Celebrar aniversário, na maioria das casas, é sinônimo de alegria e festa, mas a celebração neste 7 de agosto não vem acompanhada de balões e bolo, e sim de histórias de coragem. A Lei Maria da Penha completa 16 anos desde que foi sancionada em 2006, permitindo a inúmeras mulheres encontrar uma saída para quebrar ciclos de violência e começar uma nova vida.
Girlandia Conceição dos Santos
Assistente social e vítima de violência
"Desde 2006, a lei é uma ferramenta importante para combater a violência contra a mulher, mas muito ainda precisa ser feito."
Quem diz isso é uma mulher que viu, de perto, como a violência doméstica pode destruir vidas. A assistente social Girlandia Conceição dos Santos, hoje com 49 anos, é uma mulher independente e feliz, mas nem sempre foi assim. Ela precisou vencer muitas batalhas para conquistar sua liberdade.
Girlandia Conceição dos Santos
Assistente Social e vítima de violência
"Minha mãe e a minha irmã foram vítimas de feminicídio. Eu quase fui a terceira vítima, mas consegui escapar."
Aos oito anos de idade, quando era uma criança, Girlandia presenciou o assassinato da mãe, morta a facadas pelo pai. Na época, o jornal A Gazeta noticiou o fato, dando detalhes do crime. Girlandia e os irmãos viram tudo. Em 1980, não existia o termo feminicídio e nenhuma lei que protegesse, especificamente, as mulheres vítimas de violência.
Girlandia Conceição dos Santos
Assistente Social e vítima de violência
"Na década de 80, quem mandava na mulher era o homem. Meu pai desapareceu, nunca foi preso. Só tive notícias dele muito tempo depois, soube que ele faleceu. A última vez que o vi foi quando assassinou minha mãe."
Em meados dos anos 90, ela começou um relacionamento, sem saber que a sina se repetiria. Na mesma época, perdeu a irmã, também vítima de feminicídio.
Girlandia passou anos sendo violentada dentro de casa. “Tive um agressor na minha vida por mais de 10 anos, ele me violentava de todas as formas. Ele não bebia e nem usava drogas, ele tinha o prazer de me fazer mal”, relata a assistente social.
Os familiares diziam que ela teria o mesmo fim da irmã e da mãe. Ela conta que, na última vez que apanhou do ex-marido, vizinhos a tiraram de casa. “Ele ia me matar. Eu não fugi, me salvaram e chamaram a polícia. Depois disso, resolvi reagir”, desabafa.
Já depois dos anos 2000, denunciou o ex-marido e, desde então, tem medida protetiva contra ele.
Girlandia Conceição dos Santos
Assistente Social e vítima de violência
"Precisei ir até a Justiça porque, mesmo separada, ele achava que era meu dono. Sobrevivi, infelizmente minha mãe e minha irmã não tiveram a mesma chance."
Atualmente, Girlandia tem um novo relacionamento e, de alguma forma, recomeçou a vida. Em outubro ela vai completar 50 anos de idade, e celebra lutando pelos direitos das mulheres, participando de movimentos que defendem a liberdade.
MÃE E FILHA LUTAM JUNTAS CONTRA O MACHISMO
A luta da Bruna e da Brida é a mesma. Mãe e filha carregam lembranças de dias ruins, mas utilizam isso para ajudar a encorajar e proteger vítimas de violência doméstica. Brida Nalesso Madureira nasceu de um relacionamento violento. A mãe dela, Bruna Nalesso, precisou fugir quando Brida tinha apenas 2 anos de idade, para salvar as duas.
Bruna Alves Nalesso
Empreendedora e vítima de violência
"Tive coragem de fugir por causa da minha filha, não queria que ela passasse pelas atrocidades que eu passei. Pensava nela, não em mim. Fugi para reconstruir minha vida, fui embora só com a roupa do corpo e minha filha nos braços."
A principal preocupação de Bruna sempre foi educar e prevenir a filha. Ela acredita que para evitar novas vítimas de agressões, as mulheres precisam se unir e falar sobre o que passam nos relacionamentos. Hoje, ela conta sua história com incentivo da filha para tentar salvar vidas.
Na opinião de Brida, para combater a violência contra a mulher é necessário conscientizar as novas gerações.
Brida Nalesso Madureira
Estudante
"Minha mãe sempre me contou tudo que sofreu e eu não quero passar pelo que ela passou. Terminei com meu primeiro namorado a partir do momento que ele gritou comigo."
Brida explica que encoraja a mãe a contar sua história porque isso pode abrir os olhos de outras mulheres. "Tenho muito orgulho da minha mãe. Não podemos ficar caladas. Ficar calada não vai mudar nada, temos que levantar a voz. Quem já sofreu violência e também quem não passou. Falar sobre problema mostra que ele existe e ajuda outras mulheres", fala a estudante.
A Girlandia (49 anos) , a Bruna (38 anos) e a Brida (16 anos) representam três gerações de mulheres que sofreram, superaram e hoje combatem a violência contra a mulher. Elas têm em comum a luta diária a favor da liberdade de poder viver em segurança. Elas lutam por punições mais severas aos agressores, redes de apoio que funcionem e sonham com a erradicação do feminicídio.
OS NÚMEROS DA LEI MARIA DA PENHA NO ES
Nos últimos seis anos, mais de 115 mil ocorrências relacionadas à Lei Maria da Penha foram registradas nas delegacias capixabas, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo.
50 mulheres
POR DIA RECORREM À LEI MARIA DA PENHA NO ESPÍRITO SANTO
De 2016 até 2022, o número de registros cresceu 60%. Isso significa que mais mulheres estão denunciando seus agressores. Cada denúncia é um grito de socorro que a lei faculta, mas que infelizmente, muitas vezes não é ouvido. Nesse mesmo período, 224 feminicídios aconteceram no Estado.
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