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Cesan e empresa de manutenção de tubulações travam batalha na Justiça

Cesan e empresa de manutenção de tubulações travam batalha na Justiça

De um lado, estatal tenta suspender empresa de participar de novas licitações por dois anos, do outro, contratada alega que sempre prestou bons serviços ao Estado

Publicado em 22 de abril de 2025 às 15:17

 - Atualizado há 14 dias

Estação de Tratamento de Água da Cesan
Estação de Tratamento de Água da Cesan Crédito: Cesan/Divulgação

Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) e a Tubonews Construção e Montagem LTDA, contratada pela estatal para fazer a manutenção de tubulações no Estado, travam uma batalha na Justiça. A estatal aplicou uma sanção de quase R$ 30 milhões e chegou a suspender em ao menos três processos diferentes a empresa de participar de novas licitações por dois anos.

A última decisão judicial dessa batalha foi tomada no dia 31 de março, quando a Tubonews conseguiu reverter, em caráter liminar (provisório), uma dessas três suspensões impostas pela estatal. A Cesan alega que a suspensão foi necessária porque a Tubonews deixou uma série de serviços mal prestados no Estado nas licitações nas quais se saiu vencedora, resultando até mesmo na morte de um bombeiro civil em uma obra.

A empresa contratada, por outro lado, afirma que tem avaliação de desempenho com média de 95% de atendimento contratual e busca derrubar a penalidade imposta pela estatal. Por meio de nota enviada após a publicação desta reportagem, a Tubonews também diz não ter qualquer responsabilidade na morte de um funcionário em carteiro de obra executada por um consórcio e cita que isso já foi demonstrado em relatório policial sobre o caso.

Em sua decisão, que reverteu uma das suspensões impostas pela Cesan, o desembargador Robson Luiz Albanez, da 4ª Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, destacou que a empresa cumpriu o critério de desempenho. Pelo contrato, a atuação da empresa seria considerada satisfatória quando o índice fosse igual ou superior a 85%.

“Verifica-se que a avaliação de desempenho da agravante [Tubonews] sempre foi superior ao percentual satisfação previamente estabelecido, superando várias vezes 95%, razão pela qual, ao menos nesta fase embrionária, há plausibilidade na sua alegação de que, no mínimo, as penas seriam desproporcionais, sem contar que não é comum conceder um nível tão elevado da satisfação ao contratado e, ao contrário, fundar as sanções, de forma geral, em insatisfação reincidente na execução dos serviços”, manifestou-se o magistrado.

A Cesan já recorreu e afirmou que, como a Tubonews responde a outras sanções, essa decisão do dia 31 de março não terá efeito prático. A empresa, portanto, continua impedida de fechar novos contratos com a estatal por dois anos.

Briga de R$ 30 milhões

O diretor-presidente da Cesan, Munir Abud, explica que, devido à má qualidade dos serviços, foi instaurado um processo contra a empresa, resultando em "glosas administrativas" de quase R$ 30 milhões. Esse termo é utilizado quando há a retenção de valores pela administração pública, como forma de compensar ou corrigir um serviço contratado e não prestado segundo o acordado.

“Nós abrimos um processo sancionatório contra a Tubonews e, nesse processo, foi detectada uma série de serviços mal prestados, uma série de buracos que a empresa deixou abertos pelo Estado. Esses buracos causaram acidentes e vazamentos, que perduravam por cinco, dez dias, todos ocasionados pela ineficiência operacional dessa empresa. Então, por uma ineficiência contratual, operacional e desastrosa, essa empresa foi condenada na Cesan”, pontua Munir.

Em nota enviada para A Gazeta, a Tubonews afirma que nunca houve má prestação dos serviços e que a Cesan deixou de repassar valores à empresa entre janeiro e março de 2025, totalizando um montante de quase R$ 30 milhões em dívidas. Em nota, a empresa afirma que, mesmo com a retenção desses recursos, continua fazendo o pagamento de salários e demais direitos dos trabalhadores da empresa.

Já o diretor-presidente da Cesan alega que a Tubonews não recebeu os R$ 30 milhões porque esse é o valor da sanção aplicada, referente ao que a empresa deveria devolver à Cesan.

Trabalhadores acionam a Justiça

A batalha judicial entre Cesan e Tubonews foi parar também na Justiça do Trabalho. Com a suspensão dos serviços de manutenção pela terceirizada, funcionários entraram com uma ação coletiva, movida pelo Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Espírito Santo (Sindaema), para garantir o pagamento dos salários. 

Decisão emitida pelo juiz Xerxes Gusmão, da 15ª Vara de Vitória, na última terça-feira (8), determina que a empresa garanta o pagamento integral das verbas trabalhistas acordadas e que não pratique qualquer ato de retaliação ou ameaça aos trabalhadores. Em caso de descumprimento, a multa estipulada é de R$ 100 mil por dia. 

O sindicato alega que a Tubonews promoveu um “lockout” (bloqueio), o que fechou canteiros de obras e levou os trabalhadores a ficarem ociosos e sem remuneração garantida. Na decisão, o juiz do trabalho considerou que a interrupção do trabalho foi abrupta, às vésperas da data-base da categoria. 

