Novos vídeos divulgados pela Polícia Civil nesta segunda-feira (19) mostram que o músico Guilherme Rocha, de 37 anos, foi duas vezes pedir silêncio ao policial militar Lucas Torrezani de Oliveira, de 28 anos, antes de ser morto com um tiro disparado pelo soldado. As imagens mostram ainda que o soldado ainda tentou impedir a esposa de entrar no local e prestar socorro à vítima.
As investigações mostraram que Guilherme morava no térreo do prédio, perto da área de lazer onde Lucas costumava fazer festas com os amigos que duravam até tarde.
A proximidade do apartamento deles fazia com que o barulho das músicas e conversas atrapalhassem as noites de sono da família. "Guilherme tinha feito pelo menos duas ocorrências do barulho. Um fato que é importante frisar é que a vítima não conhecia o autor", explicou o declarou o titular da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa de Vitória (DHPP), Marcelo Cavalcanti.
Lucas, Jordan e um terceiro homem chegaram por volta das 22h30 na área de festa no dia do crime, onde começaram a beber e conversar em voz alta. Às 2h22, Guilherme foi ao local e pediu, pela primeira vez, que eles baixassem o tom das conversas. Os três saíram do local, mas retornaram às 2h37.
Às 2h59, Guilherme volta até a porta do local, olha e retorna para o apartamento. Às 3h02, Guilherme volta ao local para pedir que eles reduzissem o barulho. Nesse momento, Lucas sacou a arma de fogo que portava e intimidou a vítima dizendo “eu sou PM, o que você vai fazer?”. Jordan se aproximou em seguida.
Na sequência, Lucas, com a arma de fogo em punho na mão direita e um copo com bebida alcoólica na mão esquerda, se aproximou da vítima e projetou o cano da arma por duas vezes em direção ao tórax dela, e em seguida bateu o cano da arma no rosto de Guilherme.
Guilherme, então, foi empurrado por Jordan, perdendo o equilíbrio. Após isso, Lucas efetuou um disparo de arma de fogo contra o músico.
Ainda ferido, Guiherme tentou fugir do local, mas caiu no chão, enquanto Lucas terminava de ingerir a bebida alcoólica.
A versão combinada pelos investigados dava conta de que o disparo foi efetuado, pois o músico teria tentado pegar a arma do policial. Essa versão, no entanto, não se sustenta, segundo o delegado Marcelo Cavalcanti.
"Os autos revelam que em nenhum momento o Lucas atuou em legítima defesa e, sim, ele executou a vítima com requintes de crueldade", pontuou.
"A posição da vítima em relação ao atirador indicam um baixo risco para o atirador. Ele não apresentava risco iminente de tomar a arma do atirador", explicou o perito criminal Vinícius Médici.
"Quando a vítima leva as mãos para a arma, não dá para afirmar se ela queria tomá-la, se foi um ato de raiva, ou se estava desesperadamente tentando evitar que as agressões continuassem, a gente vê o atirador saindo do quadro com a arma abaixada. Ele gira o corpo, afastando a arma da vítima", prosseguiu.
"Nesse momento, ocorre o empurrão e, logo em seguida, você vê a sombra, que a gente acredita que seja a arma. Ou seja, durante o empurrão, o atirador com arma abaixada não conseguiria efetuar o disparo com a distância que a gente observou do ponto de entrada do projétil e a posição da vítima na cena", continuou.
"A partir do momento que Guilherme começa sair um pouco da situação passiva, quando é agredido, Jordan parte para cima dele e efetua um empurrão. Esse empurrão acaba mitigando a possibilidade de defesa da vítima, afasta, desequilibra a vítima. Acaba aparecendo um espaço na janela temporal aí que permite que o atirador ele efetue o disparo", completou ao explicar que o tiro foi efetuado no momento em que a vítima perdeu o equilíbrio após o empurrão.
Após matar o músico Guilherme Rocha, de 37 anos, em Jardim Camburi, Vitória, o soldado da Polícia Militar Lucas Torrezani de Oliveira, de 28 anos, criou um grupo em uma rede social para combinar o depoimento dado à Polícia Civil com o colega Jordan Ribeiro de Oliveira e uma terceira testemunha.
A informação sobre o grupo foi dada na manhã desta segunda-feira (19), durante coletiva de imprensa da Polícia Civil sobre a conclusão do inquérito investigativo.
"Eles tinham dois grupos, o primeiro grupo eles deram o nome de 'Cadê Mateus?'. Esse grupo servia para marcar aqueles algazarras que eram feitas no no prédio, encontros regrados à bebida e a drogas", declarou o titular da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa de Vitória (DHPP), Marcelo Cavalcanti. Foi nesse primeiro grupo em que o policial militar debochou da morte de Guilherme.
"A partir daí, após a versão mentirosa que ele (Lucas) apresentou na delegacia, sentiu a necessidade de continuar mantendo aquela mentira", prosseguiu o delegado. Foi aí que o policial militar criou um segundo grupo intitulado "AA".
"Constam nos altos e a gente vê que só reforça que a versão inicialmente era mentirosa, quando a gente descobre que eles tentam inventar fatos para tentar fugir da culpa", declarou o delegado.
A Justiça aceitou a denúncia contra o soldado Lucas Torrezani de Oliveira, acusado de matar o músico Guilherme Rocha, em abril deste ano. Eles moravam em um mesmo condomínio de Jardim Camburi, em Vitória. O policial deu um tiro no ombro de Guilherme depois que o vizinho apareceu na área comum do imóvel para reclamar do barulho que o PM e alguns convidados faziam durante a madrugada.
Além do militar, um amigo dele, que estava na festa, também virou réu. Segundo a decisão da juíza Lívia Regina Savergnini Bissoli Lage, da 1ª Vara Criminal de Vitória, Jordan Ribeiro de Oliveira teria empurrado o músico durante a discussão, o que fez com que ele perdesse o equilíbrio e caísse. Já no chão, Guilherme foi baleado.
Também foi pedida a prisão preventiva do PM Lucas. Ele já está detido desde o dia seguinte do crime no Quartel da Polícia Militar, onde deve permanecer preso. A juíza entendeu que há indícios suficientes de que ele foi responsável pela morte do músico. Ela destacou ainda que os parentes do militar, que são testemunhas do processo, têm medo de falar sobre o caso, o que também justificaria a manutenção da prisão.
Lucas responderá por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima combinado ao abuso de autoridade. Jordan responderá por participação e seguirá em liberdade por enquanto.
Procurada para se posicionar sobre o assunto, a defesa de Lucas Torrezani de Oliveira disse, em nota enviada no final da tarde de sábado (17), que ainda não foi intimada da decisão judicial. "Entretanto, restou provado ao longo do Inquérito Policial que o aludido não colocará em risco o andamento do processo, tendo em vista que no atual cenário não se encontram presentes os requisitos da prisão preventiva insculpidos no artigo 312 do Código de Processo Penal".
Ainda conforme o posicionamento da defesa, "tal decisão será combatida no intuito de demonstrar que não há fundamentos para se sustentar uma segregação prisional, e espera-se que o Judiciário faça essa reparação. Cabe ressaltar que a presente ação se encontra na fase embrionária e no momento oportuno será esclarecida a realidade dos fatos. Todas as medidas serão tomadas para esclarecimento da verdade", finalizou.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta