A presença de mulheres em posições de liderança, a luta contra o machismo no mercado de trabalho e o papel das empresas na promoção da equidade de gênero foram temas abordados durante live realizada pelo Todas Elas na noite desta terça-feira (18). Durante a conversa, as participantes destacaram que é necessário rever toda a cultura no ambiente corporativo para levantar a bandeira da inclusão e que o próprio mercado ganha ao apostar na diversidade e igualdade de gênero.
Com mediação da jornalista Elis Carvalho, a roda de conversa virtual contou com a presença da atriz e fundadora do Instituto Donas de Si, Suzana Pires; da vice-governadora do Espírito Santo, Jaqueline Moraes; da gerente do programa Ganha-Ganha da ONU Mulheres, Tayná Leite; e da gerente-executiva de Gente e Gestão da Suzano, Fabiana Piva. Reveja abaixo:
Durante o encontro, as participantes relataram episódios de machismo que viveram durante a trajetória profissional, abordaram a importância de se discutir a baixa representatividade feminina em ambientes de poder – sejam eles políticos ou coorporativos – e responderam perguntas sobre o que pode ser feito para mudar essa realidade.
A atriz continuou: "Pelo contrário, essas empresas vão lucrar mais, vão fazer produtos com mais saída, porque vão ter conceitos da sociedade inteira e não só um recorte. Todo mundo ganha. Estudos mostram que a empresa cresce entre 10 e 25% quando ela aposta na pluralidade".
A percepção é a mesma da gerente de Gente e Gestao da Suzano, Fabiana Piva. Segundo a executiva, a empresa enxerga o impacto que pode ter nesse cenário e aposta na inclusão e na equidade, traçando metas para aumentar a pluralidade no ambiente de trabalho.
"A pluralidade nos fortalece. Temos a inclusão como vetor da nossa capacidade de inovar com sustentabilidade. Estamos em uma jornada clara de desenvolvimento, num exercício de entender o que podermos fazer e quais são os próximos passos", garantiu.
Os próximos passos precisam estar focados, principalmente, na inclusão das mulheres em cargos de liderança, segundo Tayná Leite, que atua no programa Ganha-Ganha da ONU Mulheres. Ela ressaltou que nos últimos anos houve um aumento expressivo de mão de obra feminina no mercado de trabalho, mas que o avanço se estagnou na última década e não chegou aos cargos de liderança.
"A inserção massiva não se refletiu no aumento de representatividade nas posições de liderança e poder. Temos um número que praticamente estagnou em 2010 e que vem retrocedendo, assim como na participação política e na pesquisa não há avanços no ritmo que tivemos de entrada das mulheres no mercado. Por isso é tão importante que as empresas se comprometam a agir com metas. A gente já entrou, agora precisamos afunilar e ter representatividade nas posições de poder e liderança", pontuou.
Tendo trilhado uma carreira no setor privado, Tayná Leite relatou que durante boa parte de sua trajetória era uma "defensora ferrenha" da meritocracia e não enxergava as violências que sofria nos ambientes de trabalho. Tudo mudou quando ela chegou a um cargo de liderança. "No setor privado, infelizmente, as mulheres estão imbuídas no dia a dia sofrendo micro e macro violências que muitas vezes não são nomeadas como tal", pontuou.
Entre essas violências estão episódios de assédio e descrédito, somados a uma sobrecarga imposta pelas muitas jornadas de trabalho.
Suzana Pires ressaltou que a porcentagem de mulheres que começam uma empresa no Brasil é superior a de homens, mas que elas respondem pela maior parte dos empreendimentos que fecham em apenas três anos.
"A mulher precisa dar conta de uma tripla jornada, então ela tem uma sobrecarga muito alta, essa sobrecarga precisa ser trabalhada interiormente para fortalecer essa mulher para que ela diga não para o outro e sim para si mesma. E isso é uma coisa que precisamos escolher, porque não somos criadas para isso. Somos criadas para agradar. A segunda problemática são as opressões, pequenas violências no dia a dia que passam a mensagem de que o ‘universo não me quer ali’ e a solidão porque pensam que estão sozinhas", disse a atriz.
Assim como nas empresas, as mulheres também são minorias nos espaços de poder político. Primeira mulher a ocupar o cargo de vice-governadora do Espírito Santo, Jaqueline Moraes (PSB), contou sobre sua trajetória difícil e os episódios de machismo que enfrentou antes e depois de alcançar esse espaço.
"É importante dizer que as mulheres lutaram por 100 anos para votar e só votamos há 80 anos. Se lançar na opinião pública não é coisa fácil. As mulheres não podem errar e na política você fica estigmatizada se errar, não é a mesma coisa para o homem. Esse peso de não poder errar nós não podemos carregar".
Mas a realidade pode ser transformada, inclusive com ações governamentais. Moraes ponderou que com políticas públicas e educação é possível convencer mais mulheres a entrarem nos espaços políticos. "Trabalhamos em três frentes, do empreendedorismo, do empoderamento e do incentivo à cultura. E como poder público, temos a inovação de trabalhar o tema da ocupação dos locais de poder e de fala por mulheres. Convencê-las de que elas precisam ocupar os lugares na política", assinalou.
As palestrantes também destacaram a importância de trazer para o debate os homens, que ainda são maioria nos espaços de poder e, por isso, têm em suas mãos a possibilidade de agir para mudar a realidade. "Os homens da política precisam entender que muitas mudanças que vão passar nas mãos deles, porque são maioria, precisam acontecer", finalizou a vice-governadora.
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