É PRECISO ENTENDER A RUA COMO UM PONTO TURÍSTICO
Diogo Cypriano é empresário e produtor cultural
Desde 2008, estou à frente do Birita Casa de Cocktail, sempre na Rua da Lama. Nesses 11 anos, sempre percebi um descaso com a rua, basta ver como é o Triângulo das Bermudas, na Praia do Canto, e como é o trecho de bares na Avenida Anísio Fernandes Coelho, em Jardim da Penha. Sempre incentivei a música ao vivo no bar, mas foi a partir de dezembro de 2014, quando idealizei o Som de Fogueira, com a ideia de focar e valorizar a música autoral, que eu percebi a vocação cultural do local.
Com ajuda da opinião pública e uma dedicação enorme dos músicos capixabas, conseguimos trazer um holofote para a rua, mas dessa vez de forma positiva. Aumentamos o diálogo com a Prefeitura de Vitória e, graças ao apoio do então vereador Fabrício Gandini, conseguimos levar para as edições de terças-feiras fiscalização, fechamento da rua, policiamento e estrutura para os músicos se apresentarem.
Com a ideia de aproveitar o case de sucesso do Som de Fogueira e organizar de forma harmônica a ocupação da Rua da Lama, tentei mostrar aos vereadores, que são os representantes da cidade, a importância de se antecipar e regulamentar os eventos no local. O vereador Vinícius Simões entendeu a oportunidade e protocolou o Projeto de Lei que coloca as festas na Rua da Lama no calendário oficial de eventos da cidade.
Até então ninguém queria debater o assunto Rua da Lama, mas era unânime que o tema causava ruído e a imagem era ruim. Agora que surgiu uma oportunidade ímpar de mudança e transformação da rua em um potencial local turístico e cultural, aparecem várias pessoas dando opiniões, mas sem realizar nenhuma ação.
No dia 22 de julho, participei da audiência pública da Associação de Moradores de Jardim da Penha, a fim de debater o tema e explicar a intenção do projeto de lei, mas foi nítido que estava em um ambiente político ocupado por oportunistas, querendo jogar a população contra os produtores culturais e comerciantes. Foi lamentável e um desserviço para a sociedade esse encontro. Moradores induzidos a simplesmente falar mal, sem oferecer nenhuma proposta melhor, atacaram frequentadores da Rua da Lama como se fossem marginais e questionaram a necessidade de mais eventos culturais.
Esse questionamento foi derrubado quando fiz uma só pergunta para eles: quem são seus ídolos da música capixaba? Nesse momento, houve um silêncio. Enfim, não precisamos inventar um novo modelo, basta olhar para exemplos como o Brooklyn (NY), a Lapa (RJ) ou a Vila Madalena (SP), locais que são referências e foram transformados com cultura, urbanização e gastronomia.
Eu acredito muito no potencial da Rua da Lama, mas é preciso entender a rua como um ponto turístico da capital do Espírito Santo. E sobre fechar um bloco da rua para pedestre, olhemos para a Times Square, em Nova York, ou a Lincoln Road, em Miami, exemplos claros de como isso pode dar certo. Acho que precisamos parar de ter esse sentimento provinciano e colocar de vez Vitória como uma das melhores cidade para se viver.
EFEITOS NEGATIVOS SUPLANTAM OS POSITIVOS
Peterson Pimentel é coordenador Geral da Associação de Moradores de Jardim da Penha
Eventos culturais são sempre bem-vindos! Desde que não tragam transtornos e gerem desconfortos a outrem, não é mesmo? Para que isso aconteça, faz-se necessário o debate construtivo na busca de consenso, ações planejadas e boa convivência.
Nesse contexto, a Associação de Moradores de Jardim da Penha (AMJAP) foi mediadora de uma reunião realizada no dia 22 de julho, com os vários setores interessados produtores culturais, frequentadores, moradores e comerciantes da Rua da Lama, famoso point do bairro de Jardim da Penha, em Vitória.
O encontro também reuniu representante da Polícia Militar, o secretário Municipal do Meio Ambiente, Luiz Emanuel Zouain da Rocha, e o vice-prefeito, Sérgio Sá Freitas, analisando as medidas a serem tomadas frente a propositura de projeto de lei de autoria do vereador Vinícius Simões, também presente ao evento, para inserir no Calendário Oficial de Eventos de Vitória o evento Na Lama onde foi possível, com clareza e transparência, apresentar vários visões da rua.
Para os moradores da rua, é latente os dissabores com o excesso de barulho e a sujeira deixada pelos frequentadores do local, localizado em trecho da Avenida Anísio Fernandes Coelho. Para os comerciantes, o uso indevido do espaço e mesmo o vandalismo de alguns depredam e sujam seus pontos comerciais, contabilizando ao final significativo prejuízo.
Para os já citados e para os demais moradores ou frequentadores do bairro, os transtornos trazidos com o grande fluxo de trânsito, com a dificuldade de locomoção na área e com a insegurança gerada são prejudiciais ao bem-estar das pessoas. Para outros agentes e órgãos envolvidos, as ações necessárias, pertinentes à saúde, à segurança, ao controle, à organização e ao apoio, são comprometidas devido ao grande número de frequentadores, mesmo com avanço da Prefeitura de Vitória na multa de R$ 6.500,00 ao proprietário do veículo com som alto.
Frente ao exposto, ao final do encontro decidiu-se pela composição de uma comissão com representantes dos setores interessados para uma discussão mais ampliada do tema, buscando uma solução que atenda a todos de forma responsável e respeitando em primeiro lugar os moradores, sem contudo perder a visão da importância de realização de eventos culturais que possam atrair público e movimentar a economia.
Dessa forma, pelo posicionamento obtido na citada reunião, o encaminhamento da Associação de Moradores é para solicitar ao prefeito Luciano Rezende o veto ao projeto de lei, pois sem determinados estudos e ações efetivas, os efeitos negativos suplantam em muito algum ponto positivo que porventura exista. No momento, a realização de eventos na Rua da Lama, por seu porte e precária infraestrutura, pelos incômodos e transtornos trazidos aos moradores, são diametralmente contrários aos interesses da comunidade.
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