A Polícia Militar abriu um processo administrativo demissionário contra o soldado Lucas Torrezani de Oliveira. Ele é acusado de matar o músico Guilherme Rocha em abril deste ano, no condomínio em que os dois moravam, no bairro Jardim Camburi, em Vitória, e pode ser excluído da corporação. A informação foi confirmada pela PM para A Gazeta.
O prazo para a conclusão do processo é de 60 dias, mas pode ser prorrogado por mais 30, a partir da data de abertura – não informada pela PM. A decisão pela demissão ou permanência do policial sai após a análise do Conselho de Justificação e o Conselho de Disciplina, conforme destaca o Código de Ética e Disciplina dos Militares Estaduais (CEDME).
Lucas Torrezani de Oliveira se encontra afastado de todas as funções na corporação e segue preso no presídio militar.
Mesmo preso e alvo de processo demissionário, o militar seguirá recebendo o salário líquido de R$ 4.031,60. A Polícia Militar explicou que, “a cessão de recebimento de salário por qualquer servidor público depende de determinação judicial, ou da finalização de um processo demissionário.”
A reportagem de A Gazeta procurou a defesa do policial militar para ter um posicionamento a respeito do processo administrativo demissionário aberto contra ele, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
O artigo 14 do Código de Ética da Polícia Militar destaca que o agente estadual que, por sua atuação, se tornar presumivelmente incompatível com o cargo ou demonstrar incapacidade para o exercício de suas funções, será submetido a Processo Administrativo Demissionário com a finalidade de se avaliar a sua permanência na corporação.
A Justiça aceitou a denúncia contra o soldado Lucas Torrezani de Oliveira, de 28 anos. Além do militar, um amigo dele, que estava na festa, também virou réu. Segundo a decisão da juíza Lívia Regina Savergnini Bissoli Lage, da 1ª Vara Criminal de Vitória, Jordan Ribeiro de Oliveira teria empurrado Guilherme Rocha, de 37 anos, durante a discussão, o que fez com que ele perdesse o equilíbrio e caísse.
Também foi pedida a prisão preventiva de Lucas. Ele está detido desde o dia seguinte do crime no Quartel da Polícia Militar, onde deve permanecer preso. A juíza entendeu que há indícios suficientes de que ele foi responsável pela morte do músico. Ela destacou ainda que os parentes do militar, que são testemunhas do processo, têm medo de falar sobre o caso, o que também justificaria a manutenção da prisão.
Lucas é réu por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima combinado a abuso de autoridade. Já Jordan vai responder por participação no crime, como coautor.
Novos vídeos divulgados pela Polícia Civil na segunda-feira (19) mostram que o músico foi duas vezes pedir silêncio ao policial militar Lucas, antes de ser morto com um tiro disparado pelo soldado. As imagens mostram ainda que o soldado ainda tentou impedir a esposa de entrar no local e prestar socorro à vítima.
As investigações mostraram que Guilherme morava no térreo do prédio, perto da área de lazer onde Lucas costumava fazer festas com os amigos que duravam até tarde.
A proximidade do apartamento deles fazia com que o barulho das músicas e conversas atrapalhassem as noites de sono da família. "Guilherme tinha feito pelo menos duas ocorrências do barulho. Um fato que é importante frisar é que a vítima não conhecia o autor", explicou o declarou o titular da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa de Vitória (DHPP), Marcelo Cavalcanti.
Lucas, Jordan e um terceiro homem chegaram por volta das 22h30 na área de festa no dia do crime, onde começaram a beber e conversar em voz alta. Às 2h22, Guilherme foi ao local e pediu, pela primeira vez, que eles baixassem o tom das conversas. Os três saíram do local, mas retornaram às 2h37.
Às 2h59, Guilherme volta até a porta do local, olha e retorna para o apartamento. Às 3h02, Guilherme volta ao local para pedir que eles reduzissem o barulho. Nesse momento, Lucas sacou a arma de fogo que portava e intimidou a vítima dizendo “eu sou PM, o que você vai fazer?”. Jordan se aproximou em seguida.
Na sequência, Lucas, com a arma de fogo em punho na mão direita e um copo com bebida alcoólica na mão esquerda, se aproximou da vítima e projetou o cano da arma por duas vezes em direção ao tórax dela, e em seguida bateu o cano da arma no rosto de Guilherme.
Guilherme, então, foi empurrado por Jordan, perdendo o equilíbrio. Após isso, Lucas efetuou um disparo de arma de fogo contra o músico.
Ainda ferido, Guiherme tentou fugir do local, mas caiu no chão, enquanto Lucas terminava de ingerir a bebida alcoólica.
A versão combinada pelos investigados dava conta de que o disparo foi efetuado, pois o músico teria tentado pegar a arma do policial. Essa versão, no entanto, não se sustenta, segundo o delegado Marcelo Cavalcanti.
"Os autos revelam que em nenhum momento o Lucas atuou em legítima defesa e, sim, ele executou a vítima com requintes de crueldade", pontuou.
"A posição da vítima em relação ao atirador indicam um baixo risco para o atirador. Ele não apresentava risco iminente de tomar a arma do atirador", explicou o perito criminal Vinícius Médici.
"Quando a vítima leva as mãos para a arma, não dá para afirmar se ela queria tomá-la, se foi um ato de raiva, ou se estava desesperadamente tentando evitar que as agressões continuassem, a gente vê o atirador saindo do quadro com a arma abaixada. Ele gira o corpo, afastando a arma da vítima", prosseguiu.
"Nesse momento, ocorre o empurrão e, logo em seguida, você vê a sombra, que a gente acredita que seja a arma. Ou seja, durante o empurrão, o atirador com arma abaixada não conseguiria efetuar o disparo com a distância que a gente observou do ponto de entrada do projétil e a posição da vítima na cena", continuou.
"A partir do momento que Guilherme começa sair um pouco da situação passiva, quando é agredido, Jordan parte para cima dele e efetua um empurrão. Esse empurrão acaba mitigando a possibilidade de defesa da vítima, afasta, desequilibra a vítima. Acaba aparecendo um espaço na janela temporal aí que permite que o atirador ele efetue o disparo", completou ao explicar que o tiro foi efetuado no momento em que a vítima perdeu o equilíbrio após o empurrão.
Após matar o músico, o soldado criou um grupo em uma rede social para combinar o depoimento dado à Polícia Civil com o colega Jordan e uma terceira testemunha.
"Eles tinham dois grupos, o primeiro grupo eles deram o nome de 'Cadê Mateus?'. Esse grupo servia para marcar aqueles algazarras que eram feitas no prédio, encontros regrados à bebida e a drogas", declarou o titular da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa de Vitória (DHPP), Marcelo Cavalcanti. Foi nesse primeiro grupo em que o policial militar debochou da morte de Guilherme.
"A partir daí, após a versão mentirosa que ele (Lucas) apresentou na delegacia, sentiu a necessidade de continuar mantendo aquela mentira", prosseguiu o delegado. Foi aí que o policial militar criou um segundo grupo intitulado "AA".
"Constam nos altos e a gente vê que só reforça que a versão inicialmente era mentirosa, quando a gente descobre que eles tentam inventar fatos para tentar fugir da culpa", declarou o delegado.
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