O assassino confesso do ex-governador Gerson Camata, Marcos Venicio Moreira Andrade, começou a ser julgado nesta terça-feira (3) no Fórum Criminal de Vitória. O júri, composto por sete mulheres, vai definir o destino dele. Marcos Venicio está preso preventivamente desde o dia do crime, 26 de dezembro de 2018.
Durante o julgamento, foram exibidos vídeos, gravados por câmeras de segurança, que mostram o momento do assassinato. O crime foi cometido durante o dia, em uma calçada da Praia do Canto.
Marcos Venicio assistiu sem esboçar emoção às imagens dos dois vídeos apresentados, mas abaixou a cabeça, desviando o olhar, no momento em que Camata, já ferido, cai no chão.
O sobrinho de Camata, o secretário de Estado de Controle e Transparência, Edmar Camata, que acompanhava o depoimento, deixou a sala pouco antes de ser exibido o momento da morte do tio. O filho da vítima, Bruno David Paste Camata, também.
Marcos Venicio foi às lágrimas ao ouvir o depoimento de duas das testemunhas de defesa, Antonio Carlos Franca e Clovis Menescau. Eles teceram elogios ao réu, disseram que ele era introvertido, mas simpático e costumava ajudar as pessoas.
Franca e Menescau eram também amigos de Gerson Camata.
Já uma das testemunhas arroladas pela acusação, o chef de cozinha Carlos Mariano Miranda Ayres, o Cassinho Ayres, contou que ouviu parte do que Marcos Venicio disse a Gerson Camata pouco antes do disparo de arma de fogo que matou o ex-governador.
"Mas me sinto roubado", afirmou o assassino, de acordo com a testemunha. Já ferido, Camata disse, ainda segundo Ayres: "Ele me matou, ele me matou".
O chef contou, em entrevista para A Gazeta, ainda em 2019, como foram esses momentos. Ele chegou a tentar socorrer o ex-governador, que morreu no local.
O crime ocorreu no dia seguinte ao Natal, em 26 de dezembro de 2018. Gerson Camata havia acabado de comprar um livro e cumprimentava conhecidos em uma calçada na Praia do Canto, em Vitória, quando foi abordado por Marcos Venicio, ex-assessor dele. Aos 77 anos, o ex-governador foi morto com um tiro, um crime que chocou o Espírito Santo.
Marcos Venicio foi detido em flagrante horas depois do assassinato e, no dia seguinte, a prisão foi convertida em preventiva. Ele é mantido no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Viana II.
Em 2019, o ex-assessor confessou o crime em interrogatório prestado ao juiz Felipe Bertrand Sardenberg Moulin, da 1ª Vara Criminal de Vitória. Na ocasião, afirmou que não premeditou o crime e que saber que tirou a vida do ex-chefe é uma “tortura diária”. "O presídio é muito duro, mas mais duro ainda é saber que tirei a vida dele", disse Marcos Venicio, de acordo com a transcrição das declarações prestadas por ele em juízo.
Assessor de Camata por 20 anos, Marquinhos, como é conhecido, foi denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPES) pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. Marcos Venicio relatou ao juiz que abordou a vítima para questionar sobre um processo judicial por danos morais movido por Camata, em que o ex-assessor teve cerca de R$ 60 mil na conta bancária bloqueados pela Justiça.
Ainda em 2019, o ex-assessor foi pronunciado – decisão para conduzi-lo a júri popular – pelo juiz Moulin. A decisão sobre a condenação ou não de Marcos Venicio vai ser tomada pelos jurados e a sentença será proferida pelo juiz de Direito.
Procurada pela reportagem, a advogada Junia Karla Passos Rutowistsch Rodrigues, umas das responsáveis pela defesa de Marcos Venicio, informou que aguarda um julgamento tranquilo e esclarecedor.
"Marcos é réu confesso e desde o fatídico dia, quando se apresentou espontaneamente e confessou o fato, contribui com a Justiça. Não esperamos pela absolvição, até mesmo porque ele já foi condenado há muito tempo, mas que os jurados e toda a sociedade possam conhecer a cronologia dos fatos desde 1986, quando o senador e ele se conheceram, e todos os eventos que se sucederam a partir de então", iniciou.
"A acusação pretende descaracterizar, desconstruir toda a sequência de fatos que ocorreram ao longo desses anos. A acusação qualificou o homicídio pelo pior desvalor humano, a torpeza, a ganância, tão repugnante que no rol das qualificadoras é a primeira, o que não é verdade. A defesa pretende, desde o início, esclarecer e permitir que Marcos tenha um julgamento justo e não um justiçamento a qualquer custo. Todos sofreram e ainda sofrem, e o Marcos não menos. Ele, como a pessoa justa e correta que foi ao longo de toda a vida, hoje sofre pelo seu ato que tirou a vida de um ser humano, sofre pelo seu ato que matou a pessoa que mais amava e, por fim, sofre na pele as consequências da prisão. Não pedimos clemência, mas sim Justiça", afirmou.
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