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PMs são indiciados por crime militar após denúncia de estupro em Viana

PMs são indiciados por crime militar após denúncia de estupro em Viana

Corregedoria apontou que há indícios de crime durante abordagem denunciada por moradora no final de setembro; aós a conclusão das investigações, o MPES deve analisar o caso

Publicado em 16 de dezembro de 2022 às 09:18

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Dois policiais militares do Espírito Santo foram indiciados por crime militar em uma denúncia de estupro de uma moradora de Viana no fim do mês de setembro registrada junto à Polícia Civil e à Corregedoria da Polícia Militar. Ao denunciar o caso, a mulher de 49 anos disse ter sido estuprada por um dos policiais dentro de um quarto na casa dela, durante uma abordagem policial. O caso foi denunciado em setembro e divulgado em A Gazeta no dia 5 de outubro, sendo acompanhado pela reportagem desde então. Os nomes dos PMs envolvidos no caso – um cabo e um soldado – não foram divulgados.

Na ocasião, a mulher relatou ao registrar a ocorrência em uma delegacia que uma equipe formada por três militares teria invadido a residência dela sem autorização judicial, alegando estarem em busca de algo ilícito (que não foi encontrado). Eles tiveram comportamentos diferentes dentro da casa, envolvendo agressões aos filhos da vítima – um deles tem 15 anos. Conforme o boletim de ocorrência, durante a ação, um dos policiais, segundo ela, a ordenou que entrasse no quarto, fechasse as janelas e a estuprou.

Mulher alega ter sido estuprada por PM dentro da própria casa onde morava, em Viana, na Grande Vitória
Mulher alega ter sido estuprada por PM dentro da própria casa onde morava, em Viana, na Grande Vitória. (Reprodução/TV Gazeta)

Na ocasião da denúncia, a Polícia Militar havia informado à reportagem que precisaria de ao menos 60 dias para apuração do caso. Desde terça-feira (13), mais de 70 dias após o registro do boletim de ocorrência, a corporação tem sido procurada para informar sobre a investigação. Em entrevista exclusiva ao site A Gazeta, o corregedor da PM, coronel Anderson Loureiro Barboza, informou que, nesta quinta-feira (15), dois militares que participaram da ação foram indiciados por crime militar: o suspeito de cometer o estupro e o que teria agredido os filhos da mulher. A decisão foi tomada no mesmo dia da entrevista.

A Polícia Militar do Espírito Santo entendeu que houve indício de crime de natureza militar, com a suposta violação de domicílio e abuso de autoridade consequente da entrada na residência sem autorização. A corporação explicou que o crime militar corresponde a um crime cometido durante o exercício da função.

De acordo com a Polícia Militar, após a denúncia, foi instaurado um inquérito para apurar o caso. Após ser concluído, o inquérito foi encaminhado ao Ministério Público do Espírito Santo, com o indiciamento dos dois militares. A Promotoria de Justiça, junto à Auditoria Militar, agora vai receber o documento para a análise. No âmbito disciplinar, segundo a corporação, a infração no Código de Ética está sendo analisada.

Apesar de os dois terem sido indiciados, apontando a possibilidade de crime, eles continuam trabalhando normalmente desde o início do processo. Segundo nota enviada pela Polícia Militar, o indiciamento não exige, necessariamente, o afastamento do policial. O Código de Ética e Disciplina dos Militares do Espírito Santo permite que os investigados continuem trabalhando durante a análise da denúncia.

Ao site A Gazeta, o corregedor da PM informou que a decisão de não afastar os militares pode ser reavaliada durante o processo.

"O afastamento cautelar não é uma regra, é usada como exceção. Para adotar essa medida, que está prevista, não podemos fazer apenas pelo fato noticiado. O fato é gravoso, mas é preciso analisar as condições em que eles estão inseridas. Apesar de a notícia ser muito impactante, não foi entendido como suficiente para o afastamento. Isso pode ser reavaliado durante o processo", afirmou.

Ao explicar por que, da equipe de três militares, apenas dois foram indiciados, a Polícia Militar ressaltou que as condutas e a responsabilização são individualizadas, conforme prevê a legislação. Isso significa que a Justiça vai analisar individualmente o que cada um pode ter feito durante a ação na residência da moradora em Viana.

Perguntado sobre o que pode acontecer com os dois PMs indiciados, o corregedor afirmou que é preciso chegar ao fim do processo, que é sigiloso. Caso sejam punidos, podem receber uma advertência, mas também podem ser demitidos.

