Aos 48 anos, uma dona de casa capixaba passou mais da metade da vida sob ameaças constantes e agressões físicas. Vítima de um relacionamento abusivo por quase três décadas, e sem rede de apoio, ela precisou fugir para sobreviver. Desde 2020, após o ex-marido tentar matá-la, ela se esconde em outra cidade. O nome dela e o local onde vive não serão revelados para garantir sua segurança.
Com voz trêmula, essa mulher revelou à reportagem que ainda tem crises de pânico por conta do terror que passou enquanto ainda era casada.
A violência praticada pelo ex-marido não encontrava limites. Os primeiros abusos começaram quando a dona de casa estava grávida, com seis meses de gestação. “Os xingamentos eram constantes", relembra.
A realidade no país demonstra que a violência doméstica começa, muitas vezes, com insultos que evoluem para agressões físicas e, nos casos mais graves, feminicídio.
As agressões verbais à dona de casa vieram acompanhadas de traições, o que fazia aumentar o sofrimento e o sentimento de abandono. Foram anos vivendo nessas condições e, nem mesmo quando o filho caçula morreu afogado aos 15 anos, ela não teve trégua.
Para tentar se livrar do relacionamento abusivo, a dona de casa decidiu fazer um curso de técnico em Enfermagem. Assim, poderia trabalhar e conquistar sua independência financeira. Após iniciar os estudos, começaram as agressões físicas, com tapas, chutes e socos.
A situação era tão dramática que extrapolou os muros da casa em que viviam. Com tantas confusões, vizinhos denunciaram o agressor e chamaram a polícia. No entanto, o chefe do ex-marido da capixaba pediu que ela retirasse a queixa, por se tratar de seu melhor funcionário. Sentindo-se acuada, a dona de casa atendeu o pedido.
Mesmo assim, tentou prosseguir com o curso, mas, perto de concluí-lo, foi obrigada a abandonar os estudos. Ela não tinha qualquer ajuda para estudar, e ainda era ameaçada e agredida pelo ex-marido por tentar seguir uma nova vida.
Mais de uma vez a dona de casa denunciou as agressões, porém seguia sentindo-se insegura. Até que o ex-marido, numa noite, ao chegar em casa embriagado, a agarrou pelo pescoço e a sufocou, tentando matá-la. As marcas da agressão ficaram como a lembrança de um momento doloroso que ela quer esquecer. Foi, então, que fugiu para nunca mais voltar ao antigo endereço.
“De onde ele estava, ameaçava minha mãe e dizia que ela faria meu velório”, desabafa.
A jornada da capixaba também evidencia outros problemas que corroboram para o ciclo de violência. “Muitas vezes, as vítimas não conseguem encontrar emprego, não têm apoio, o que as força a voltar ao convívio com seus agressores", constata a dona de casa, ao acrescentar: ”As mulheres que sofrem agressão física, geralmente não têm nem um tipo de ajuda, são muito discriminadas.”
A dona de casa admite que ainda tem esperança de encontrar um novo amor, apesar de não ter se relacionado com mais ninguém após o término de seu casamento. Ela ainda tem medo do que possa acontecer, resultado de anos de opressão e abusos.
Atualmente, a capixaba vive sozinha e sobrevive de seu trabalho no campo. “Eu trabalho na roça e recebo o dia, é o mínimo para sobreviver”, conta.
Questionada sobre o que diria a mulheres que hoje vivenciam o mesmo drama da violência, a dona de casa ressalta a importância de denunciar os agressores. "Muitas vezes a mulher não consegue apoio nem da própria família que deveria apoiá-la, então é importante pedir ajuda.”
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