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Guerra comercial: como proteger investimentos em período de bolsa instável

Guerra comercial: como proteger investimentos em período de bolsa instável

Escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China decorrente do tarifaço imposto por Trump derrubou bolsas de valores em todo o mundo nesta segunda (7)

Publicado em 7 de abril de 2025 às 18:53

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Bolsa de Valores, investimentos
Bolsa de Valores: instabilidade até em mercados considerados mais estáveis. (Reprodução)

O tarifaço imposto pelo presidente dos Estados UnidosDonald Trump, ganhou um novo capítulo, com a escalada na guerra comercial entre o país norte-americano e a China. O resultado? Bolsas em queda ao redor do mundo, nesta segunda-feira (7), incluindo circuit breakers, mecanismo que protege os investidores em períodos de extrema volatilidade, até em mercados considerados mais estáveis, como o do Japão. Em meio a esse cenário, como fica a situação para quem tem investimento em renda variável? A Gazeta ouviu especialistas para saber como os investidores podem proteger o patrimônio diante de um cenário tão incerto.

Na última quarta-feira (2), Trump impôs tarifas adicionais de importação a todos os parceiros comerciais partindo de um piso comum de 10% a todos os produtos importados, independentemente da origem. Além da taxa-base, encargos adicionais de diferentes magnitudes irão incidir sobre cada país. Para a China, a sobretaxa é de 34%. União Europeia será taxada em 20%, Japão, em 24% e Brasil, 10%. Ao todo, 186 economias foram atingidas pelo tarifaço.

Como retaliação, a China respondeu com tarifas equivalentes, o que acirrou ainda mais a tensão, com efeito cascata de quedas na nas bolsas de valores ao redor do mundo, o que reacendeu a volatilidade nos mercados globais.

Erika Almeida, membro do CQC Economia e Finanças do Instituto Brasileiro de Executivo de Finanças (Ibef-ES), explica que esse movimento protecionista entre os países tem gerado impactos diretos nos mercados financeiros, com quedas nas bolsas e aumento da volatilidade. Além disso, ao alimentar pressões inflacionárias nos EUA, essas políticas podem levar o Federal Reserve (FED) – o banco central dos Estados Unidos – a adotar medidas de controle inflacionário, como o aumento das taxas de juros.

"Essa dinâmica cria um cenário desafiador: enquanto buscam fortalecer a indústria doméstica americana, as tarifas também podem desencadear recessão econômica e rupturas nas cadeias globais de suprimentos", afirma.

Erika Almeida afirma que no curto prazo, é provável que os mercados continuem enfrentando oscilações negativas. A incerteza gerada pela guerra comercial entre grandes potências econômicas torna os investidores mais cautelosos, especialmente diante de discursos mais rígidos ou novas retaliações tarifárias. Momentos como esses costumam ser marcados por volatilidade acentuada.

"Por outro lado, é importante lembrar que períodos de turbulência fazem parte do ciclo natural do mercado. Investidores com carteiras diversificadas e bem estruturadas tendem a atravessar esses momentos com mais tranquilidade e podem até identificar oportunidades em meio ao 'bear market' (mercado em baixa)", afirma.

Planejador financeiro fala sobre como proteger seus investimentos após instabilidades da bolsa
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Já o planejador financeiro Murilo Lacerda lembra que o cenário atual é uma repetição do primeiro mandato de Donald Trump. “Ele tem uma política econômica protecionista baseada em tarifação de produtos estrangeiros, especialmente os importados da China. Com isso, tenta forçar o consumo de produtos americanos", explica.

“O mercado não reage ao presente, ele se antecipa ao futuro. E como essas medidas impactam o lucro das grandes empresas, como Apple e Tesla, os investidores reagem vendendo ações antes que as perdas se concretizem”, detalha Murilo.

Outro ponto destacado por Marcel Lima, head Dados & Tendências Macroeconômicas do Ibef-ES, é que, mais do que qualquer crise, o mercado tem medo de incertezas. "Não saber, de fato, quais serão as tarifas e por quanto tempo estarão vigentes é algo que dá calafrios nos investidores. Nesse contexto, o futuro ainda é muito incerto, mas o aumento de tarifas em todo o mundo deve elevar os custos de produção nas cadeias globais de valor", afirma.

Lima acrescenta que aumento de custo se traduz em inflação e guerras comerciais elevam as tensões entre nações. "No curto prazo, o mercado reagiu negativamente e correções nos preços dos ativos (como as ações) são esperadas em algum momento. Por isso, os investidores devem ter muita cautela nesse momento de pessimismo generalizado, tanto para compra quanto para venda. É importante que o perfil de investidor seja sempre respeitado para mitigar qualquer atitude impulsiva", orienta.

Como proteger investimentos?

Diante desse cenário de instabilidade, Murilo Lacerda reforça que há maneiras de proteger o patrimônio — e até de aproveitar oportunidades escondidas na crise.

A principal estratégia, segundo ele, é a diversificação de carteira de investimentos. “A melhor defesa é espalhar o risco. Você pode dividir seus investimentos em diferentes classes: 60% em renda fixa, 10% atrelado à inflação, 5% em renda variável e uma pequena fatia até em criptomoedas, como o bitcoin”, recomenda.

Com a taxa Selic em 14,25%, Murilo aponta que a renda fixa brasileira oferece uma excelente rentabilidade real (descontada a inflação e impostos), chegando a quase 9% — a maior do mundo atualmente.

Ele alerta, no entanto, que é importante manter liquidez. “A renda fixa precisa permitir resgate rápido, para que o investidor possa aproveitar oportunidades na renda variável, como ações de empresas sólidas que estão muito desvalorizadas”, explica.

Exemplos não faltam: ações da Tesla caíram mais de 50%, e da Nvidia, mais de 40%, desde o aumento das tensões comerciais. “Hoje mesmo, a Nvidia subiu 5% em um único dia. Isso mostra que quem entra no momento certo pode ter ganhos expressivos”, disse.

Mesmo quem tem perfil mais cauteloso pode testar o mercado com pequenas fatias da carteira, mantendo a maior parte em aplicações mais seguras.

Já Erika Almeida lembra que historicamente, em períodos de incerteza econômica, investidores buscam ativos considerados mais seguros, como ouro, dólar e renda fixa. Criptomoedas também podem atrair fluxo comprador caso sejam vistas como ativos descentralizados e descorrelacionados dos demais mercados

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Para proteger o patrimônio líquido contra oscilações, é recomendável aumentar a exposição a ativos pós-fixados ou atrelados à inflação

Erika Almeida
Membro do CQC Economia e Finanças do Ibef-ES
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Ela orienta que, para aqueles com perfil exposto à renda variável, é essencial avaliar cuidadosamente se é o momento de reduzir essa exposição ou aproveitar oportunidades geradas por preços baixos no mercado. Consultar especialistas financeiros pode ajudar na tomada de decisão.

A especialista diz ainda que o foco deve estar em ativos que ofereçam maior previsibilidade e segurança. Exemplos incluem títulos públicos atrelados à inflação ou à taxa Selic no Brasil. Também vale considerar diversificação geográfica através de investimentos no tesouro americano ou outros ativos internacionais que reduzam riscos locais.

"Além disso, disciplina é fundamental neste momento. Manter uma estratégia clara e focada no longo prazo diferencia investidores que conseguem atravessar turbulências daqueles que se deixam levar pelas emoções do mercado. A diversificação e a análise cuidadosa são ferramentas essenciais para preservar o patrimônio em tempos incertos", aponta.

Com informações da Folhapress.

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