamínicos e minerais muito diferentes”, diz a nutróloga.
“Em comparação com os grãos, os vegetais ricos em amido, como a batata, tendem a ser mais ricos em potássio, considerado um nutriente de interesse para a saúde pública, porque a ingestão inadequada está associada ao aumento dos riscos à saúde. Eles também podem fornecer uma excelente fonte de vitamina C”, completa a Dra. Marcella Garcez.
Além de demonstrar as principais diferenças nas contribuições nutricionais dos vegetais ricos em amido e dos alimentos à base de cereais, a perspectiva discute distinções na estrutura química de cada grupo alimentar, nas aplicações culinárias, nos benefícios econômicos e na relevância cultural.
“Também é importante reconhecer que alguns grupos culturais tradicionalmente usam certos alimentos que contêm carboidratos em detrimento de outros. É por isso que mais pesquisas são necessárias para entender como as diferentes escolhas alimentares com carboidratos afetam a qualidade da dieta e quais alimentos culturalmente apropriados devem ser incentivados para ajudar a fechar quaisquer lacunas de nutrientes”, explica a médica.
No estudo, os pesquisadores analisaram dois modelos de cardápio de um dia para avaliar as contribuições de nutrientes de vegetais ricos em amido e alimentos à base de grãos para a dieta diária. Um menu “básico” de aproximadamente 2.000 calorias foi usado para refletir as recomendações dietéticas das Diretrizes Dietéticas para Americanos 2020-2025 e em alinhamento com os “Modelos de Padrões Alimentares” do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
“Esse cardápio incluía tanto alimentos à base de grãos quanto batata branca, como alimento nutricionalmente representativo da categoria de vegetais ricos em amido. Nessa dieta básica, as batatas brancas eram incluídas no café da manhã na forma de fricassé e no jantar na forma de batata assada. Um menu de aproximadamente 2.000 calorias com 100% de vegetais ricos em amido substituídos por alimentos à base de grãos foi usado como comparação. Esse cardápio substituiu o fricassé no café da manhã por uma fatia adicional de pão integral e a batata assada no jantar por arroz branco”, explica a médica.
Para a Dra. Marcella, o estudo mostra que definitivamente não é saudável classificar alimentos em bons ou ruins. “Uma dieta low carb começa com a redução no consumo de açúcares adicionados e carboidratos farináceos. Por restringir o consumo de grupos alimentares, o ideal é consultar o médico de confiança para saber se não há contraindicações. E, claro, um médico nutrólogo ou profissional da nutrição, para não correr o risco de adotar uma dieta monótona e insuficiente em nutrientes essenciais.”, conclui a especialista.
“Dietas restritivas geralmente concursam com hábitos que não são sustentáveis a longo prazo, não respeitam critérios individuais e são adotadas sem respaldo científico, deste modo aumentam o risco de desenvolvimento de intolerâncias alimentares que antes não existiam, transtornos alimentares e metabólicos”, finaliza a médica nutróloga.
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