O cenário era de filme de terror. A kitnet em que o casal Celina Conceição Braz e Rodrigo Costa da Silva morava, em Rio Marinho, Cariacica, tinha sangue nas paredes e até no teto dos cômodos. As marcas da violência também estavam nos móveis e vidro da janela, que estavam quebrados. Quem via de fora, pensava que uma briga envolvendo várias pessoas tinha acontecido ali. Mas, na verdade, era como havia ficado o local em que Celina tinha sido espancada até a morte pelo marido.
O crime aconteceu no dia 12 de junho de 2020, na noite do Dia dos Namorados. Mais de três anos depois, Rodrigo vai a júri popular, nesta quarta-feira (2). A expectativa da família é que ele pegue pena máxima. "Espero que a justiça seja feita, que ele fique preso e pegue muitos anos de cadeia", desabafou Quetzia Santos Braz, irmã de Celina.
Em nota, o Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), por meio da Promotoria de Justiça Criminal de Cariacica, informou que "a expectativa é de condenação do réu conforme as provas apresentadas nos autos do processo, para que haja uma resposta aos familiares da vítima e a toda sociedade capixaba".
A reportagem não localizou a defesa de Rodrigo para comentar sobre o julgamento. O espaço segue aberto.
A brutalidade como a atendente foi morta deu repercussão ao caso. Tudo começou por volta das 23h, quando vizinhos começaram a ouvir uma discussão entre o casal. Os gritos duraram cerca de duas horas, quando o silêncio pairou.
À época, ao invés de ligarem para a polícia, vizinhos mandaram mensagens de áudio e acionaram o dono do terreno onde ficavam as kitnets, relatando sobre a briga. Como era de madrugada, o proprietário estava dormindo.
No dia seguinte, quando acordou, ele viu as mensagens e foi até o local, preocupado, por volta das 7h. Chegando lá, o homem encontrou Rodrigo sentado na cama, ao lado do corpo da mulher.
Assustado, ele saiu da casa e acionou a Polícia Militar e o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu/ 192). Enquanto o proprietário fazia as ligações, Rodrigo tentou fugir. Ele se escondeu atrás da escada de um imóvel vizinho, mas acabou preso.
À época, Quetzia contou que o relacionamento da irmã com Rodrigo tinha dois anos, entre idas e vindas, e que o suspeito já tinha sido preso por agredir a esposa.
"Ela tinha um coração muito bom e acreditava que as pessoas poderiam ser melhores. Me disse que Rodrigo não tinha ninguém, que queria trabalhar e me pediu ajuda de emprego em Vitória. Eu ajudei. Consegui um emprego pra ele como pedreiro, emprego que ele ficou até o dia que matou minha irmã. Só depois fui saber que havia um histórico de violência na relação com o Rodrigo e que ele até ficou preso alguns meses por bater nela. As brigas eram sempre por ciúmes. Ela deu oportunidade, acreditou nele e foi embora pelas mãos dele", relatou Quetzia.
Natural de Ilhéus, na Bahia, e mãe durante a adolescência, Celina precisou começar a trabalhar cedo para tentar dar o melhor para a filha, à época do crime com 11 anos. Com o sonho de pagar uma escola particular para a menina, que morava com a bisavó no estado baiano, a jovem veio para o Espírito Santo havia cinco meses em busca de um emprego.
"Em Ilhéus, emprego é muito difícil. Ela já tentou outras vezes emprego no Espírito Santo. Não tinha medo de trabalhar, aceitava tudo, entregava panfleto, trabalhou em restaurante... Já fez de tudo por um único sonho: queria trabalhar para ajudar nossa avó a criar a filha dela, queria pagar uma escola particular para a menina e levá-las para Vitória também. Ela sonhava em ser feliz, ter um lar, cuidar da filha e da vó, ela tinha um coração imenso", disse.
Apesar de trabalhar desde cedo, Celina só conseguiu o primeiro emprego de carteira assinada poucos dias antes de ser morta. Animada e nervosa, ela contou a novidade em mensagens no grupo da família no dia da entrevista e enviou uma foto com a roupa que escolheu: "Tá feio? Fala, gente. Será que de tênis fica melhor? É um treme treme que dá ódio em mim mesma. Tá me dando dor de barriga. Tá quase na hora. Cheguei agora". No fim do mesmo dia, comemorou enviando a mensagem: "Passei".
"Ela estava muito nervosa e ficou super feliz em passar. Abriu conta no nome dela, fez os exames e ia trabalhar na área dos frios de um supermercado. Quando ela viu que ia ganhar um salário mínimo ficou toda boba, perguntando: 'É sério que eu vou ganhar mais de mil reais? Mentira!' Ela fez uma lista do que ia fazer com o primeiro salário, disse que ia enviar dinheiro para a filha e que ia me dar um presente, porque fui eu que consegui o emprego. Fez cabelo, unha e estava animada. Ela era tão sorridente e iluminada", lembrou a irmã.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta