Desde o início da pandemia do novo coronavírus, muitas famílias precisaram se reorganizar para cuidar dos filhos e ajudar na educação. Sem ter como acompanhar a rotina escolar da garotada e ajudar nas aulas remotas ou mesmo o medo de mandar bebês e crianças pequenas para escola, muitos pais passaram a contar com a ajuda de profissionais especializados para acompanhar as atividades.
Muitas profissionais de pedagogia têm aproveitado o momento para fazer uma renda extra ou para ter um trabalho por conta própria e chegam a lucrar entre R$ 2,2 mil a R$ 4,5 mil por mês.
Algumas estão com a agenda cheia para atuar como babysitter, oferecendo muito mais do que apenas cuidados básicos, ou professora particular para ajudar os estudantes que estão com dificuldades de acompanhar as matérias, principalmente aqueles que estão em aula remota.
A procura tem sido tão grande que tem sido difícil conseguir achar um horário para atender as famílias que estão desesperadas e que querem, inclusive, aulas diárias para as crianças que estão em casa.
A cobrança pela prestação de serviços delas é feita por hora. O preço de trabalho de uma babysitter, por exemplo, varia de R$ 20 a R$ 30 a cada 60 minutos e o faturamento depende do dia, horário (se durante o dia ou a noite) e a quantidade de crianças. Já as professoras costumam cobrar entre R$ 50 e R$ 100 pela hora de ensino e os ganhos também dependem do tempo de dedicação ao mesmo estudante.
É claro que, para fazer os atendimentos, elas precisam tomar todos os cuidados como o uso de máscaras e higienização das mãos, além de ter uma preparação pedagógica. As babysitters fazem atividades sensoriais, de alfabetização, levam as crianças para brincar, fazem tarefas artísticas e cumprem compromissos até médicos.
A babysitter Jacqueline Aparecida Moreira Zanette, a tia Jaque, de 31 anos, trabalha, em média, 5 horas todos os dias. Ela já desempenha a tarefa há três anos e viu a agenda lotar durante a pandemia.
“A demanda por esse serviço sempre existiu como forma de auxílio às famílias, mas com a Covid-19 aumentou muito. Os atendimentos são feitos por hora, de acordo com a necessidade dos pais. Por semana chego a trabalhar de 20 a 40 horas. Vou até lá e desenvolvo diversas atividades com elas”, comenta.
Tia Jaque conta que há muitas vantagens em trabalhar de maneira autônoma. Dentre elas está a liberdade de fazer os próprios horários. “Gosto muito de crianças e elas gostam de ter alguém sempre por perto para brincar, então para mim é muito cômodo. Levo brinquedos, desenvolvo atividades, levo para passear, sempre pensando no que os pequenos gostam de fazer”, observa.
A babysitter atende crianças a partir de seis meses de vida, com uma procura maior por aquelas que têm entre 3 a 4 anos, a maior parte delas de Jardim Camburi, em Vitória.
É bom lembrar que há diferença entre os trabalhados de uma babá e de uma babysitter. No primeiro caso, a profissional trabalha diariamente na casa da família de carteira assinada, auxiliando e ajudando nas tarefas relacionadas às crianças, como alimentação, cuidados, transporte e até brincando com os pequenos. Elas têm carga horária fixa e cumprem as regras trabalhistas para as domésticas.
Já a babysitter atua conforme a demanda dos pais, em horários diferentes, podendo ser a qualquer hora por dia, sendo paga por serviço acordado entre ela e os responsáveis pelas crianças. Elas não têm vínculo com a família e podem trabalhar com rotatividade.
As aulas particulares também são cobradas por hora, podendo variar de R$ 50 e 100. A professora e babysitter Lorrayne Barbosa Correa, de 30 anos, comenta que o faturamento chega a ser o dobro do que ela recebia quando ainda atuava em escola. A jovem conta que trabalha de 6 a 9 horas por dia, com crianças que estão na educação infantil até o segundo ano do ensino fundamental.
“Trabalhava em uma escola e nas horas vagas como babá. No ano passado, no auge da pandemia, algumas mães começaram a me procurar para eu dar aulas particulares de Português e Matemática para seus filhos, trabalhar na coordenação motora deles e até na alfabetização. A agenda é apertada. Começo a trabalhar às 8 horas e há dias que chego a dar aulas até 19h30 para dar conta”, pontua.
Os atendimentos são feitos na casa dos alunos que moram, principalmente, em Maria Ortiz, Praia do Canto, Bairro República, Bairro de Fátima, Jardim Camburi, Mata da Praia e Jardim da Penha. Ao todo, ela chega a atender 13 crianças, algumas de duas a três vezes na semana.
“É fundamental esse apoio para as crianças pequenas, pois elas têm dificuldade de acompanhar as aulas on-line e os pais não dão conta de estarem com os pequenos durante o dia porque precisam trabalhar. Já cheguei a ter um aluno de 7 anos que não sabia nem escrever o nome. Quem não recebe essa atenção acaba ficando desnivelado em relação aos demais quando retorna para a sala de aula. Esta é uma fase muito importante para o desenvolvimento dos alunos”, explica.
Lorrayne destaca que pretende continuar trabalhando desta forma, mesmo após o fim da pandemia, pois ela se sente mais valorizada na profissão. “Estou na minha melhor fase. Na escola, não temos autonomia, o salário é ruim e ainda não nos sentimos valorizadas. Sei que a pandemia prejudicou muita gente, mas a crise me ajudou muito. É uma outra visão que estou tendo”, complementa.
A pedagoga aposentada Maria Beatriz Secchin de Andrade, de 57 anos, é especialista em dificuldades de aprendizagem. Hoje, ela trabalha no reforço escolar e no acompanhamento de alunos do ensino fundamental, com idade entre 5 e 12 anos. A jornada de trabalho da profissional varia de 6 a 8 horas diárias.
A aposentadoria veio depois de 30 anos de atuação, bem no meio da pandemia. Foi quando os pais começaram a procurá-la para aulas particulares.
“As aulas on-line não substituem as presenciais, por isso o aumento da demanda desta modalidade de ensino. As crianças precisam dessa atenção porque perdem a rotina de estudo. Elas necessitam desse contato com o professor. Com a assistência individualizada, estou conseguindo um resultado bem positivo”, relata.
Maria Beatriz vai até a casa dos pequenos, acompanha as aulas a distancia e as tarefas. O resultado de tanta atenção com as crianças não poderia ser outro.
“Sinto-me feliz por fazer esse trabalho porque está dentro de tudo que acredito na educação e também por poder ajudar os alunos nesse período tão complexo que estamos vivendo”, resume.
Já a professora Marta Marcelino de Azeredo, de 52 anos, ministra aulas tanto on-line quanto presenciais. Ela, que tem o foco na alfabetização, trabalha em escola e também atende à solicitação dos pais para aulas particulares.
“Tento ao máximo diversificar as aulas para atrair a atenção das crianças. Desde o ano passado, estou trabalhando assim. É claro que aulas remotas não são a mesma coisa que as presenciais, mas é possível ter um bom resultado. O desenvolvimento escolar delas neste ano vai depender de como as famílias conduziram o aprendizado em 2020”, finaliza.
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