Com a repercussão das buscas que já duram 10 dias por Lázaro Barbosa, de 32 anos, acusado de matar quatro pessoas da mesma família em Ceilândia, região administrativa de Brasília, é trazida à memória do capixaba cenário semelhante ocorrido no Espírito Santo, ainda em 2008. Naquele ano, mais precisamente em 16 de setembro, era preso Paulo José Lisboa, à época aos 41 anos de idade. O criminoso estava foragido desde 1998 da Justiça de São Paulo e foi detido em Vitória, no momento em que trabalhava como vendedor.
Pela Justiça capixaba, também foi condenado por homicídios, após inquérito policial que concluiu a participação em seis assassinatos e pelo menos duas tentativas de morte, todos na Grande Vitória. Segundo informações da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), Paulo foi liberado da prisão, por decisão judicial, em julho de 2017.
Paulo era conhecido pelos paulistas como "o maníaco da corrente", segundo noticiou A Gazeta no ano da prisão do criminoso, e atuava matando prostitutas e travestis. No Estado de São Paulo, o assassino em série foi condenado pela morte de cinco pessoas e espancamento de outras seis, usando uma trava para carros para estrangular as vítimas.
O serial killer ficou foragido após ter cumprido aproximadamente cinco anos de uma pena de 14, no Presídio da Paulistana, no Departamento de Investigação Gerais (DIG) e no Hospital de Custódia e Tratamento de Franco da Rocha, em São Paulo. Desde então, ele passou a morar em uma casa em Guarapari.
Os vizinhos pouco sabiam do passado de Paulo. Após a fuga, ele pretendia ir para a Bahia, mas acabou se apaixonando pelo litoral capixaba e aqui decidiu fixar residência. A prisão do “maníaco” só aconteceu porque policiais de São Paulo receberam informações de que ele estaria no Espírito Santo. Seis meses antes de ser preso, a Polícia Civil capixaba começou as investigações. Já em maio, teve mandado de prisão expedido pela 1ª Vara Criminal de Guarapari, acusado de uma tentativa de homicídio ocorrida no Dia das Mães, em Muquiçaba.
Quando os policiais foram ao endereço dele em Guarapari, o suspeito já havia se mudado para Vitória, onde passou a morar em uma casa na Vila Rubim. As investigações continuaram, com o apoio da Polícia Rodoviária Federal, já que ele fazia o trajeto entre Vitória e Guarapari com frequência.
No momento da prisão do homicida, ele não esboçou reação à abordagem. Segundo o delegado Gilson Lopes, chefe do Departamento de Polícia Judiciária (DPJ) de Vitória à época, ele demonstrou frieza durante todo o tempo. A partir daí passou também a ser interrogado sobre crimes no Estado, em que as vítimas, prostitutas, foram mortas por enforcamento e espancamento, semelhante à forma como ele costumava agir.
O criminoso tratava calmamente sobre os crimes que havia praticado em São Paulo, dando detalhes sobre a forma como agia e por que fugiu para o Espírito Santo, em 1998. Sem aparentar ter se abalado com a prisão, que ocorreu três dias antes de vencimento do prazo do mandado de prisão da Justiça paulistana, ele disse que cumpriria a pena que lhe foi aplicada, pois deixou a vida do crime “para ser uma pessoa dedicada à família”.
Em depoimentos, Paulo dizia que não tinha intenção de matar as vítimas, que buscava, na verdade, convidá-las para programas e depois agredi-las. Também disse que aquele tinha sido um período de loucura na vida dele e que não tinha nada contra garotas de programa ou travestis, mas que eles eram alvos mais fáceis.
Quanto aos detalhes, ele narrou que levava as vítimas de carro até um local ermo. Estando lá, falava com a pessoa para sair do carro e aí iniciava as agressões com a trava de segurança do carro ou com uma faca, por vezes. Quando a vítima ficava inconsciente, ele simplesmente ia embora.
Graças ao golpe conhecido como "boa noite cinderela", em que uma pessoa é dopada, uma mulher de 24 anos à época, que viria a ser vítima de Paulo, não foi morta. A mulher foi à casa dele e trocou os copos que seriam servidos aos dois. O resultado: quem acabou dopado foi o criminoso.
Em depoimento ao delegado, a garota de programa reconheceu o suspeito como o autor do ataque sofrido por ela. Segundo a jovem, Paulo a teria abordado numa rua do bairro Parque Moscoso, em Vitória, e chamado-a para um programa na casa dele.
