Estagiária / greis@redegazeta.com.br
Publicado em 16 de abril de 2025 às 19:49
O Sistema Único de Saúde (SUS) ganha um avanço no que diz respeito à saúde da mulher na prevenção contra o câncer de colo útero. O motivo é a substituição do exame conhecido como papanicolau por outro que analisa o DNA de cada paciente, podendo detectar de forma mais precisa a presença do vírus e o risco de desenvolvimento da doença em até 10 anos, antes mesmo do aparecimento de alguma lesão. Todas Elas conversou com especialistas e explica o que muda com o novo exame.
O papanicolau é o exame usado pelo SUS para detectar lesões no colo do útero e a presença do Papilomavírus Humanos (HPV) em mulheres. O exame é oferecido pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e é feito por enfermeiros capacitados em na Atenção Primária à Saúde (APS). Por meio dele, é inserido um espéculo no canal vaginal, de forma a visualizar o colo do útero e fazer a coleta do material da paciente com uma espátula e uma escova. Posteriormente, o médico faz a análise das células do colo do útero em uma lâmina, com um microscópio.
A ginecologista Mariana Pontello explica que esse exame é capaz de detectar apenas lesões pré-existentes. “Atualmente a gente tem na rede pública a citologia oncótica, que é o papanicolau. Ele é um exame para rastreio de lesões pré-cancerígenas. Isso significa que vai detectar quando a paciente já tem algum tipo de lesão, seja um início de câncer ou somente uma lesão precursora, ou seja, uma lesão que ainda vai evoluir”, explica.
No SUS, o procedimento é recomendado para mulheres a partir de 25 anos que têm vida sexual ativa. “Na rede pública, você faz dois exames consecutivos. Caso estejam normais, você faz a cada três anos. Quem não tiver tido relação sexual não tem indicação para o exame, uma vez que o vírus é sexualmente transmissível", afirma Mariana.
Por outro lado, o novo exame, chamado de DNA-HPV, faz a análise do DNA do colo do útero, o que possibilita um diagnóstico mais preciso, podendo detectar a presença do vírus antes mesmo do seu desenvolvimento. “O teste DNA-HPV vai detectar a presença do vírus de forma precoce, e essa paciente de risco pode evitar que venha a ter a lesão. Então, é como se antecedesse o diagnóstico muito mais do que o papanicolau”, destaca.
“Isso porque o papanicolau faz o diagnóstico da lesão, enquanto o DNA-HPV vai mostrar se a mulher tem o vírus no corpo, que é o principal causador do câncer de colo de útero”, detalha. "Esse vírus pode estar na paciente antes mesmo da própria lesão. Por esse motivo, o exame é muito mais eficaz.”
Outro ponto positivo deste exame, segundo a ginecologista, é a maior exatidão no diagnóstico. “Ele é mais preciso porque vai fazer uma pesquisa do DNA do vírus. Já o papanicolau tem uma chance maior de erro porque você vai analisar as células. Então, às vezes, pode não ter o vírus naquele material que você coletou e pode não ver a célula alterada.”
O exame de DNA-HPV pode ser feito a cada cinco anos, por ser uma análise mais precisa. “A gente sabe que, uma vez que a paciente não tem o vírus do HPV, as chances de ela ter uma doença nos próximos 5 anos é muito difícil. Então, a paciente vai ter mais segurança de saber que não vai ter esse câncer, por não ter o vírus. O HPV vai criando essa lesão com o passar dos anos, não é da noite para o dia”, aponta Mariana.
A médica explica que o exame é coletado de forma bem semelhante ao papanicolau. Uma das diferenças é que oferece a possibilidade de ser feito através de autocoleta, ou seja, a paciente, após ser orientada pelo médico, pode coletar uma amostra em casa. “No consultório, a forma de coleta é exatamente como é feito o preventivo. É um exame ginecológico com a passagem do espéculo. Só muda a forma que o material que vai ser analisado e o material que se usa para fazer a coleta”, informa Mariana. Na testagem, é usado o swab, que é um tipo de cotonete específico para exames.
A especialista afirma que, atualmente, o SUS analisa dois tipos de vírus HPV, o 16 e o 18, que são os mais frequentes e associados aos cânceres. O acompanhamento de cada paciente vai depender de aspectos como idade, histórico médico e familiar, avaliação médica, além dos resultados dos exames.
“Toda paciente que já tem vida sexual ativa deve procurar um ginecologista para fazer a primeira a primeira consulta. A partir daí, de acordo com a faixa etária, vai ser instituído como serão as avaliações periódicas. Paciente jovem, sem histórico de câncer de mama e de doenças ginecológicas, pode estar fazendo esse acompanhamento com menos frequência”, explica a ginecologista.
A recomendação é que as mulheres que realizaram o preventivo recentemente ou que ainda estão no intervalo de três anos podem procurar uma UBS e realizar o novo exame. “Mesmo quem já fez o papanicolau, é importante que faça esse exame de DNA, porque, com o preventivo normal, não quer dizer que a pessoa não tem o vírus. Então, vale a pena fazer, já que tem essa oportunidade.”
A médica também frisa que este “novo” procedimento já existe há muitos anos e é validado na rede particular e no convênio, além de ser protocolo em países da Europa e nos Estados Unidos, por exemplo.
O papanicolau ainda será feito pelo SUS, mas será indicado quando houver alteração no DNA-HPV, que passa a ser o principal exame, ou quando o médico julgar necessário. A ginecologista e sexóloga Lorena Baldotto ressalta a importância do exame. "É uma vitória o SUS ter conseguido colocar esse novo exame, mas eu ainda acho necessário avaliação ginecológica, porque, às vezes, a paciente pode estar com fungo ou bactéria. Há outras questões ginecológicas que vão além do HPV”, destaca Lorena.
A ginecologista explica que, para detectar somente o vírus do HPV, a testagem de DNA é o mais eficaz. “Para o HPV, o teste de DNA é maravilhoso. Porque vai identificar o material genético do vírus e ser mais específico.”
Apesar de o teste genético ser orientado a cada 5 anos, Lorena reforça que isso não significa deixar de ir ao médico durante todo esse período. "Esse tempo é muito muito grande. Já vi caso de mulher que tinha o preventivo do ano anterior normal e desenvolveu um câncer de colo do útero”, afirma a ginecologista
Lorena Baldotto
Ginecologista e sexólogaA médica ainda esclarece que o acompanhamento ginecológico envolve outros fatores que merecem a atenção dos profissionais. “Não é só um preventivo. Tem que avaliar a parte metabólica, hormonal e fisiológica. A gente analisa a situação dessa paciente, se ela não quer ou não engravidar, se está se prevenindo, se é sexualmente ativa, se tem o funcionamento ginecológico adequado, menstruação regulada…”, lista Lorena.
Além de fazer o exame, outra forma de se prevenir do câncer de colo de útero é através da vacinação. O SUS disponibiliza o esquema vacinal completo para meninas e meninos de 9 a 14 anos.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de colo de útero é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina, ficando atrás apenas do câncer de mama e do colorretal, além de ser a quarta causa de morte de mulheres por essa doença no Brasil.
O câncer de colo de útero é uma doença que se desenvolve silenciosamente. Entretanto, as mulheres devem ficar atentas a sangramentos anormais e sangramentos após relações sexuais e procurar um ginecologista para fazer o devido acompanhamento.
A testagem é recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e é considerada padrão ouro para detecção desse tipo de câncer de colo de útero e integra as medidas para eliminação da doença como problema de saúde pública até 2030.
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