Depois de 18 anos e quatro meses, o advogado Alexandre Martins de Castro, 75 anos, aguarda que o último acusado como responsável pelo assassinato de seu filho seja julgado. “Ainda mais injusto do que o crime é a impunidade”, desabafa. A expectativa dele é de que a justiça seja feita no próximo dia 2 de agosto, data em que está marcado o julgamento do juiz aposentado Antonio Leopoldo Teixeira.
O filho do advogado é o juiz Alexandre Martins de Castro Filho, morto a tiros em 24 de março de 2003, quando chegava a uma academia de ginástica, em Itapuã, Vila Velha. A denúncia feita pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) apontou que a morte seria de mando, cometida em função de denúncias feitas pelo juiz sobre a venda de sentenças. Mas a defesa dos acusados como mandantes alegou latrocínio – assalto com morte.
Dos dez acusados pelo crime, apenas Leopoldo não foi julgado. “Todos os dias faço orações pedindo que haja justiça. Minha alma vai ficar em paz quando ele for julgado e condenado”, assinalou.
O advogado assinala que está confiante no trabalho do Ministério Público e nas provas existentes no processo. “As provas que existem são tão contundentes. A polícia o indiciou, o MPES o denunciou e o juiz o pronunciou em uma decisão com mais de 90 folhas. Na hora em que ele sentar no banco dos réus, vai ser condenado”, destacou.
Mas ele acredita que, até o dia 2 de agosto, o juiz aposentado Leopoldo tentará impedir a realização do julgamento. “Tenho certeza de que ele vai tentar encontrar forma de protelar. É a sua única solução, protelar, o que demonstra que está fugindo de um julgamento com desfecho lógico, que resultará em sua condenação.”
Ele recorda do filho como um juiz atuante, que se dedicou com coragem a enfrentar o crime organizado e a corrupção, que integrou a missão especial federal que, em julho de 2002, investigava as ações do crime organizado no Estado. “Foi um dos primeiros juízes a participar ativamente das operações que são tão comuns atualmente. E sem o apoio que os juízes atuais contam. Foi um pioneiro”, observa.
Em 2018, durante um culto realizado na Assembleia de Deus da Praia da Costa, em Vila Velha, o pai do juiz declarou que não mais guardava rancor em relação ao juiz aposentado Leopoldo.
“Eu estive em uma reunião, e o Leopoldo estava lá. Aproveitei a ocasião para dizer a ele (Leopoldo) que não quero mais ter rancor na minha vida. Os problemas ele deve resolver com a Justiça, e não sou eu que julgo. Não se trata de perdão, mas de não ter mais rancor", afirmou Alexandre Martins de Castro.
O pai do juiz morto reafirma que a ocasião foi o momento de se desapegar do ódio que guardava em seu coração. “Em momento algum o perdoei. Para isso, ele teria que pedir perdão, o que ele nunca fez. Naquele momento disse que não tinha mais ódio dele, porque eu sentia muito ódio. Mas disse também que ele teria que prestar contas dos atos com a Justiça, tem que ser julgado”, relembra.
Sua luta, conta Alexandre Martins de Castro, é por justiça. “Para a morte não há solução, mas para a impunidade existe. É a justiça, com o julgamento e a condenação”, disse.
O advogado Fabrício Campos, um dos responsáveis pela defesa de Leopoldo, informou que o processo estará sendo analisado nos próximos dias. “Solicitamos que fossem feitas algumas diligências e, se houver deferimento dessas diligências, pode ser que não haja tempo para que o julgamento ocorra na data agendada”, explicou.
Em função disso, ele informou que não está descartada a possibilidade de que seja solicitado um adiamento. “Pode ser necessário um pedido de mudança da data, mas vamos primeiro analisar os autos”, informou.
Por nota, o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) destacou que o agendamento de uma data para que Antonio Leopoldo Teixeira possa ser julgado atende ao clamor popular "para que tenhamos, finalmente, todos os criminosos pagando pelo crime cometido". Confira a íntegra da nota:
"O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), por meio da Promotoria de Justiça Criminal de Vila Velha, informa que teve ciência do agendamento do júri do juiz aposentado Antonio Leopoldo Teixeira para o dia 2 de agosto. Entende que a sociedade cobra a elucidação completa desse crime bárbaro, que foi o assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, morto em 2003. Este júri, por razão de uma série de recursos interpostos pela defesa, vem sendo sucessivamente adiado. O MPES avalia que a marcação dessa data pelo Judiciário atende ao clamor popular para que tenhamos, finalmente, todos os criminosos pagando pelo crime cometido."
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