Devanir Sales, de 78 anos, está se recuperando de uma cirurgia que fez nos olhos e mesmo assim recebeu a equipe da TV Gazeta para falar sobre o resultado do julgamento de Georgeval Alves Gonçalves, condenado por estuprar, torturar e matar dois netos dela. O crime aconteceu no dia 21 de abril de 2018. Kauã Sales Butkovsky, de 6 anos, era enteado dele, e Joaquim Alves Sales, 3 anos, filho do ex-pastor – que foi condenado a 146 anos e 4 meses de prisão após o julgamento concluído na última quarta-feira (19).
Nesta sexta-feira (21), Devanir conversou, com exclusividade, com o repórter Tiago Félix, da TV Gazeta. Ela comentou o resultado do julgamento do ex-pastor. Durante a entrevista, ela disse que não o perdoa, falou da saudade dos netos e da vida da neta Juliana Sales.
Após o crime e as prisões dos ex-pastores, foi ela quem ficou com a guarda provisória do filho mais novo que Juliana teve com Georgeval. À época, o menino tinha nove meses. Um tempo depois, Juliana teve a guarda recuperada e está com a criança, após a Justiça determinar que não havia indícios nos autos que indicassem que ela teria cometido algum desses crimes. Assim, a ex-pastora não virou ré no processo.
Devanir Sales é mãe do pai de Juliana. Moradora do bairro Interlagos, em Linhares, ela trabalha como cabeleireira, costureira e artesã. A bisavó de Kauã e Joaquim contou que foi ela quem ajudou a criar a neta Juliana. Antes da tragédia, via os bisnetos com frequência.
Quando soube do incêndio, por volta de 4h, Devanir não conseguiu mais dormir. Ela contou que estava em casa, no bairro Interlagos, e entrou em pânico. Ao relembrar o caso, a bisavó dos meninos demorou a acreditar que os dois bisnetos tinham morrido em um incêndio.
"Parecia que estavam gritando: 'Vovó, me acode!'. Eu estava tremendo tanto que eu queria pular a janela para socorrer eles, mas não teve como eu ir. Como você imagina que aquele ser humano (Georgeval) tem uma mente tão cruel?", questiona.
Juliana Sales, que também era pastora na época do fato e esposa de Georgeval, não foi a julgamento. Ela foi presa duas vezes durante a apuração do caso. A primeira foi em junho de 2018, mas conseguiu liberdade no dia 7 de novembro do mesmo ano.
Uma semana depois, Juliana foi detida novamente e ficou presa, provisoriamente, até o dia 30 de janeiro de 2019. Depois, não voltou mais para a prisão. Nesta ocasião, a mãe de Joaquim e Kauã foi acolhida na casa da avó paterna, Devanir.
O pai de Juliana morava em um imóvel aos fundos e ela sempre o visitava. Depois da morte das crianças, a cabeleireira percebeu que a neta havia parado de comer e beber por cerca de 15 dias. Ela lembra que Juliana chorava muito e pedia os filhos de volta.
"Tive que ligar para a mãe dela levá-la ao médico. Ela chorava, ajoelhada no chão, pedindo os filhos de volta, dizendo que o que aconteceu era uma covardia. Aquilo dói na gente. Ela faz tratamento até hoje. Depois que ela teve uma melhora e fez um curso de salva-vidas, fez um curso de enfermagem, está para terminar. Hoje ela conversa e tudo, mas a gente que é mãe sabe que não passa a dor", lamenta Devanir.
Quase cinco anos depois da morte dos irmãos Kauã e Joaquim, o ex-pastor Georgeval Alves Gonçalves foi levado ao banco dos réus no Fórum Desembargador Mendes Wanderley, no bairro Três Barras, em Linhares.
O julgamento começou terça-feira (18) e terminou na quarta-feira (19). Em nenhum dos dois dias, os familiares de Juliana Alves, mãe das crianças, acompanharam os trabalhos presididos pelo juiz Tiago Camata.
Questionada sobre o paradeiro de Juliana e o motivo dela nunca ter dado entrevista ou se pronunciado sobre o caso, a avó revelou que a mãe de Kauã e Joaquim se casou novamente e está morando em Guarapari com o novo companheiro.
"Ela não sabia disso. Ela era muito caprichosa, não deixava eles sozinhos, todo dia a babá estava lá cuidando, eu via. Cuidava perfeitamente. Não sei porque ela nunca deu entrevista. O que ela passou, acho que não tem força para falar, ela desmaia. O coração dela não está no normal, a mente dela está fervendo", destaca.
Após dois dias de julgamento, os jurados de Linhares decidiram condenar Georgeval Alves Gonçalves a 146 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de homicídio qualificado, estupro de vulnerável e tortura contra os meninos Kauã e Joaquim.
Devanir disse que após a condenação de Georgeval, está tentando seguir a vida. "Estou com Deus. Ele que me guia, tenho muita fé que eu vou vencer, em nome de Jesus", finalizou.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta