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Entenda por que juiz do ES mandou tirar Telegram do ar

Entenda por que juiz do ES mandou tirar Telegram do ar

Justiça Federal do Espírito Santo determinou ainda pagamento de multa diária de R$ 1 milhão até que a empresa entregue informações à polícia sobre grupos extremistas

Publicado em 27 de abril de 2023 às 13:23

Ícone - Tempo de Leitura 3min de leitura

Logo do aplicativo de mensagens Telegram, que tem sido pressionado a atuar contra desinformação.
Determinação é que Telegram forneça dados de todos os usuários dos grupos extremistas. (Kirill Kudryavtsev/AFP)
Felipe Sena
Estagiário / [email protected]

A determinação de tirar do ar o aplicativo Telegram em todo o Brasil, nesta quarta-feira (26), partiu da 1ª Vara Federal de Linhares, no Espírito Santo. Após a Polícia Federal ter examinado o celular do autor dos ataques a duas escolas que matou quatro pessoas em Aracruz, no Litoral Norte do Estado, foram encontrados dois grupos extremistas onde eram disseminados conteúdo neonazista.

Nesses grupos, os usuários compartilhavam vídeos com assassinatos violentos, publicações de incentivo à violência, apologia ao nazismo e até tutoriais para fabricação de bombas. A PF, então, encaminhou à Justiça Federal em Linhares, no dia 14 de abril, pedido para a quebra do sigilo dos dados em sistemas de informática e telemática do canal do chat dos grupos no aplicativo. A partir daí, é possível identificar alguns motivos que levaram à suspensão da plataforma.

Dados apenas do administrador, não dos membros

No despacho, o juiz federal Wellington Lopes da Silva lembrou que determinou ao Telegram o fornecimento dos dados de todos os usuários do canal e do chat dos dois grupos. A empresa, no entanto, entregou apenas os dados do administrador do grupo.

Não atendimento da ordem judicial

Com isso, o juiz escreve, no texto da decisão, que "essa empresa cumpriu apenas parcialmente a ordem judicial que lhe foi dirigida, uma vez que se limitou a fornecer as informações concernentes ao administrador (e não a todos os usuários) do canal, deixando, ademais, de fornecer os dados dos usuários". No pedido, que foi acatado pela justiça, a Polícia Federal frisou que "as informações fornecidas não atendem à ordem judicial". 

'Alegação genérica'

Na resposta enviada à polícia, o Telegram não entregou os dados dos usuários do grupo que foram solicitados pela equipe de investigação, alegando que "o grupo já foi deletado". O juiz, contudo, chamou a alegação de genérica, sublinhando, inclusive, essa parte no texto. 

Não cooperação da plataforma e multa mais pesada

Para o juiz, a plataforma tem se negado a cooperar. Por isso, aumentou o valor da multa para R$ 1 milhão por dia, caso o Telegram não entregue as informações solicitadas. Anteriormente, o valor era de R$ 100 mil. "Como os fatos demonstrados pela autoridade policial revelam evidente propósito do Telegram de não cooperar com a investigação em curso, majoro a multa anteriormente cominada para R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) por cada dia de atraso", determinou. 

Apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública

A decisão do juiz de Linhares recebeu apoio do ministro da Justiça, Fávio Dino, durante pronunciamento feito no Ceará: "Quando eu estava chegando aqui, soube do acolhimento, pelo Poder Judiciário, de um pedido da Polícia Federal de tirar do ar uma rede social que estava abrigando um grupo neonazista chamado Frente Antissemita, com uma simbologia de uma suástica, difundindo essa ideologia da morte, do ódio, no meio da juventude", declarou o ministro.

"Este combate é necessário, porque a violência, hoje, se espraia nos nossos lares de modo invisível", reforçou Dino. O trecho do pronunciamento foi compartilhado pelo ministro e pode ser visto abaixo. O despacho assinado pelo juiz federal Wellington Lopes da Silva pode ser lido na íntegra clicando aqui

Retirada dos aplicativos das lojas

Ainda no despacho, as operadoras de telefonia devem suspender o funcionamento da plataforma logo após o recebimento da ordem. Também ficou determinado que Google e Apple tirem o aplicativo de suas respectivas lojas. 

Trecho da decisão que determinou a retirada do Telegram do ar
Trecho da decisão que determinou a retirada do Telegram do ar. (Reprodução Justiça Federal)

Sobre as operadoras, a Conexis Brasil, antigo Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e Telecomunicações (SindiTelebrasil), respondeu, por meio de nota, que "as operadoras de telecomunicações associadas à Conexis Brasil Digital atenderão a ordem judicial nos termos legais". A entidade reúne as operadoras Vivo, Claro, Oi, Tim, Algar e Sercomtel. A Tim também entrou em contato com a reportagem, afirmando que já cumpriu a decisão.

Entretanto, na manhã desta quinta-feira (27), a reportagem de A Gazeta procurou o aplicativo tanto na PlayStore (Android) e AppStore (iOS) e viu que o Telegram ainda estava disponível em ambas.

Reportagem verificou que os aplicativos não foram retirados das lojas
Reportagem verificou, na manhã desta quinta, que os aplicativos não foram retirados das lojas. (Montagem A Gazeta)
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