O desembargador Eder Pontes da Silva, do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), negou nesta quarta-feira (31) o habeas corpus pedido pelo veterinário e político do PL Thiago Oliveira do Nascimento, investigado pelo Ministério Público estadual por suspeita de extorquir um milionário indiano. Segundo o magistrado, a decretação de prisão é comprovadamente imprescindível para a conclusão das investigações. A decisão é liminar, ou seja, temporária.
Na decisão, o juiz elenca as situações encontradas na investigação até o momento, que apontam que Thiago teria usado fotos e outros registros tirados do celular de uma brasileira com quem o empresário indiano teve um relacionamento extraconjugal por seis anos, para exigir pagamentos em criptomoedas.
Ressaltou ainda que, durante a prisão dele, foi encontrado um grande arsenal, com armas de fogo, inclusive de grosso calibre, munições, um simulacro de granada e coletes balísticos. Além disso, foi apreendido, no quarto de hotel de luxo onde Thiago estava hospedado, um aparelho "Flipper Zero", usado por hackers para clonar crachás e abrir fechaduras eletrônicas, entre outros fins.
"Diante de todo o exposto, é patente a necessidade da manutenção da prisão temporária de Thiago Oliveira do Nascimento e o perigo gerado caso seja colocado em liberdade, haja vista a alta complexidade de investigação que o caso impõe, considerando a gravidade dos atos supostamente praticados pelo paciente, a apreensão de aparelhos eletrônicos de elevado grau de tecnologia e diversos modelos de arma de fogo, bem como a forma que o paciente supostamente operava as transações financeiras", escreveu o desembargador.
O veterinário foi preso na última terça-feira (23) e teve a prisão temporária prorrogada por mais cinco dias pela juíza Paula Cheim Jorge, da 2ª Vara Criminal de Vila Velha, na sexta-feira (26). O prazo de prisão dele termina às 23h59 de quinta-feira (1).
O primeiro desembargador a julgar o habeas corpus impetrado pela defesa de Thiago se declarou suspeito de analisar o caso por "motivo de foro íntimo" na segunda-feira (29). Assim, o processo foi redistribuído e chegou ao gabinete do desembargador Eder Pontes Silva.
A defesa de Thiago foi procurada por A Gazeta, mas afirmou que, por enquanto, não vai se manifestar.
O veterinário Thiago Oliveira do Nascimento é investigado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e suspeito de praticar extorsão, coação e ameaça contra um milionário indiano.
Desde outubro de 2023, Nascimento é filiado ao PL e era até considerado por atores políticos canelas-verdes como possível candidato à Prefeitura de Vila Velha em 2024. Em 2022, disputou uma vaga de deputado estadual pela Rede.
O veterinário foi preso em um hotel de Vitória. Naquela terça-feira (23), mandados de busca e apreensão também foram cumpridos em endereços ligados a ele.
Segundo a decisão do dia 26, à qual a colunista Letícia Gonçalves teve acesso, foram encontrados, na cabeceira da cama do quarto do hotel, uma arma de fogo, uma pistola Taurus .380. e um "distintivo CAC do Exército", o que indica que o suspeito tem registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC).
Ainda no quarto, estavam 92 munições, R$ 14 mil em dinheiro e um "aparelho hacker". O relatório do Gaeco descreve o "Flipper Zero" como "aparelho famigeradamente utilizado por 'hackers', proibido pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações)".
"Tal aparelho torna sistemas de segurança mais vulneráveis, capaz de interagir com interfaces digitais no mundo físico, incluindo clonar sinais de RFID e NFC, usados em crachás, chaves eletrônicas, celulares que fazem pagamentos por aproximação, análise de protocolos de rádio, abertura de portas de carros, catracas e fechaduras eletrônicas e sistemas de controle de acesso, tudo através de 'clonagem'. Utilizado de forma maliciosa, a cópia realizada com o aparelho o FLIPPER ZERO pode ser usada para acessar áreas restritas, fazer pagamentos indevidos ou roubar informações pessoais", diz o relatório, citado na decisão judicial.
A suspeita é que Thiago Oliveira do Nascimento extorquiu ao menos US$ 1,8 milhão do indiano ao ameaçar divulgar imagens e mensagens que comprovariam que o empresário, casado, manteve um caso extraconjugal com uma brasileira. Os pagamentos ocorreram, de acordo com o Gaeco, entre 2021 e 2023, via criptomoedas.
Simulacros de granada
No apartamento em que Nascimento mora, em Itapoã, Vila Velha, o Gaeco encontrou dois simulacros de granada M67, dois rifles, mais munições e relógios de marcas de luxo, como Rolex e Montblanc.
"Após a prisão do investigado, identificou-se potencial esquema de lavagem de ativos arrecadados a partir da extorsão praticada, com a participação de interpostas pessoas a serviço de Thiago", escreveu a juíza, ao prorrogar a prisão temporária.
Ou seja, mais pessoas podem ser abarcadas pelo Procedimento de Investigação Criminal (PIC) que tramita no Ministério Público Estadual.
O que diz o PL
Em comunicado enviado à imprensa, o PL de Vila Velha, presidido por Carlos Salvador, afirmou que "o partido não pode ser responsabilizado pelos atos individuais de seus afiliados" e "repudia firmemente qualquer conduta que não esteja alinhada com valores morais sólidos".
"Em nenhum momento, o senador Magno Malta, presidente do PL-ES, ou qualquer representante oficial do partido, declarou Thiago Oliveira como pré-candidato. Portanto, não podemos nos responsabilizar por especulações políticas envolvendo o seu nome", diz ainda a nota.
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