Aspas de citação

Não há como prever o que pode acontecer com os dois PMs. Só saberemos ao final do processo. Mas, no campo da possibilidade, podemos ainda reconhecer a inocência, há previsão de advertência e também de demissão

Coronel Loureiro
Corregedor da PMES
Aspas de citação

A Gazeta procurou o Ministério Público do Espírito Santo nesta sexta-feira (16) para saber se o inquérito militar foi recebido e se há um prazo para a tomada de alguma decisão. O MPES, caso encontre provas, pode oferecer uma denúncia contra os militares. Mas também é possível que o caso seja arquivado.

Também procurada pela reportagem, a Polícia Civil informou que o caso segue sob investigação da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Viana e, por ser um crime contra a dignidade sexual, detalhes não serão divulgados. O procedimento corre sob sigilo, e os nomes da mulher e dos filhos dela não estão sendo divulgados para não expor as vítimas e por questões de segurança.

A Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo (ACS/PMBM/ES) foi procurada para se manifestar sobre o caso, em nome dos militares denunciados. Assim que houver retorno, este texto será atualizado.

Relembre o caso: mulher relatou estupro e agressão aos filhos

No final de setembro deste ano, a mulher de 49 anos procurou uma delegacia para relatar que foi obrigada a tirar a roupa e teve as partes íntimas tocadas durante uma abordagem policial dentro da própria casa, em Viana. Antes disso, segundo relata a vítima, a equipe teria invadido a residência sem autorização judicial e agredido os dois filhos da mulher – um deles tem 15 anos. Os nomes da vítima e dos filhos não foram divulgados por motivo de segurança. O bairro onde a família mora também não será detalhado.

De acordo com o boletim, os policiais militares, vestidos com a farda da corporação, entraram na residência em Viana por volta das 18h30 do dia 26 de setembro. A mulher contou à polícia que os militares não tinham autorização para entrar na casa.

Mesmo sem autorização, os policiais começaram a abordagem dentro da residência. Sem encontrar nada, o trio de policiais teria começado a agredir os dois filhos da mulher. Um dos policiais teria ordenado que a mulher, dona da casa, fosse para um quarto e fechasse a janela. A ordem do militar era que a mulher tirasse a roupa toda.

Ao ficar completamente nua, a vítima começou a fazer agachamento, seguindo ordem do policial. Durante o exercício forçado, o policial teria tocado com a ponta do dedo a vagina e o ânus da mulher. A vítima contou à polícia que passou cinco minutos sozinha com o policial, passando pela situação abusiva, que conforme relatado, configura estupro.

Vítima relata abordagem abusiva em boletim de ocorrência
Vítima relatou abordagem abusiva em boletim de ocorrência. (Reprodução | Boletim de ocorrência)

O boletim traz em detalhes que o policial disse à vítima que não levaria o filho mais velho para a delegacia. Em troca, a mulher teria que se encontrar com o militar, fora do horário de trabalho, em determinado ponto do bairro. Segundo o boletim de ocorrência, o policial iria ao local com o carro particular.

De acordo com a advogada de defesa da vítima, Gislaine Salles, a mulher estava com muito medo do que poderia acontecer se descumprisse a ordem, por isso foi ao local marcado. O encontro não aconteceu e ela voltou para casa sem encontrar novamente o policial.

De acordo com a vítima, o mesmo policial teria entrado na casa novamente dois dias depois. Na nova abordagem, também durante o horário de serviço, o militar pediu que a vítima o encontrasse em outro ponto do bairro. Desta vez, a mulher não foi ao local. A advogada de defesa relatou que, desde então, a vítima precisou mudar de endereço e ainda tem medo de possíveis novas abordagens.

Após a informação de que os policiais foram indiciados, a reportagem procurou a advogada da vítima, a mulher responsável pela denúncia. Em nota, a advogada diz esperar que a "Justiça prevaleça" e discordou do não afastamento dos militares.

Advogada da vítima | Na íntegra

A defesa da vítima informa que tomou conhecimento do indiciamento dos policiais militares. A vitima, a sociedade, espera um processo justo e imparcial, que a Justiça prevaleça. 

Mesmo com o indiciamento, os policiais militares continuam trabalhando, ativos nas funções e inclusive, trabalhando no mesmo bairro onde se deram os fatos.

Muito embora exista um Código de Ética dos militares informando que o afastamento não é obrigatório, neste caso seria de extrema importância o afastamento dos indiciados, por ser tratar de crime hediondo, e principalmente porque a vitima preciso ficar em local incerto, como uma foragida por medo de represálias.

Seria no mínimo respeitoso a vitima, que os indiciados ficassem em atividades administrativas até a conclusão do processo. Foi um crime cruel, desumano, que só que é vitima desse crime repugnante entenderia a situação da vitima.

 Esperamos, imparcialidade e a mais cristalina Justiça

Dra. Gislaine Salles

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