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'Judiciário não foi concebido para legislar', diz ministro do STF no ES

'Judiciário não foi concebido para legislar', diz ministro do STF no ES

André Mendonça esteve em Vitória na tarde desta sexta-feira (5) para debater a garantia da democracia e as eleições municipais

Publicado em 5 de julho de 2024 às 20:52

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Ministro André Mendonça durante a sessão da Segunda Turma do STF
André Mendonça fez referência aos recentes atritos entre Congresso Nacional e STF. (Gustavo Moreno/STF)
Julia Camim
Jornalista / [email protected]

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça afirmou, nesta sexta-feira (5), que não cabe ao Poder Judiciário legislar ou dizer o que é a lei, mas, sim, julgar. Segundo o magistrado, para garantir a existência do Estado Democrático de Direito, a divisão dos Três Poderes deve ser respeitada e cada um, Executivo, Legislativo e Judiciário, deve atuar dentro de seu próprio limite, sem interferir nos demais.

“O Judiciário não foi concebido para legislar… A execução não compete ao Judiciário e a concepção normativa também não. Compete ao Judiciário avaliar se as políticas públicas ou a legislação estão conforme a lei ou a Constituição. Mas não compete a nós dizer o que é a lei”, declarou Mendonça durante palestra no Simpósio Internacional “Compliance e Eleições: A Integridade da Democracia”, realizado na sede do Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES), em Vitória.

A menção do ministro à legislação faz referência aos recentes atritos entre o Congresso Nacional e a Suprema Corte. O debate, pelos magistrados, acerca de temas sensíveis, como a descriminalização da maconha para uso pessoal e o marco temporal para a demarcação de terras indígenas, é visto, pelos parlamentares, como abuso de poder e invasão de competências.

“Eu não fui eleito”

Essa foi a fala do ministro ao afirmar que não compete ao STF dizer o que, ou como, deve ser feito no país. Para Mendonça, a Corte tem legitimidade democrática, mas não como aqueles que foram eleitos pelo povo. “Um governador, prefeito, deputado, vereador, senador, o presidente: eles têm legitimação direta. Eles são escolhidos pelo povo. A nossa legitimação (ministros do STF) é indireta”, defende o magistrado.

A fala se deu a partir da reflexão do ministro sobre a elaboração e execução de políticas públicas. Para ele, não se pode pensar em um país verdadeiramente democrático sem que haja esforços coletivos para garantir o fim das desigualdades. Mas, de acordo com Mendonça, não é responsabilidade dos ministros julgarem o que é melhor para a sociedade, visto que eles são indicados pelo presidente da República, não escolhidos pelo povo.

“Tudo chega no STF”

Considerando a quantidade de julgamentos que a Corte realiza, Mendonça declarou, em tom de crítica, que o Brasil passa por um desafio em relação ao controle da constitucionalidade. De acordo com ele, o STF se tornou responsável por decisões sobre os mais diversos temas, que extrapolam as leis e chegam às alterações de nível constitucional.

“Hoje tudo o que acontece chega no STF para ser decidido. Hoje se questiona até a constitucionalidade de uma norma constitucional”, disse o magistrado. Completando, Mendonça afirmou que, por isso, há tantas tensões envolvendo o papel do Poder Judiciário, em especial do Supremo.

“Fake news não é igual a bad news”

Sobre as Eleições 2024, o também ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) considera que o maior desafio para o pleito será enfrentar a desinformação. Segundo Mendonça, é preciso, em primeiro lugar, compreender que “notícia ruim não necessariamente é uma notícia falsa”. Para o magistrado, dizer o que se pensa de um fato é diferente de dizer algo mentiroso sobre o que ocorreu.

Citando a Constituição, o ministro lembra que a liberdade de expressão é um direito fundamental e, da mesma forma, não se pode fazer censura prévia no Brasil. Por isso, justifica ele, a definição do que é verdadeiro ou falso é perigosa, visto que diferentes pessoas podem interpretar de formas distintas um mesmo fato. “A verdade em uma sociedade tão múltipla ganha conotações distintas”, complementa Mendonça.

Apesar de defender a liberdade de expressão, o magistrado ressalta que toda liberdade implica responsabilidades e, por isso, existem os legisladores, que têm o poder de decidir até onde vai o direito de cada um em uma sociedade. No entanto, ele pontua que não é uma tarefa do Judiciário tratar destes temas. Neste sentido, Mendonça diz ainda que o Estado não deve entrar no mérito de restringir a liberdade de opinião.

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