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Mais mulheres agredidas contam suas histórias após reportagem de A Gazeta

Mais mulheres agredidas contam suas histórias após reportagem de A Gazeta

Os relatos compartilhados nas redes sociais de A Gazeta, após série sobre vítimas de violência doméstica em regiões dominadas pelo tráfico, reforçam a dimensão do problema

Publicado em 7 de dezembro de 2023 às 18:19- Atualizado há um ano

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Leis do tráfico pichadas em muro de comunidade na Grande Vitória
Leis do tráfico são pichadas em muros de comunidades. . (Ilustração/Larissa Pereira)

Em uma série de reportagens, A Gazeta revelou a realidade de moradoras de regiões dominadas pelo tráfico que sofrem com a violência doméstica. Os relatos das vítimas repercutiram nas redes sociais, espaço em que outras mulheres decidiram compartilhar suas histórias.

Numa sequência de três reportagens, mulheres moradoras da Grande Vitória contaram as dificuldades que enfrentam ao morar em regiões conflagradas, ou seja, onde há conflitos ativos entre lideranças criminosas e entre facções e a polícia. Entre elas, o medo do tráfico as considerar “dedos-duros” por chamar a polícia em caso de violência doméstica, mas, também, a ineficiência e a demora nos atendimentos policiais.

“Só quem precisou da PM, sabe que, em casos de violência contra a mulher, eles não vêm, demoram e, quando chegam, encontrando a mulher machucada, eles não levam ele (o agressor) para a delegacia. Fui vítima de violência e os policiais optaram por chamar uma ambulância. Para ele. Porque, segundo a PM, usuário de drogas é caso de saúde. Precisei ir à delegacia sozinha. Minha mãe também já foi agredida inúmeras vezes pela mesma pessoa e a PM nunca o conduziu à delegacia para ser enquadrado na Lei Maria da Penha”, conta uma seguidora em publicação de A Gazeta nas redes sociais.

Em 2022, segundo o Anuário de Segurança Pública, houve 450 tentativas de feminicídio no Estado, 20% a mais que no ano anterior. Já as lesões corporais relacionadas à violência doméstica subiram 15%, alcançando no ano passado 2.254 registros. Vivendo essa realidade diariamente, A Gazeta mostrou nas reportagens que, quando o Estado falha em salvar as vítimas de violência doméstica de seus companheiros abusivos, o tráfico assume esse papel.

“Eu já tive problemas com agressor, que foi resolvido na comunidade em meia hora. Mesmo assim, fiz o BO e dei continuidade ao processo e, finalmente, hoje, nove anos depois, fui chamada pra depor ... Não moro mais em comunidade nem bato palmas pro crime, porém fui socorrida pelo tráfico e isso não dá pra esquecer”, relata outra seguidora.

Uma trabalhadora de rede socioassistencial diz, em publicação na rede social de A Gazeta, que vítimas de violência e pessoas ameaçadas de violência têm um péssimo atendimento, pois, os profissionais não estão preparados para atendê-los.

“A pessoa sai pior do que entrou no atendimento, seja por ligação, ou quando finalmente chega um destacamento, ou na delegacia. É uma minoria muito pequena mesmo que presta uma escuta ativa, realmente voltada para a resolução do problema. Na maioria das vezes, tentam minimizar para se liberarem da ocorrência, e minha impressão é de que isso ocorre justamente pela falta de preparo para lidar com esse tipo de situação, que realmente não é fácil lidar."

O despreparo da polícia em realizar o atendimento também é mencionado em um comentário diferente.

“A polícia demora a chegar quase sempre, e principalmente em casos de violência contra a mulher, num total zero de preparo onde a vítima é maltratada inúmeras vezes, tratada com descaso por mulheres e homens policiais (nem todos). Um show de horror até quando ela tem que ir na delegacia. (Acontece) em todas as camadas sociais, mas a pobre com certeza sofre mais ainda”, avalia outra seguidora.

Mas os relatos não acabam aqui, como tampouco acaba a violência contra a mulher no Espírito Santo. Uma vítima relata que quase foi morta e nada foi feito por quem tem o poder legal. Outra que a polícia demorou a chegar. Uma terceira que chamou duas vezes e a polícia nunca apareceu.

“Todas as vezes que denunciei violência doméstica, policiais levaram como trote e nem saíram do lugar. Fica difícil acreditar que eles não vão por estarem proibidos”, critica seguidora. 

Embora a reportagem foque na situação das mulheres que moram em regiões tomadas pelo tráfico, a violência doméstica e a demora no atendimento policial também afetam outras regiões, mostram os comentários compartilhados. 

“A demora pra chegar um carro de polícia não é só na região tomada pelo tráfico, não. Quando precisei, demoraram quase 2 horas pra chegar e, quando chegou, fui mal atendida por eles, numa má vontade que só”, lembra. 

O outro lado

Na série de reportagens, o secretário estadual da Segurança Pública, Coronel Alexandre Ramalho, ressaltou que não tem conhecimento de policiais que não queiram atender as ocorrências relacionadas à Lei Maria da Penha.

"Policial não tem que torcer nariz para nenhuma demanda da sociedade. Ele é servidor público, não pode selecionar o clamor da população num momento de socorro. Quem determina o planejamento para atendimento é a gestão estratégica da instituição", assegura. 

Ele acrescenta que os militares, notadamente aqueles que integram a Patrulha Maria da Penha, são qualificados e treinados para lidar com as especificidades desse tipo de violência.

“É uma tropa instruída, com treinamento para lidar com essas pessoas. É feita toda uma entrevista com essa mulher, o atendimento não é na rua, é dentro da residência, fazemos o máximo para dar a segurança para elas”, destaca.

Ramalho orienta ainda que mulheres que não tenham sido atendidas ao fazer um chamado pelo 190, ou que tenham problemas com policiais durante alguma interação, podem acionar a ouvidoria da Secretaria de Estado de Segurança Pública ou denunciar pelo Disk Denúncia 181.

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*Carla Nigro é aluna da 26ª turma do Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Esta matéria foi produzida sob a supervisão da editora Aline Nunes

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