“Tenho visto ultimamente vagas afirmativas com foco na diversidade de raça, gênero, sexualidade e etc. O que é maravilhoso. Mas nenhuma para mães”. Assim começa o desabafo da professora Rachel Franzan, de 43 anos, feito na rede social LinkedIn, acompanhado por uma foto da geladeira dela quase vazia. A publicação da moradora da Serra viralizou em todo o Brasil, com mais de 1.500 comentários, 2.300 compartilhamentos e 30 mil curtidas.
Desempregada desde 2018, mesmo tendo mestrado e MBA, Rachel conversou com A Gazeta e apontou aqueles que considera os dois principais motivos para a rejeição das empresas: a idade acima dos 40 anos e o fato de ser mãe solo, ou seja, precisa cuidar sozinha do filho, de 12 anos.
“Eu acordei muito deprimida e fui olhar o LinkedIn. Vi um monte de vagas, mas nenhuma para mães. Por isso, fiz o post como um desabafo. Durante uma entrevista de emprego, quando me perguntam e digo que sou mãe, não é nem que o papo muda, eles finalizam a conversa. Também não deveriam perguntar a idade. Deveriam saber se a pessoa é qualificada para a função ou não”, destaca Rachel.
A professa disse que, desde a publicação do texto, na terça-feira (12), recebeu mais de 20 mil mensagens. “Recebi muitas mensagens pedindo pra eu enviar currículos ou me informando de processos seletivos. Hoje (quarta-feira, 13) eu fiz uma entrevista. A pessoa me ligou diretamente, até me surpreendeu. Recebi até uma compra e muitas pessoas pediram o meu Pix. Eu quero responder o carinho de todas essas pessoas. Estou muito emocionada”.
Rachel disse que espera que a repercussão da sua história possa ajudar pessoas que estão em situações parecidas. “Eu tenho certeza que não sou a única nessa situação. Cerca de 60% das mensagens que estou recebendo são de mulheres dizendo que passam por algo parecido, ou até de senhores que também dizem que perdem oportunidades devido à idade”.
Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), mestre em História também pela Ufes, com MBA em Comportamento do Consumidor pela Universidade Vila Velha (UVV), a professora disse ter tentado se recadastrar para receber o Auxílio Brasil. Mas, segundo ela, o pedido foi recusado devido a critérios de renda.
“Tentei o benefício em 2021 e, na época, fiquei apenas R$ 30,00 acima do teto para receber”, afirmou. Ela recebe uma pensão de meio salário mínimo, referente ao filho, de 12 anos. O valor, segundo a publicação de Rachel, não é suficiente nem para arcar com as compras do mês.
Mesmo com um currículo extenso, Rachel já tentou trabalhar como faxineira, vender chup-chup e passear com cachorros no prédio onde mora com o filho. “Estou desde 2018 em busca de um emprego para chamar de meu”, escreveu na rede social.
Ela conta que, nesse período sem emprego fixo, tem tirado o sustento de trabalhos temporários como professora e como consultora de marketing. A busca por uma oportunidade já a levou às cidades de São Paulo e Brasília.
“No início de 2020, tive uma oportunidade como professora em São Paulo. Mas, com a pandemia, ofereceram uma redução muito grande de salário e ficou inviável permanecer lá”, relata Rachel, que também chegou a dar aulas na Ufes pelo sistema de Designação Temporária (DT).
A cientista social também disse já ter recebido ofertas de emprego com salários muito abaixo do esperado para a função. “Já recebi uma proposta para gerenciar todo o marketing de uma empresa recebendo um salário de R$ 1.500, incluindo análises de mercado. O salário médio para essa função, normalmente, é mais que o dobro, até o triplo. Por outro lado, também há quem diga que o meu currículo é muito bom e não vai me chamar por receio de eu ficar pouco tempo na empresa”.
Ela também deixou uma mensagem para os recrutadores e empresas. “Uma mãe tem responsabilidades, então vai dar o melhor no trabalho. Empatia é o primeiro passo, mas tem que ter conhecimento da realidade. Quando as empresas têm essa ideia de que contratar uma mulher pode ser pior, por causa da gravidez ou maternidade, os profissionais de seleção e recrutamento precisam ter a sensibilidade de apresentar os resultados que uma profissional qualificada pode trazer para empresa. O machismo existe como um modelo cultural, por isso até recrutadoras podem ter critérios machistas”.
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