A redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é conhecida por colocar em evidência temas de relevância social. Em 2023, os candidatos tiveram que escrever sobre desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil. Dados levantados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) mostram que, no Espírito Santo, as mulheres dedicaram, em média, por semana, 9,6 horas a mais que os homens aos afazeres domésticos e tarefas de cuidado com pessoas.
Um estudo intitulado "Quanto vale o amor materno? Apenas abraços e beijos?", realizado pelos pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE) Isabela Duarte Kelly, Hildete Pereira de Melo e Claudio Considera, buscou valorar esse tipo de trabalho a fim de chamar a atenção para a quantidade de horas dedicadas pelas mulheres aos trabalhos "invisíveis".
"As pessoas não percebem a importância disso. Muitos acreditam que esse trabalho não remunerado de afazeres domésticos e cuidados é feito pelas mulheres por algum instinto materno, é feito por amor. Mas, na realidade, é um trabalho essencial para a vida humana. Quando ele não é feito pelas mulheres de graça em seus lares, normalmente você paga outra pessoa para fazer, você terceiriza", ressalta a pesquisadora Isabela Duarte, em entrevista para A Gazeta.
Para chegar a esse índice, os pesquisadores do IBRE consideraram o valor médio de trabalhadores e trabalhadoras domésticas em cada Estado do Brasil e depois cruzaram a informação com dados da Pnad Contínua. As horas dedicadas a essas tarefas são coletadas pelo IBGE na quinta visita. Na pesquisa, eles questionam quanto tempo os moradores do domicílio (homens e mulheres) dedicaram a afazeres domésticos.
Para o estudo, foram levantados dados de todos os Estados. No Espírito Santo, foram analisados os números do ano de 2019. Segundo Isabela, a contribuição do trabalho não remunerado ao Produto Interno Bruto (PIB) capixaba seria de 12,7% naquele ano, somando mais de R$ 17,4 bilhões. Desse valor, 66,4% (R$ 11,5 bilhões) corresponderam a trabalhos feitos por mulheres. No cálculo foi considerado, também, o PIB do Estado em 2019, de R$ 137,3 bilhões. Nacionalmente, o levantamento concluiu que, se contabilizado, o trabalho não pago de afazeres domésticos e cuidados nas famílias acrescentaria 13% ao PIB brasileiro.
Para Isabela, essa disparidade em relação à atividade doméstica prejudica a empregabilidade de mulheres. "Isso é um dos principais pontos que impedem que as mulheres consigam se encontrar em melhores posições no mercado de trabalho, em empregos que remunerem melhor", apontou.
A pesquisadora observa, ainda, que se trata de uma construção social o fato de as mulheres serem destinadas ao lar enquanto os homens são destinados ao espaço público. "É necessária uma mudança dessa perspectiva. Para agora, é necessário um aumento na oferta de creches públicas e do tempo de licença paternidade. O fato dos homens terem menos tempo de licença os leva a crer que a responsabilidade do filho, por exemplo, não seja tão grande para eles", concluiu.
A contribuição do trabalho não remunerado ao PIB capixaba corresponde a mais de R$ 17,4 bilhões, e não R$ 17,4 milhões, como publicado anteriormente. Assim como o PIB do Estado em 2019, considerado para o cálculo, foi de R$ 137,3 bilhões, e não de R$ 137,3 milhões.
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