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Alunas denunciam machismo e bullying em escola privada de Vitória

Alunas denunciam machismo e bullying em escola privada de Vitória

Pais fizeram manifestação em frente a colégio. Eles relatam que meninas de 13 a 14 anos vêm sendo alvo de comentários sexistas e até racistas por colegas de classe

Vitória

Publicado em 9 de agosto de 2024 às 19:58

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
Imagem mostra pais protestando na quinta-feira (8) em frente ao Salesiano de Jardim Camburi por causa de bullying contra as filhas
Pais de alunos protestaram nesta sexta-feira (9) em frente ao Salesiano de Jardim Camburi por causa de bullying e cyberbullying contra meninas. (Ricardo Medeiros)
João Barbosa
Repórter / [email protected]

Xingamentos sobre o cabelo e o corpo de meninas de 13 e 14 anos levaram uma série de alunas a denunciarem violências que afirmam sofrer por garotos de classe, no Salesiano de Jardim Camburi. Os casos de bullying, segundo as estudantes e os responsáveis por elas, ultrapassam as paredes da escola e estão também em grupo de WhatsApp. Entre os comentários que as garotas alegam ouvir estão palavras machistas e até racistas.

Nesta sexta-feira (9), por volta de meio-dia, um grupo de mães e pais protestaram em frente ao colégio, reivindicando respeito. A manifestação contou com uma faixa contra o machismo e com um cartaz trazendo explicações sobre os vários tipos de agressões em que mulheres são vítimas.

O ato foi o segundo seguido na porta da escola. Na quinta-feira (8), outras mães foram ao local portando também cartazes e contando com um veículo com som alto, repetindo diversas vezes a frase: "bullying é crime". Em nota, a escola afirma combater veemente esses comportamentos dentro da instituição e que está tomando as providências necessárias para assegurar que a situação seja devidamente resolvida (confira resposta completa ao final da matéria).

A Gazeta conversou com algumas mães, que relataram que as filhas vêm sofrendo com comentários preconceituosos de alunos da instituição. Entre os apelidos, estão palavras que comparam as meninas a "animais de esgoto”. Em alguns casos são chamadas de “macacas” e até de criminosas.

Alunas denunciam machismo e bullying em escola privada de Vitória
Cartazes com mensagens contra machismo em escola de Vitória
Cartazes com mensagens contra machismo em escola de Vitória. (Ricardo Medeiros)

Por medidas de segurança e para preservar a identidade das vítimas que foram alvo de constrangimento, nem a imagem, nem os nomes dos responsáveis pelas adolescentes serão revelados. A reportagem também teve acesso à lista com os 37 'apelidos' que são colocados nas meninas, mas não vai revelar o conteúdo para evitar a perpetuação da violência.

As estudantes descobriram a origem das palavras ofensivas contra elas nos corredores da escola após um dos alunos emprestar o telefone para uma colega, que viu no WhatsApp as mensagens com o conteúdo pejorativo, segundo uma das mães entrevistas por A Gazeta.

Outra responsável diz estar indignada e cobra atitude do colégio. "Algumas meninas da escola têm sido alvo de comentários preconceituosos, sobre o corpo, cor da pele, cabelo e até os dentes delas. Os meninos fizeram um grupo em um aplicativo de mensagens, onde isso é espalhado", conta uma das mães, explicando que o ciberbullying deu origem a onda de ataques.

Os casos vêm sendo relatados desde o fim do ano letivo de 2023 pelas alunas, mas, neste ano, estão tomando proporções ainda maiores, segundo a mulher. "A escola teve algumas ações como palestras de conscientização sobre crimes cibernéticos, mas, pelo visto, isso não vem funcionando. Neste ano, as informações do grupo vazaram, prejudicando a saúde mental das meninas", complementa.

Aspas de citação

Algumas alunas até mudaram de escola, as que ficaram estão com o psicológico afetado, ficam sem comer, como se precisassem emagrecer a todo custo, tendo vergonha de si mesmas

X.
Mãe de aluna
Aspas de citação

Pais descobriram bullying após e-mail da escola

Cartazes com mensagens contra machismo em escola de Vitória
Cartazes com mensagens contra machismo em escola de Vitória. (Ricardo Medeiros)

Outra mãe explica que o caso só chegou ao conhecimento dos pais após um e-mail enviado pela escola, citando que “o desrespeito que alguns alunos têm demonstrado em relação às colegas é uma postura inaceitável para o colégio” e que a “participação nos grupos [de aplicativo de mensagens], mesmo sem interações diretas, pode ser considerada conivência com comportamentos inadequados”.

