Quem tem cachorro sabe: basta ficar um pouquinho fora de casa para, na volta, ser recebido com plena felicidade, representada por um rabinho que balança freneticamente. Imagina, então, a alegria de um bichinho que só reencontrou o dono após mais de dois meses separados — e cujo destino era bastante incerto.
Desempregado, o capixaba Claudeir Costa dos Santos se mudou para o Paraná em fevereiro deste ano, buscando dar uma melhor condição financeira à família. Junto dele, foi o melhor amigo: o vira-lata Thor. No entanto, a proposta de emprego oferecida não se concretizou e a situação ficou insustentável.
"Como eu estava na casa dos outros e não consegui trabalhar, decidi voltar para Vitória. A minha passagem foi o Centro Pop que comprou. Já a do Thor eu precisei pedir ajuda na rua, para as pessoas. Consegui juntar os R$ 170 e comprei a passagem, que iria até a cidade de São Paulo", contou Claudeir.
Entretanto, no dia 16 de março, o cão foi impedido de embarcar no ônibus. "Na hora, só me falaram que a caixa de transporte era muito grande. Só que não me falaram nada quando fiz a compra, sendo que o Thor estava comigo e o vendedor viu qual era o tamanho do meu cachorro", reclamou.
Ainda dentro do coletivo, Claudeir pediu ajuda em uma página de classificados de Cascavel (PR) e postou fotos do melhor-amigo. Um radialista que o conhecia fez o intermédio com a advogada Evelyne Paludo, que é presidente e fundadora da ONG Sou Amigo, que realiza trabalhos de resgate e proteção animal.
Duas noites depois, o Thor foi encontrado embaixo de um caminhão, a cerca de duas quadras da rodoviária da cidade. "Como não temos canil, o Thor ficou em um hotel para pets, que ofereceu hospedagem gratuita por 44 dias. O restante do período, nós fizemos o pagamento", contou Evelyne.
Depois disso, a ONG juntou toda a documentação do animal e ingressou com um pedido liminar na Justiça. "Pedimos que o Claudeir voltasse para buscar o Thor e que a empresa fizesse o transporte dos dois até Vitória, já que por impedir o embarque para São Paulo, impossibilitou toda a viagem", explicou.
Segundo a advogada, a decisão deferiu o pedido em 30 de março. "No entanto, a viação Pluma questionou a decisão, entrou com embargo e tentou suspender a liminar. Porém, no último dia 26, o Tribunal de Justiça manteve o parecer e a empresa teve que apresentar o cronograma das viagens", disse.
Depois de mais de dois meses de angústia e espera, Claudeir embarcou de Vitória para Cascavel (PR) para reencontrar o melhor-amigo. No último domingo (29), por volta das 5h, Evelyne já aguardava a chegada dele. Quando o capixaba desceu os degraus do ônibus, bastou chamar por "filho" para Thor sair correndo.
Quem presenciou a cena, garantiu que foi emocionante. "Todo mundo que estava na rodoviária se emocionou. Era nítido o desespero do Thor ao encontrar o Claudeir. Eles estavam aguardando por esse reencontro. Esse momento fez todo o nosso trabalho valer a pena", comentou a advogada Evelyne.
Aliviado por estar vivendo de novo ao lado do cachorro, Claudeir admitiu que teve receio de nunca mais ver o Thor. "Fiquei com medo de alguém pegá-lo ou de ele ser atropelado", contou. Agora, depois dessa "aventura", eles esperam viver dias mais tranquilos, em que a separação não passe de apenas algumas horas.
Em nome da viação Pluma, a advogada Danielle Deda explicou que o embarque do Thor foi impedido — sob "direito legítimo" — devido ao peso dele. "A empresa transporta cachorros de até 10 kg, incluindo a caixa de transporte. No entanto, o Thor tinha 21 kg, considerando a caixa", disse.
Ela também afirmou que Claudeir "foi informado das regras da empresa, mas omitiu o peso do Thor". "A recusa da empresa foi legítima e será comprovada nos autos. A Pluma entende que o cliente, com a ajuda da ONG Sou Amigo, criou uma situação ilegítima para prejudicar a viação", defendeu.
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