Completando dois anos neste sábado (22), o acidente na Terceira Ponte que resultou na morte do jovem casal Kelvin Gonçalves dos Santos, de 23 anos, e Brunielli Oliveira, de 17 anos, segue sem desfecho na Justiça. Réus no processo judicial, o advogado Ivomar Rodrigues Gomes Junior, de 35 anos, e o estudante de Engenharia Oswaldo Venturini Neto, de 23 anos – que dirigiam os veículos Audi A1 e Toyota Etios em alta velocidade, provocando a colisão com a moto das vítimas – permanecem em liberdade, mediante restrições.
Os réus chegaram a ficar presos no início do processo. Ainda em maio de 2019, em razão de decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), foi expedido alvará de soltura em favor de Oswaldo e determinada a suspensão do direito de dirigir. Dias depois, Ivomar também foi solto, em virtude de um pedido de extensão do habeas corpus de Oswaldo.
Segundo o andamento do processo, que tramita na 1ª Vara Criminal de Vitória, haveria uma audiência que seria marcada principalmente para o interrogatório dos réus, em 19 de março deste ano. No entanto, em virtude da pandemia do coronavírus, ela não aconteceu e uma nova data ainda não foi marcada.
O advogado Siderson Vitorino, que atua para garantir os interesses das famílias das vítimas e é assistente de acusação, diz acreditar na condenação dos motoristas. "A audiência de instrução havia sido marcada. Agora temos que esperar marcarem novamente para interrogarem os réus. Já foram ouvidas as testemunhas do Ministério Público e do assistente de acusação, mas faltam as testemunhas dos dois réus e o interrogatório deles. Acredito na condenação dos dois acusados, até porque no caderno processual existe vasto arcabouço probatório da culpabilidade dos seus atos", afirmou.
Para a auxiliar de serviços gerais Jucélia Carolina Alves de Oliveira, mãe de Brunielli, a vida seguiu e ela teve outra filha, mas a dor permanece. Ela lamenta que ainda não tenha sido possível obter resultado da Justiça. "O que não muda é que ela não está mais com a gente. O tempo passou, eu engravidei e tive outra filha, que já tem oito meses, mas o sentimento de tristeza continua. Espero por justiça e por enquanto nada, está se arrastando", afirmou.
"Lembro muito dela. Era a filha mais apegada a mim, que me mandava mensagem... era muito carinhosa. No Dia das Mães ela sempre fazia homenagem. Faz muita falta. Tenho outros cinco filhos, mas é diferente", disse Jucélia.
Para Cleber Barbosa dos Santos, pai de Kelvin, permanece a mesma sensação de dor e saudade. "É muito difícil, a saudade é muita e a Justiça, até agora, nada", desabafou.
De acordo com Ludgero Liberato, um dos advogados de Oswaldo Neto, os acusados respondem em liberdade, mas mediante uma série de restrições impostas pela Justiça. "Eles não podem frequentar bares, restaurantes e devem permanecer em casa à noite e nos fins de semana. Agora o processo se encontra em fase de produção de provas pela acusação e pela defesa. Diversas testemunhas já foram ouvidas e essa fase apenas não foi concluída em razão da pandemia", afirmou.
Já a defesa de Ivomar, feita pelo advogado Fernando Admiral, afirma que não houve racha, mas um acidente. "O racha exige sentimento de uma disputa. O acidente gerou consequências graves, como qualquer acidente com vítimas fatais, mas o processo deve ser julgado de acordo com a realidade fática. Inclusive, uma das testemunhas já ouvidas relatou que, no momento do ocorrido, a iluminação era precária e várias lâmpadas da ponte estavam apagadas. Relatou, ainda, que a lâmpada da motocicleta estava queimada, sendo esses fatores determinantes para o acidente", afirmou.
Kelvin e Brunielli estavam em uma moto quando foram atingidos por um carro que, segundo a polícia, disputava um racha na Terceira Ponte, em maio de 2019. O laudo da perícia realizado no Audi — veículo que atingiu a moto — apontou que o excesso de velocidade do motorista do carro foi determinante para a morte do casal.
A polícia afirma que o racha era disputado pelo advogado Ivomar Rodrigues Gomes, que dirigia o Audi, com o universitário Oswaldo Venturini Neto, que conduzia um Ethios. Segundo a perícia, os dois motoristas estavam a 150 km/h na ponte e haviam ingerido bebidas alcoólicas.
Em depoimento que consta no inquérito policial, ao qual A Gazeta teve acesso com exclusividade à época, um amigo contou que esteve com Ivomar e com o estudante Oswaldo Venturini Neto no dia 21 de maio, à noite, em uma boate em Vitória. Segundo ele, os três consumiram cerveja long neck.
Ele não soube precisar a quantidade, mas declarou em depoimento que todos compraram fichas e beberam juntos. Relatou, ainda, que por volta de 22h30 disse que iria embora, mas Ivomar sugeriu tomar a "saideira" em uma boate em Vila Velha.
Além do relato, uma comanda da boate onde o estudante de Engenharia Osvaldo Venturini Neto e o advogado Ivomar Rodrigues Gomes Júnior estiveram antes de atropelar e matar o casal de namorados trouxe informações que puderam ajudar na apuração do caso.
Na parte de cima da comanda está escrito "Ivo", na frente do campo destinado ao nome do cliente. Logo ao lado aparece a data 21 de maio. A comanda traz anotações de bebidas que foram solicitadas no balcão da boate. Na parte da frente da comanda há anotação de uma água de coco e duas doses de uísque. Na parte de trás da comanda aparece uma marcação no combo de long neck.
Uma outra nota de simples conferência mostra que foram pedidas seis garrafas de cerveja. A nota também traz valores na frente de cada um dos produtos. O total, incluindo outros serviços da boate, foi de R$ 389,00.
A seção "Que fim levou?" de A Gazeta tem como objetivo resgatar casos antigos do Espírito Santo e mostrar qual desfecho eles tiveram. Lembra de algum fato marcante e gostaria de saber que fim levou? Envie e-mail para [email protected]
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