O Espírito Santo já atingiu a marca de 60% da população adulta vacinada com pelo menos a primeira dose da vacina contra o coronavírus. E com a perspectiva de atingir a imunidade coletiva até o fim do ano, o Estado já prepara os próximos grupos que serão vacinados. Entre eles estão as grávidas e mulheres que amamentam.
Em meio ao cenário pandêmico, a notícia é especialmente positiva. As mamães agora têm a expectativa de que um dos efeitos do imunizante contra a Covid-19 seja passar anticorpos para os bebês e até para crianças que estão em amamentação prolongada, ou seja, aquelas que são maiores de 2 anos.
Segundo a enfermeira obstetra e consultora de aleitamento materno, Rosana Lima, as mulheres grávidas e lactantes podem e devem se vacinar.
Para Rosana, o período mais importante para que esses anticorpos sejam passados são os primeiros dias de vida do bebê. O chamado colostro, o primeiro leite que a mulher produz para amamentar durante os primeiros 7 dias após o parto, tem papel fundamental no desenvolvimento do sistema imunológico do bebê.
Mas o caso citado pela enfermeira, que aconteceu em Santa Catarina, foi de uma criança de 2 anos e 2 meses, que adquiriu anticorpos contra a Covid-19 por meio da amamentação após a mãe, Maryucha Miranda de Oliveira, de 38 anos, ter sido imunizada com duas doses da Astrazeneca.
“Ainda que esses estudos sobre a imunização contra o coronavírus através da amamentação existam, eles são poucos e recentes, então não existem evidências de até que idade as crianças podem receber anticorpos contra a Covid através do leite materno'', explica Rosana. Mas, casos como o do menino de Santa Catarina já revelam que os benefícios podem se estender para além dos recém-nascidos.
Ela destaca que um fator que pode beneficiar o bebê é o tempo de amamentação. Muito mais do que alimentar, já está comprovado por estudos científicos que o aleitamento materno contribui para reforçar a imunidade da criança.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta que a amamentação seja exclusiva até os 6 meses de vida da criança e se estenda até os 2 anos ou mais. No Brasil, a média é de 54 dias de aleitamento exclusivo.
Nesse cenário, a vacinação das mamães e a passagem dos anticorpos para os bebês pode se tornar mais um motivo para prolongar o aleitamento. “O bebê não nasce pronto, ele precisa de muito tempo de amamentação para se desenvolver. Por isso, é muito importante que a imunização esteja relacionada com a lactação e com o tempo em que se amamenta'', afirma Rosana.
E foi justamente pensando nos benefícios de proteção contra a Covid-19 que o leite materno pode trazer que a jornalista Andreia Foeger, 32 anos, decidiu estender a amamentação da filha Beatriz até os 2 anos de idade da menina.
A jornalista foi vacinada no dia 13 de julho. O momento da imunização, que vem sendo aguardado e comemorado em todo mundo, tem uma importância ainda maior para Andreia.
“Quando se tem um filho, você dá a vida por ele. Mas em uma pandemia você precisa se proteger para que a criança também fique protegida. Por isso, para as mães, principalmente as lactantes, é tirar um peso das costas'', afirma.
Andreia descobriu a gravidez na virada do ano de 2019 para 2020. Ela passou boa parte da gestação e todo o período após o nascimento da filha em casa.
Para ela, a única ressalva é que a imunização não tenha chegado antes para ela e outras lactantes. “Eu via outros Estados vacinando lactantes e ficava naquela expectativa. Eu lamento não ter sido vacinada antes por que como doadora de leite, eu poderia proteger a vida de outros bebês além da minha filha'', conta.
No Estado, a vacinação de grávidas e lactantes começa em agosto. Segundo informações do governador Casagrande, reiteradas pelo secretário de Saúde Nésio Fernandes nesta segunda-feira (12), as mulheres serão vacinadas com a Coronavac, do laboratório Sinovac/Butantan.
Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com 20 mulheres, imunizadas com a Coronavac, apontou a presença de anticorpos contra o novo coronavírus no leite materno das voluntárias.
