Numa economia que gradativamente abre espaço para o público feminino, o número de empreendedoras está ganhando escala. Hoje, no Espírito Santo, estão perto de 200 mil à frente de pequenos negócios. São mulheres que foram atrás de sonhos e de transformar realidades. Neste processo, o compartilhamento de experiências e o fortalecimento conjunto são práticas fundamentais.
A importância dessas conexões foi um dos pontos de debate do “Papo do Ano – Mulheres que Inspiram”, evento com a participação do Todas Elas, de A Gazeta, que discutiu negócios, empreendedorismo e liderança feminina em Vitória, nesta quinta-feira (26).
Promovido pelo Papo de Quinta, grupo capixaba que fomenta o empreendedorismo feminino, o evento reuniu mulheres empreendedoras e líderes em suas áreas de atuação para trocar conhecimentos.
Um dos painéis foi mediado pela editora-chefe de A Gazeta e coordenadora do Todas Elas. Elaine Silva frisou que a troca de vivências acaba inspirando outras mulheres, e lhes impulsionando a persistir, apesar das adversidades diárias.
“A gente cobre, sempre cobriu, muita violência contra mulher, mas, de um tempo para cá, as coisas têm virado, graças a Deus, e a gente não vê só história ruim, mas também notícia boa, notícia de empoderamento, de valorização de gênero, de igualdade, da possibilidade da mulher ser o que ela quiser.”
Para a empresária e designer de joias capixaba Emar Batalha, que também participou do painel, mulheres precisam apoiar outras mulheres.
O ponto foi defendido também pela escritora e mentora de autoconhecimento Alê Vasques, que disse acreditar que “ao lado de cada mulher de sucesso há uma tribo de mulheres que a protegem."
Ela refletiu, porém, que esse apoio, e até mesmo a reivindicação dessa posição de liderança, que cada vez mais mulheres vêm alcançando, passam, antes, por uma jornada de autodescoberta.
“A jornada de liderança mais poderosa começa com a autodescoberta. Para eu ser líder de um time, para eu ser líder de pessoas, preciso ser líder de mim mesmo, e o autoconhecimento é um processo que nos entrega todas as ferramentas (necessárias).”
Uma provocação semelhante é feita por Josy Santos, especialista em negócios liderados por mulheres e membra da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Espírito Santo (ABRH-ES).
“Perdi minha mãe assassinada aos 13 anos. Fui criada pelos meus tios e vi a minha vida ser transformada por meio da educação e do empreendedorismo. Minha tia, que um dia foi lavadora de roupa e bordadeira, hoje comanda um negócio que emprega mais de 40 pessoas. Meu tio também vem desse contexto", ressalta Josy, acrescentando que, por ter vivido nesse meio, e sabendo que vive num país de desigualdades, em que muitas vezes o empreendedorismo surge por necessidade, decidiu dedicar-se aos estudos e adquirir conhecimentos que lhe permitissem ajudar mulheres em situação semelhante.
Cofundadora do Papo de Quinta, junto a Flávia Herkenhoff, Juliana Zaganelli frisou que o projeto surgiu justamente com o propósito de fomentar o empreendedorismo e a liderança feminina no Estado.
“Hoje, mais de 195 mil mulheres estão à frente de pequenos negócios do Espírito Santo, conforme o Sebrae. Mesmo assim, sempre achei difícil a troca (de conhecimentos e experiências) entre as mulheres com quem eu me relacionava, que eram as minhas amigas. Isso me angustiava. Eu queria mais, queria que a gente pudesse somar, crescer e aprender.”
Há cinco anos, o projeto realiza encontros mensais e hoje, segundo Juliana, são mais de 300 mulheres impactadas. O Papo do Ano é o primeiro evento aberto ao público.
Flávia Herkenhoff destacou que o evento foi uma comprovação da potência feminina, e de que, quando as mulheres se propõem a ouvir e debater, todos saem ganhando.
Uma das convidadas foi a presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), Ingrid Barth, que pontuou, por exemplo, que é a primeira mulher a chefiar a entidade e compartilhou detalhes da trajetória, durante a qual fundou negócios, além de ter passado por diversas empresas do sistema financeiro. Até recentemente, foi membro do conselho deliberativo do Open Banking do Banco Central do Brasil.
“Tenho uma neurodivergência. Meu espectro é hiperatividade, e é muito difícil para uma mulher. Normalmente é (considerada) uma ‘doença’ de menino e (dizem que) a menina não para quieta, fala mais que a boca. Fui assim a vida inteira, só que isso mexeu muito com a minha autoestima. Eu era aquela menina que os pais dos amiguinhos não queriam que andassem comigo, porque eu incitava eles a falarem durante a aula. É ruim quando você percebe que você é diferente do lugar.”
Com o passar dos anos, entretanto, transformou o que era visto como “defeito” em seu superpoder.
“O fato de eu não parar quieta era pelo excesso de energia. Eu preciso fazer muitas coisas ao mesmo tempo, para fazer bem. Eu sou um pouquinho diferente de algumas pessoas que focam, tudo bem. O mundo precisa de todos nós", concluiu.
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