Isaías Serafim de Carvalho Júnior foi condenado a 21 anos de prisão pela morte da própria esposa, Mirelle Figueiredo Peruzia, de 27 anos, assassinada com um tiro na cabeça enquanto ia para o trabalho no dia 16 de novembro de 2020, no bairro Camará, na Serra.
À época, o acusado confessou que o crime aconteceu após uma discussão que tiveram porque ele repreendeu a atendente de padaria por ter xingado ao deixar o celular cair no chão. O júri popular aconteceu nesta quarta-feira (19).
A informação foi confirmada pelo advogado Jamilson Monteiro, que atuou como assistente de acusação no julgamento. De acordo com ele, Isaías foi condenado por homicídio qualificado por feminicídio, motivo torpe e por dificultar a defesa da vítima. "Entendemos que a sentença foi razoavelmente baixa e vamos recorrer da presente decisão, mas pelo menos a família já teve uma resposta nesse julgamento. Agora os trâmites legais para questões de recurso, mas a decisão já está nos autos e o réu Isaías hoje foi condenado. Não estamos muito satisfeitos mas é uma resposta para a família da vítima e para a sociedade de um modo geral", declarou Monteiro.
Segundo a sentença, disponível no site do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), a pena deverá ser cumprida inicialmente em regime fechado. No documento também consta que "a vítima tinha um comportamento contido e medo do réu, onde ele exercia a 'posse de sua esposa', controlando-a e exigindo dela prestação de contas dos seus passos".
Algumas atitudes de Isaías descritas na sentença chamam a atenção: "Há informes que o réu exigiu que a vítima pedisse demissão do emprego no supermercado que trabalhava, indo com ela até o local de trabalho para se certificar. [...] O réu usava o telefone celular da vítima disparando mensagem para testar a fidelidade da esposa. O réu era o carcereiro psicológico, diminuindo as qualidades de sua esposa, ressaltando negativamente as medidas corporais, afirmando que ela não servia para nada, reduzindo-lhe a autoestima".
O advogado Winter Winkler, que faz a defesa de Isaías, disse que "após a leitura da sentença, a defesa propôs recurso de apelação em discordância à pena aplicada".
A atendente de padaria Mirelle Figueiredo Peruzia, de 27 anos, estava seguindo para o trabalho no bairro Camará, na Serra, quando foi assassinada com um tiro na cabeça por volta das 11 horas do dia 16 de novembro de 2020. Familiares ficaram sem entender o que poderia ter acontecido, já que a vítima não tinha inimizades e nunca havia se queixado de algum problema ou ameaças. Mirelle morreu próximo da casa onde morava.
Na ocasião, o marido dela ficou acompanhando o trabalho da perícia na cena do crime, liberou o corpo e chegou a participar do velório da esposa.
Dois dias depois, Isaías foi até a delegacia, após perceber que policiais estavam no bairro colhendo informações sobre o caso, e confessou tudo. A discussão, segundo relato de Isaías, foi por um motivo banal: ele disse que a repreendeu porque ela teria xingado após deixar o celular cair no chão.
A delegada Raffaella Aguiar, da Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Mulher (DHPM), contou que ficou surpresa quando Isaías foi confessar o crime usando a aliança da vítima que ele mesmo havia matado. "Quando chegou à delegacia ele estava usando tanto a aliança dela quanto a dele. Ao indagá-lo sobre aquilo, porque chamou nossa atenção, ele disse que ama muito a mulher dele. Falei com ele que quem ama não mata", declarou, à época.
Raffaella Aguiar também afirmou durante coletiva de imprensa que o assassino era "um feminicida clássico porque ele tenta justificar o crime bárbaro tentando desqualificar a vítima".
Após confessar o crime, Isaías Júnior Carvalho foi preso e levado para o Centro de Triagem de Viana (CTV). Isaías alegou que achou a arma usada no crime na rua, depois que um criminoso a descartou perto da casa do casal antes de uma abordagem policial.
Um cunhado da vítima, Wanilson Souza Paula, apontou que o casal tinha um relacionamento conturbado, mas que não imaginava que poderia chegar a esse ponto. Isaías e Mirelle eram casados havia 11 anos e tinham uma filha de 7 anos.
"A família está surpresa porque imaginava tantas outras coisas, mas não que poderia chegar nesse ponto. Eles viviam uma vida conturbada, como todo relacionamento que tem esses altos e baixos, mas nunca imaginava que poderia chegar a esse ponto. Ele destruiu não só a vida da esposa, mas acabou com a vida dele também, da família dele e da família da Mirelle. Ele ficou o tempo todo no velório, foi ao enterro, até por isso estamos surpresos com essa situação. Mas fica o sentimento de esperança de justiça", afirmou Wanilson, logo após a prisão de Isaías.
Mãe dedicada, apaixonada por dança e sempre com um sorriso no rosto. Essas são algumas das características de Mirelle Figueiredo Peruzia e que sempre serão lembradas. Perto de completar 28 anos, Mirelle deixou uma filha, de 7, e muitas recordações para quem a conhecia.
A irmã dela, Thairinne Figueiredo Peruzia, conversou com A Gazeta dias após o crime. Ela começou dizendo que as lembranças mais felizes são da infância e adolescência. "Nascemos e fomos criadas em Taquara, e sempre fomos muito parecidas. Quando adolescentes, parecíamos gêmeas. Usávamos até roupas iguais. Gostávamos de dormir na varanda para olhar o céu. Quando crianças, era nosso irmão Walace quem nos ajeitava para irmos à escola. Ele fazia trança em nossos cabelos", recordou.
As memórias da irmã são mais fortes nessas fases da vida porque, quando Mirelle se casou, as irmãs acabaram se distanciando. Thairinne era uma das pessoas da família que não aprovava o relacionamento. "Eu nunca fui a favor. Depois de casada, minha irmã acabou se afastando da família. Nossa amizade de irmãs foi abalada por conta dessa relação. Ela não participava do grupo da família, por vezes não comparecia às nossas reuniões entre os primos, entre nossa família. Nos últimos três meses, falei pouco com ela", lamentou.
De acordo Thairinne, quando o crime aconteceu, ninguém da família queria acreditar porque Mirelle era uma pessoa muito querida e não havia quem desejasse o mal dela. A suspeita voltou-se, então, para o marido de Mirelle, por conta de todo o histórico de um relacionamento conturbado. Ainda segundo Thairinne, a irmã já havia tentado se separar do companheiro e que buscava orientá-la a esse respeito.
Thairinne relatou que, quando a irmã descobriu a gravidez, estava brigada com marido e autor do crime. Segundo ela, a chegada da sobrinha iluminou a vida da irmã. "Ela era uma mãe dedicada, sempre acompanhava as reuniões, festinhas, ela se importava muito com a vida escolar da filha", pontuou a irmã, destacando a semelhança entre mãe e filha: "Por eu ter crescido com a Mirelle, hoje eu olho para a minha sobrinha e vejo a minha irmã quando nova. O jeito bravo, a voz grossa, a língua presa. É a minha irmã quando criança", afirmou, finalizando: "Minha irmã fará muita falta. Era uma pessoa de luz".
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