As voluntárias são funcionárias do próprio hospital da universidade. Elas são mães e ainda amamentavam quando foram vacinadas. Os teste foram refeitos depois de quatro meses da imunização e em 50% dos casos os anticorpos permaneceram no leite materno.
Em junho, foi divulgado o resultado do estudo espanhol chamado MilkCorona, iniciativa liderada pelo Instituto de Agroquímica e Tecnologia de Alimentos do Conselho Superior de Pesquisa Científica ( IATA-CSIC ) e pelo serviço de pediatria do Hospital Clínico de Valência. O objetivo era avaliar o impacto da vacinação no leite materno.
Segundo o governo da Espanha, o estudo comparou os efeitos de três vacinas. Foram analisadas 75 lactantes vacinadas com diferentes tipos de imunizantes: 30 com vacinação Pfizer/BioNTech completa, 21 com a Moderna completa, e 24 com a primeira dose de Oxford/Astrazeneca. Em todos os casos, foram encontrados anticorpos contra a Covid-19 no leite materno.
O ginecologista e obstetra Henrique Zacharias Borges Filho explica que os estudos ainda engatinham, já que todas as decisões para a imunização são feitas de modo emergencial, com o objetivo de salvar vidas. Mas para ele, não há dúvidas sobre a importância da vacinação para que as vidas de mães e bebês sejam preservadas.
A doença já causou 1.090 óbitos nesse grupo de mulheres, segundo dados do Ministério da Saúde. Um estudo divulgado em junho pela Fiocruz revela que o Brasil figura com o maior número de óbitos de gestantes e puérperas, com uma taxa de letalidade de 7,2%, mais que o dobro da atual taxa de letalidade do país, que é de 2,8%.
Rosana Lima também reforça a importância da vacina para salvar vidas. “Muitos países já vacinaram grávidas e lactantes, então nós já sabemos que não causa nenhuma lesão para o feto ou criança que está sendo amamentada. Além dos benefícios de proteção para as mulheres e os bebês'', conclui.
Graças aos inúmeros fatores existentes no leite materno que protegem contra infecções, ocorrem menos mortes entre as crianças amamentadas. Estima-se que o aleitamento materno poderia evitar 13% das mortes em crianças menores de 5 anos em todo o mundo.
O leite materno é rico em agentes de proteção. Por conta disso, mesmo após a criança começar a comer alimentos sólidos e líquidos, ele continua a fortalecer o sistema imunológico, diminuindo assim as chances de várias doenças. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, estudos mostraram que crianças não amamentadas, no segundo ano de vida, têm mais chance de morrer por doenças infecciosas se comparadas a crianças submetidas à amamentação prolongada.
A proteção do leite materno contra infecções respiratórias foi demonstrada em vários estudos realizados em diferentes partes do mundo, inclusive no Brasil. A amamentação também diminui a gravidade dos episódios de infecção respiratória.
A OMS publicou estudos que afirmam que os indivíduos amamentados apresentaram pressões sistólica e diastólica mais baixa, níveis menores de colesterol total e risco 37% menor de apresentar diabetes tipo 2. Não só o indivíduo que é amamentado adquire proteção contra diabetes, mas também a mulher que amamenta.
Na avaliação da OMS sobre evidências do efeito do aleitamento materno em longo prazo, os indivíduos amamentados tiveram uma chance 22% menor de vir a apresentar sobrepeso/obesidade. Além disso, a obesidade também pode estar relacionada a duração do aleitamento materno, ou seja, quanto maior o tempo em que o indivíduo foi amamentado, menor será a chance de ele vir a apresentar sobrepeso/ obesidade.
O leite materno contém todos os nutrientes essenciais para o crescimento e o desenvolvimento da criança pequena, além de ser mais bem digerido, quando comparado com leites de outras espécies. O leite materno é capaz de suprir sozinho as necessidades nutricionais da criança nos primeiros seis meses e continua sendo uma importante fonte de nutrientes no segundo ano de vida, especialmente de proteínas, gorduras e vitaminas.
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