Quatro mulheres e quatro histórias diferentes. Luana Demonier, tinha 25 anos. Rosimar dos Santos Cruz tinha apenas 31 anos. A Fabrícia Maria da Silva, 35. Já a Elizângela Teixeira de Lacerda, 36. Apesar das diferenças, elas têm uma coisa em comum: foram assassinadas por golpes de armas brancas, mortas por pessoas com quem compartilharam a intimidade, companheiros e ex-companheiros.
Foi na noite do dia 08 de fevereiro que Fabrícia, então moradora do bairro Aviso, em Colatina, foi assassinada com quatro golpes de facas. A vítima chegou a ser socorrida por populares e levada para o Hospital Geral de Linhares (HGL), mas não resistiu.
No noite do dia seguinte (09), Luana Demonier estava voltando do trabalho quando o seu ex-namorado, Rodrigo Pires Rosa, a abordou e desferiu vários golpes de faca, matando a jovem. O acusado se entregou á polícia um dia após o crime.
No dia 10 de fevereiro, na zona rural de Colatina, Rosimar perdeu a vida na frente de seus próprios filhos. Com golpes de facão no pescoço e muito sangue, o seu corpo foi encontrado dentro de casa. O suspeito, o ex-marido, identificado como Marcelo Vieira Cravo Stancini, ainda não foi localizado.
No dia 20 de fevereiro, a babá Elizângela Teixeira de Lacerda foi encontrada, pela filha de 9 anos, esfaqueada e morta no banheiro da casa onde ela morava, no bairro Castelo Branco, em Cariacica. Dois dias depois, Cleomar de Miranda Gonçalves, o namorado, foi preso ao confessar o crime.
De acordo com os dados da Secretaria Estadual de Segurança Públicas, quatro mortes de mulheres já foram confirmadas como feminicídio até o dia 24 de fevereiro deste ano. Para a especialista em questões referentes a gênero, discursos, poder e violências contra mulheres, Renata Bravo, esses crimes são resultados de uma cultura violenta, que mata a mulher por ser mulher.
“A nossa sociedade ainda é produtora e vítima desse machismo e desse patriarcado, que vê a mulher como um objeto de posse. As discussões sobre a violência contra a mulher ainda são recentes. Exemplo disso é que a Lei Maria da Penha foi criada em 2006; o termo feminicídio, em 2015. Por mais que a gente esteja lutando contra essa naturalização da violência, o caminho a ser percorrido ainda é longo”, explica.
Sobre o uso das armas brancas, como facas, facões, estiletes, canivetes, dentre outros objetos que causam cortes e perfurações, a especialista analisa que, assim como suspeitos dos crimes geralmente têm proximidade com as suas vítimas, esse tipo de arma exige uma proximidade na hora de assassinar a vítima, diferente da arma de fogo, no qual um tiro pode ser disparado à distância.
A Presidente do Coletivo Social Mulheres Unidas de Caratoíra, Winy Fabiano, salienta também que a facilitação do armamento da população pode causar mortes de mais mulheres. “A gente sabe que o uso de uma arma é para nos proteger, mas proteger de quem? Vivemos em uma sociedade que tem um machismo estrutural, onde as mulheres são vistas como objetivo de posse. Quando o homem não usa a mão para agredir uma mulher, usa aquilo que tem mais próximo, como uma faca, e, agora, uma arma”, salienta.
Como uma das formas de mudar esse panorama, Winy aponta a necessidade de criar políticas públicas que têm o objetivo de proteger as mulheres e transformar a educação desde a base.
"Quando a gente entende que essa cultura não é algo, mas que vem de gerações, podemos começar a mudar. Precisamos repensar na maneira que estamos criando as nossas crianças, que amanhã vão ter que lidar com questões como essas. Além disso, é preciso cada vez mais participar dos espaços de decisão e propor polícias públicas que não apenas protejam as mulheres, mas que proporcionem uma sociedade segura para o desenvolvimento", salienta.
No parágrafo sobre as estatísticas de mulheres assassinadas estava faltando a palavra feminicídio, que foi acrescentada ao texto.
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