A reportagem de A Gazeta procurou a Tubonews para saber se os trabalhadores voltaram aos canteiros de obra, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

Empresa suspensa de novas licitações

A Cesan publicou três decisões no Diário Oficial do Estado suspendendo a Tubonews de participar de licitações e contratar com a companhia por dois anos, devido a contratos mal executados e à morte do bombeiro civil Leandro Francisco da Silva Andrade, de 42 anos, em uma obra ocorrida em Boa Esperança, no Noroeste do Espírito Santo, no dia 5 de fevereiro de 2025.

Na ocasião, o trabalhador foi soterrado ao inspecionar uma obra. A via cedeu, levando terra e placas de asfalto para dentro do buraco escavado para o trabalho. A Cesan constatou que ele trabalhava sem equipamentos de proteção individual (EPIs) e sem o devido acompanhamento da equipe de segurança do trabalho da contratada, descumprindo as exigências do contrato.

Outra decisão contra a empresa está relacionada ao contrato 026/2020, com valor de R$ 17.964.149,19, cuja suspensão vale por dois anos, contados a partir do dia 18 de março de 2025. Já a segunda diz respeito ao contrato 028/2020, orçado em R$ 10.882.144,94, que vale pelo mesmo período, contados a partir de 25 de março.

Munir Abud afirmou que a Tubonews foi suspensa mais duas vezes e que as novas decisões ainda serão publicadas no Diário Oficial.

"Ainda estamos apurando glosas recentes, de vazamentos em Cariacica, buracos abertos pela cidade e não tapados. Esses processos vão gerar mais procedimentos sancionatórios. Não é falta de pagamento da Cesan à empresa, porque ela poderia judicializar e conseguir a liberação, nós não devemos um centavo à empresa", destacou.

Os processos de suspensão saem de forma concomitante e não são somados. Desta forma, se a empresa for suspensa cinco vezes, ela segue sem poder participar de licitações por dois anos e não por 10.

Medida não vai afetar o abastecimento de água

Por não ter recebido os R$ 30 milhões da Cesan entre janeiro e março, a Tubonews suspendeu a manutenção de tubulações em Vila Velha no dia 7 de abril. Sobre isso, o diretor-presidente da Cesan afirmou que não haverá prejuízo ao fornecimento de água no Estado.

"Essa empresa não presta serviço de abastecimento de água, então a interrupção desse contrato jamais geraria qualquer dano à população capixaba. Ela presta serviço de pequenos e pontuais reparos, reparos esses que foram muito mal-executados ao longo dos últimos anos", explica.

Sobre a declaração da Tubonews de que deixaria de atender Vila Velha, Munir Abud disse que o impacto será mínimo. "Se eles suspenderem a manutenção, vai ser inócuo, porque nós temos diversos outros prestadores de serviços aptos a substituí-los na hora seguinte. Então, não há prejuízo algum à continuidade do seu serviço público". 

Tubonews alega perseguição

Em nota, a Tubonews afirmou que estaria sendo perseguida desde novembro de 2024 pelo presidente da Cesan, que condenou a empresa "sem o devido processo legal administrativo e descumprindo os requisitos técnicos de avaliação estabelecidos pelos contratos administrativos".

Segundo a Tubonews, tal perseguição estava na esfera de “glosas indevidas e retenção de valores de serviços prestados”, mas tomou corpo quando a empresa venceu o edital de licitação Nº 020/2024, lotes 02, 03 e 04, e foi declarada arrematante do lote 01 no mesmo certame, após a desclassificação de outras concorrentes.

A empresa afirma ainda que a Cesan, por meio da Comissão de Licitação, promoveu diversas diligências para, supostamente, protelar o certame licitatório até que as penalidades fossem aplicadas à Tubonews, tornando-a impedida de contratar. Diante da penalidade, a Tubonews entrou com ação na Justiça.

A Tubonews alega também que o total devido e já vencido de pagamento pela Cesan corresponde ao valor de R$ 23,3 milhões, referente aos meses de janeiro, fevereiro e março de 2025. Para o mês de abril, a Cesan teria débitos a vencer de R$ 8,3 milhões, o que totalizaria o valor devido de R$ 31,7 milhões.

Arquivos & Anexos

Posicionamento da Tubonews na íntegra

Empresa diz que nunca houve má prestação dos serviços realizados no Espírito Santo

Tamanho de arquivo: 185kb

O que diz a Cesan

Procurada pela reportagem a respeito das acusações da Tubonews, a Cesan informou que o processo administrativo que resultou nas glosas das notas fiscais foi iniciado em 2019, portanto, sem qualquer relação com o certame citado pela empresa. “As glosas ocorreram em razão da má prestação de serviços à população capixaba, como atrasos recorrentes na execução das ordens de serviço e descumprimento de prazos contratuais”, declarou a companhia.

"Trata-se de uma ação administrativa pautada na legalidade e na responsabilidade com os recursos públicos e com a qualidade dos serviços prestados à sociedade. Não há qualquer motivação pessoal ou direcionamento nas decisões tomadas. O objetivo exclusivo da companhia é garantir que os serviços sejam mantidos com efetividade, eficiência e respeito aos capixabas", destacou a estatal.

Atualização
22/04/2025 - 20:55hrs
O texto foi atualizado com nova nota enviada pela Tubonews após a publicação desta reportagem,

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