Aos 36 anos, Elizângela Teixeira de Lacerda da Silva tinha seus momentos de voltar à infância e brincar na rua, com as filhas e as crianças da vizinhança, e também responsabilidades de adulta, cuidando do pai. De uma forma ou de outra, a alegria estampava o rosto da babá, que era reconhecida e querida em Castelo Branco, bairro em que morava no município de Cariacica. Mas a sua história foi interrompida brutalmente no último sábado (20), quando foi assassinada a facadas em casa.
O suspeito é o namorado Cleomar de Miranda Gonçalves, cuja identidade não havia sido informada pela polícia, mas tornou-se conhecida na audiência de custódia realizada pela Justiça. Ele foi preso em flagrante no mesmo dia do crime, após se apresentar e confessar, e autuado por feminicídio - tipificação para os casos em que a mulher é assassinada devido ao gênero. Nesta segunda-feira (22), o Judiciário converteu o flagrante em prisão provisória.
No Espírito Santo, em janeiro, sete mulheres foram mortas e em dois dos casos o feminicídio já foi confirmado, conforme levantamento da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) atualizado até o último dia 18.
Elizângela, aos olhos de uma cunhada que preferiu não ser identificada, era amiga para todas as horas, alegre, divertida e sempre disposta a ajudar a quem precisasse. "Ela era uma ótima pessoa. Todo mundo gostava muito dela, era conhecida por todos no bairro", descreve a cunhada.
Sem trabalho formal desde que foi dispensada devido à pandemia da Covid-19, Elizângela levou para casa sua habilidade com as crianças. Segundo a cunhada, passava horas assistindo filmes com as filhas, de 9 e 16 anos, e também com a garotada da vizinhança e da família. A casa vivia sempre cheia. Isso quando não ia para a rua brincar de pique-bandeira, jogar bola. "Ela sempre inventava alguma coisa para se divertir e divertir quem estivesse com ela", ressalta.
Morando próximo ao pai, que é viúvo, Elizângela diariamente cuidava dele e até lhe fazia o almoço. "Era muito companheira e ele está muito abatido com a morte da caçula", conta a cunhada.
Na verdade, o assassinato de Elizângela ainda não foi assimilado por ninguém da família. A cunhada diz que não convivia com o casal, e também não tinha nenhuma informação que pudesse indicar que o namorado da babá iria agredi-la. Agora, a preocupação é com as filhas da Elizângela que, a princípio, devem ficar morando com a tia, pois o pai vive na Bahia.
Foi a caçula de Elizângela, uma menina de 9 anos, que encontrou o corpo da mãe, no banheiro de casa. Eram 5h30 quando a criança acordou e avistou a maçaneta do cômodo em cima do fogão. Ela a colocou no lugar, e conseguiu abrir a porta. Ao se deparar com a cena, correu para pedir ajuda, mas quando o socorro chegou, a babá já estava morta.
Horas depois, a equipe da Delegacia Regional de Cariacica prendeu o namorado, um homem de 37 anos, como suspeito do crime. Familiares de Elizângela já tinham informado que ele havia passado a noite na casa da babá e saído do local pela manhã. Como sabia que estava sendo procurado e, temendo ser linchado por populares que conheciam a vítima, procurou a polícia e se entregou.
Após a publicação desta matéria, que apontava que o nome do suspeito não havia sido informado pela polícia, o Judiciário realizou audiência de custódia, e o identificou como Cleomar de Miranda Gonçalves. O texto foi atualizado.
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