A jovem se trancou no banheiro e, ao sair, foi agarrada pelo pescoço, mas conseguiu se livrar e desceu as escadas da casa dele. Ele não conseguiu ir atrás. A moça disse que alguns dias depois foi novamente encontrada por ele e recebeu ameaças.
Para um psiquiatra forense da Polícia Civil, o vendedor Paulo José Lisboa, poderia ser classificado como um "psicopata social". O diagnóstico do psiquiatra foi feito após depoimento prestado pelo suspeito durante cinco horas, na Delegacia de Crimes Contra a Vida de Vitória. Na visão do psiquiatra, Paulo também poderia ser enquadrado na categoria serial killer – assassino em série – por atacar apenas travestis e garotas de programa.
Questionado sobre crimes no Estado, o acusado negava, mesmo com indícios de participação na morte de seis prostitutas, a maioria na região do Parque Tancredão, no bairro Mário Cypreste. Outro assassinato foi praticado próximo às torres de TV, no Parque da Fonte Grande.
Em todos os crimes, as vítimas foram encontradas estranguladas e deixadas nuas em áreas afastadas. De acordo com o delegado à frente do caso, na visão do psiquiatra, não haveria cura para esse tipo de comportamento e apontou que o acusado se sentia atraído e, ao mesmo tempo, incomodado com travestis e garotas de programa. Mas se mantinha próximo à prostituição.
À ocasião do depoimento, chegou a conversar com a mãe e a esposa, que o esperavam no corredor, abaladas.
O serial killer Paulo José Lisboa chegou a ser investigado pelo emblemático homicídio da jovem estudante Isabela Cassani, ocorrido em 24 de outubro de 1999. A teoria foi logo descartada.
A saga criminosa do suspeito teve tanta notoriedade que foi contada pelo psiquiatra forense Guido Palomba, no livro “Loucuras e Crimes”. Na prisão em São Paulo, ficou ao lado de criminosos famosos, como João Acácio Pereira da Costa, o Bandido da Luz Vermelha, morto em 1998.
O maníaco afirmou à polícia nunca ter mantido relações sexuais com as vítimas. Não sabendo explicar também, o porquê dos crimes.
Entre os processos criminais a que Paulo respondeu, uma condenação ocorreu em 2011. De acordo com o juiz Daniel Peçanha Moreira, o acusado agia com alto grau de culpabilidade:
"(...) deixando evidente que tinha total ciência da reprovabilidade de sua conduta, sendo pessoa articulada e que adapta a versão do crime de acordo com o que lhe parece mais favorável, conforme ficou evidente em seu interrogatório. Apesar de constar nos autos que o réu recebeu medidas de segurança nos crimes pelos quais respondeu no Estado de São Paulo, não há como não reconhecer máculas nos antecedentes de alguém que cometeu diversos homicídios e se tornou fugitivo do Hospital Psiquiátrico, vindo a praticar crime novamente, aqui nesta Comarca, sendo investigado por outros tantos homicídios neste Estado", disse a sentença.
De 2010 até hoje cumprindo pena na Penitenciária de Segurança Máxima 1, Eliomar Ferreira da Silva, pedreiro, hoje com 41 anos, também conhecido como "Alemão", confessou ter assassinado sete pessoas, sendo seis mulheres. As vítimas foram mortas nos municípios de Vila Velha (três); Barra de São Francisco (três); e em Cariacica (uma).
Conforme noticiado pelo impresso de A Gazeta à época do crime, o assassino é de família evangélica, casado e pai de três filhos. Segundo o delegado André Cunha, não havia qualquer relação amorosa dele com as mulheres que ele matou, à exceção de uma, que foi sua namorada, e as mortes se davam por conveniência ou em decorrência do uso de drogas.
A primeira vítima de Eliomar, com quem namorava, foi executada quando ele tinha apenas 17 anos, quando usou um facão para degolar a adolescente de 14. Já o último crime dele foi o assassinato de uma comerciante, em setembro de 2010, em Guaranhuns, Vila Velha, bairro onde o acusado residia. O motivo: ela queria fechar o bar. Acabou sendo degolada.
Em abril do mesmo ano, o assassino também matou um outro jovem, a tiros. Ele disparou quatro vezes, pelas costas, contra José Carlos Pereira Nascimento. Instantes antes, a vítima estava sentada em bar, em Novo México, Vila Velha, que estava lotado de clientes. A arma usada era do próprio pedreiro e, segundo ele, teria sido usada apenas nesse homicídio. Ele afirmou que matou Neguinho porque ele teria roubado a bicicleta dele.
A Defensoria Pública foi procurada para se manifestar sobre os casos, mas até o momento não houve resposta. Esta publicação será atualizada se houver retorno.
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