A crise sanitária sacudiu as estruturas de todas as mulheres, desde aquelas que precisaram - e puderam - ficar em casa e tiveram que se adaptar ao trabalho remoto, ou quem não teve outra alternativa a não ser continuar com a antiga rotina e sair de casa para o trabalho se expondo diariamente ao risco da contaminação pelo novo coronavírus.
“Eu estou trabalhando e ouvindo a minha filha chorar” relata Juliana Bourguignon Vogas, 35 anos, mãe da Isabela, de um ano e dois meses. Essa é a realidade dela e de muitas mulheres que, por causa da pandemia da Covid-19, tiveram que se adaptar ao novo local de trabalho: dentro de casa.
Juliana é coordenadora de comunicação dos Correios e está trabalhando de home office desde julho de 2020, quando voltou da licença-maternidade. Ela já vinha se preparando para conciliar o trabalho e o papel de mãe, mas a pandemia trouxe uma sobrecarga por ter que equilibrar todas as funções juntas.
Para Juliana, esse tempo de trabalho em casa tem o lado bom de ficar mais perto da filha e poder acompanhar todas as fases de crescimento dela. Mas trabalhar em home office ainda traz o conflito de conciliar o tempo do trabalho com os momentos em família. “Ela é muito pequena e não entende que eu estou em casa, mas não posso estar sempre disponível para ela."
A pequena Isabela não é a única que desde muito nova já precisa aprender a conviver com os impactos da pandemia. Os alunos da professora Elizabete Maria Lage Zanott, ou Tia Bete, como é carinhosamente chamada por eles, também precisam lidar com a saudade do convívio escolar.
“Quando eu faço vídeo chamada eles ficam todos animados de me ver. Os que me reconhecem já falam ‘olha lá a Tia Bete!’, mandam beijo”, conta. Profissional da educação infantil há 29 anos, a pandemia foi um dos maiores desafios da vida profissional dela.
Segundo ela, as mudanças e adaptações ainda estão sendo muito difíceis. Agora, a rotina da professora está mais intensa, além de preparar os materiais didáticos que são enviados por meio de grupos de mensagens, ela precisa também orientar os pais a como desenvolver as atividades com os filhos.
“Chega um momento em que a gente precisa se adaptar à rotina das famílias. Eu trabalhava só de manhã e agora tenho que ficar disponível o dia todo, mesmo quando eu estou fazendo as coisas do meu dia a dia, porque tem pai e mãe que só pode falar comigo de tarde, outros só a noite”, desabafa a professora.
A empregada doméstica Maria das Dores Macedo dos Santos, 56 anos, é uma das mulheres que precisam sair de casa para trabalhar. Todos os dias ela precisa encarar o transporte público para ir de casa para o trabalho e conviver com o medo de ser contaminada pela Covid-19. “Pegar o ônibus me preocupa muito, porque se tiver cheio e eu fico com medo, e aí tenho que descer e esperar outro, e isso já me atrasa para o serviço.”
Ela trabalha como doméstica e, com todos os cuidados de higienização que são precisos para prevenir a doença, os gastos com produtos de limpeza aumentaram, assim como a carga de trabalho fora e dentro de casa.
Assim como Maria das Dores, a fisioterapeuta Juliana Estevão de Freitas Rizze, 42 anos, também precisa sair de casa todos os dias para trabalhar. O desafio dela é enfrentar a linha de frente de combate à pandemia de Covid-19.
A fisioterapeuta atua no Hospital Evangélico de Vila Velha e no Hospital Antônio Bezerra de Farias. Ela já foi vacinada, mas mantém as medidas de isolamento necessárias para proteger a família e os amigos.
Além de lidar com a sobrecarga adicional de trabalho, ela tem que suportar o desgaste emocional de lidar com a doença. “Eu fico muito aborrecida de ver pessoas morrendo, e ao sair do hospital e passar em frente a um restaurante e ver tudo lotado. É revoltante.”
Após o Dia Internacional da Mulher durante o período da pandemia, fica o desejo de Juliana para a data do próximo ano: “Apesar de tudo, tenho fé e esperança que teremos dias melhores.”
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