Na mensagem enviada, a escola esclarece que recebeu informações sobre comentários envolvendo o corpo e as características físicas das meninas, além de apelidos e trocadilhos com sobrenomes.

“Minha filha estuda nessa escola há mais de sete anos e a gente nunca havia passado por um problema dessa magnitude. Depois do e-mail, fui conversar com minha filha e imediatamente ela começou a chorar, me contando desse grupo onde os meninos falam do cabelo, do corpo, da cor da pele e da sexualidade das meninas”, diz a mãe.

Cartazes com mensagens contra machismo em escola de Vitória
Cartazes com mensagens contra machismo em escola de Vitória. (Ricardo Medeiros)

A mulher chegou a ir até o colégio após conversar com a filha, porém, até a tarde desta sexta-feira, diz que não recebeu nenhum suporte da instituição de ensino. “São crianças, meninas sensíveis. E aí pense quando um grupo de meninos da mesma idade delas se junta e faz essa espécie de comentário? Nós, enquanto mães, ainda estamos de mãos atadas”, finaliza a mulher.

O que diz a escola?

Diante dos relatos, a reportagem de A Gazeta procurou pela administração do Colégio Salesiano. Por meio de nota, a instituição de ensino informou que manifesta “sua posição firme e comprometida em relação a toda e qualquer situação de bullying e cyberbullying envolvendo alunos”. No entanto, a escola não esclareceu quais medidas serão adotadas contra as atitudes dos garotos.

Imagem mostra pais protestando na quinta-feira (8) em frente ao Salesiano de Jardim Camburi por causa de bullying contra as filhas
Imagem mostra pais protestando na quinta-feira (8) em frente ao Salesiano de Jardim Camburi por causa de bullying contra as filhas. (Leitor de AG)

O que diz a escola

"Destacamos que, embora o Colégio Salesiano combata veementemente o bullying em todas as suas formas, o cyberbullying é a modalidade de bullying realizado em espaço virtual, por meio de tecnologias digitais. Esse tipo de assédio inclui ações como enviar mensagens ofensivas, espalhar boatos, compartilhar fotos ou vídeos embaraçosos sem consentimento, e pode ocorrer em redes sociais, aplicativos de mensagens ou qualquer outra plataforma online.

O cyberbullying está além do controle direto da nossa Instituição, pois é realizado através de celulares particulares e em plataformas digitais externas ao ambiente escolar. Estamos tratando este caso com a máxima seriedade e transparência, tomando todas as providências necessárias para assegurar que a situação seja devidamente resolvida, resguardando o sigilo e a integridade de nossos educandos

Além disso, a Instituição está prestando todo o suporte necessário às famílias envolvidas, reforçando a importância de um diálogo aberto e construtivo, sempre à luz dos valores cristãos. Por isso, enfatizamos que o monitoramento das atividades online dos menores, especialmente nas redes sociais, é uma responsabilidade primordial dos pais e responsáveis. Cabe aos pais supervisionar e orientar seus filhos sobre o uso adequado das tecnologias digitais, garantindo que eles estejam cientes das consequências de suas ações no ambiente virtual.

A Instituição de ensino, por sua vez, desempenha um papel de orientação e conscientização, educando os alunos sobre o uso responsável da internet e promovendo valores como o respeito e a empatia."

Componente de Arquivos & Anexos Arquivos & Anexos

Confira nota da escola na íntegra

Escola esclarece as recentes situações de cyberbullying envolvendo alunos da instituição

Tamanho de arquivo: 95kb

Como o caso envolve crimes como cyberbullying e racismo, a Polícia Civil do Espírito Santo (PCES) também foi procurada para que pudesse informar se alguma investigação sobre o ocorrido está em curso. Entretanto, a corporação disse que para verificar se há investigação em curso é necessário ter um número de boletim de ocorrência.

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