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Professora ameaçada receberá indenização de R$ 5 mil de vereador de Vitória

Professora ameaçada receberá indenização de R$ 5 mil de vereador de Vitória

Determinação da Justiça ocorre cerca de oito meses depois que o vereador prometeu acuar a professora por conta de uma atividade escolar que tinha como tema os significados do termo LGBTQIA+ e do Mês do Orgulho LGBT

Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 19:27

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Manifestação de apoio à professora Rafaella Machado da Escola Renato Pacheco, em Jardim Camburi. A professora de inglês foi ameaçada pelo vereador de Vitória Gildevan da Federal.
Manifestação de apoio à professora Rafaella Machado da Escola Renato Pacheco, em Jardim Camburi. (Carlos Alberto Silva)

O vereador de Vitória Gilvan da Federal (Patriota) foi condenado pela Justiça a indenizar a professora Rafaella Machado por danos morais. Além disso, a decisão também manteve a decisão liminar, de julho do ano passado, no sentido de proibir que o parlamentar mencione a docente nas redes sociais.

A sentença foi publicada nesta quarta-feira (23) pelo juiz Victor Queiroz Schneider, do 2º Juizado Especial Cível de Vitória. A determinação aconteceu cerca de oito meses depois que o vereador prometeu acuar a professora, por conta de uma atividade escolar que tinha como tema os significados do termo LGBTQIA+ e do Mês do Orgulho LGBT. 

A decisão narra que Gilvan foi acionado pela mãe de uma aluna que não teria aceitado as atividades. Após publicações do vereador contra a professora, ela passou a receber mensagens de ódio nas redes sociais, conforme a sentença.

Professora ameaçada receberá indenização de 5 mil reais de vereador de Vitória

"[A professora] relata que leciona na sede de uma escola estadual de Ensino Médio na cidade de Vitória e, no início do mês de junho, indicou uma atividade a ser realizada pelos alunos, envolvendo o tema “respeito à diversidade e combate à discriminação”, tudo estritamente permitido pelas normas do MEC. Ocorre que a atividade não foi bem aceita pela mãe de uma aluna, que acionou o vereador GILVAN AGUIAR COSTA, ora primeiro requerido, que passou, segundo narra a autora, a propagar diversas inverdades com teor desinformativo a seu respeito, com a intenção de macular sua imagem e honra. Em razão das postagens do primeiro requerido, passou a requerente a receber diversas mensagens de ódio, que perduram até o momento", diz um trecho da decisão..

O magistrado determinou então, a partir da análise do ocorrido, o pagamento de R$ 5 mil à professora por danos morais. Além disso, negou o pedido de indenização feito pelo próprio vereador, que sugeriu que Rafaella teria usado perfis nas redes sociais para fazer acusações levianas em relação a ele, sem que tenha comprovado a alegação.

Sobre o assunto, a professora afirmou à reportagem que entendeu a condenação como necessária para mostrar à população que as atitudes do vereador não cabem em uma democracia.

O vereador Gilvan da Federal, do Patriota
O vereador Gilvan da Federal, do Patriota. (Câmara de Vitória)

No mesmo sentido, a defesa da vítima, feita pelos advogados Taylon Gigante e Carlos Pagiola, afirmou que a decisão abre importantes precedentes. "É uma decisão coerente, inédita no Estado, na qual ficou demonstrado que o Poder Judiciário capixaba não tolerará violação a direitos e garantias insculpidas na Constituição Federal e será taxativo na punição de 'agressores virtuais' que infelizmente utilizam a internet para propagar e incitar o ódio", diz a defesa em nota.

Os advogados também expressaram que, independente de poder aquisitivo ou político, haverá punição exemplar para aqueles que utilizam da liberdade de expressão como justificativa para prejudicar a reputação das pessoas. "O entendimento judicial é claro, ao entender que mesmo que o agressor seja um 'elaborador de leis', este burlando a mesma, será punido categoricamente. É uma vitória da democracia, da advocacia e dos profissionais da educação, tendo em vista que poderão trabalhar com mais independência e liberdade na busca de um mundo melhor para nossas crianças".

OUTROS PROCESSOS

Em um outro episódio mais recente, o vereador também vem sendo processado por suposto crime de difamação e injúria contra a diretora de uma escola no bairro Andorinhas, em Vitória. A vítima haveria opinado nas redes sociais sobre pontos negativos do ensino cívico-militar e Gilvan teria reagido mal aos comentários.

Nesta quarta-feira (23), mesmo dia da sentença no caso da professora Rafaella, o juiz Fernando Antonio Lira Rangel, da 5ª Vara Criminal de Vitória, recebeu formalmente a queixa-crime apresentada pela diretora.

Uma outra ação, encaminhada à Justiça nesta quarta-feira (24) pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), pede a condenação do vereador por injúria e difamação e que Gilvan se abstenha de fazer menção de forma depreciativa a outra professora, que atua no Conselho Municipal de Educação de Vitória, e que, segundo o pedido de liminar, vem sendo perseguida pelo parlamentar.

O QUE DIZ O SINDIUPES

A decisão no caso da professora Rafaella foi comemorada pelo Sindiupes, por meio da diretora Mirna Danuza Gomes da Fonseca, responsável pela área de Direito das pessoas LGBTQIA+. "Que bom que esse senhor foi condenado, porque ele acha que está prestando um serviço, mas o que fez foi um desserviço à sociedade", disse.

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O político não pode levar o pensamento dele para dentro da escola, já que se trata de um ambiente democrático. Se ele é homofóbico, não significa que não se possa tratar de LGBTQIfobia dentro de uma escola, que não se pode tratar de racismo, entre outros assuntos. Por que um vereador, ou seja, detentor de um cargo municipal, se meteria na grade curricular do Estado? Ele faz política para quem pensa de forma retrógrada como ele e esquece que a educação é democracia. O que ele faz é perseguir aquilo que ele não aceita

Mirna Danuza Gomes da Fonseca
Diretora sindical
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O OUTRO LADO

Procurado para comentar o caso, o vereador Gilvan da Federal (Patriota) não atendeu aos contatos da reportagem. Esta publicação será atualizada quando houver retorno.

RELEMBRE O CASO

Em junho de 2021, o vereador Gilvan da Federal afirmou que iria "acuar" a professora Rafaella Machado por conta de uma atividade escolar sobre o termo LGBTQIA+ e o Mês do Orgulho LGBT. Gilvan chegou a encaminhar à mãe de uma aluna da Escola Estadual Renato Pacheco, em Jardim Camburi, um áudio em que afirmava que iria "aguardar a professora na saída" da escola.

O caso ocorreu após a mãe reclamar com o parlamentar sobre a atitude da docente na aula on-line, alegando que o tema não deveria ser abordado na escola, de acordo com o vereador. A mensagem, enviada por Gilvan, foi compartilhada pela mulher em um grupo de responsáveis pelos estudantes no WhatsApp.

A atividade da disciplina de Inglês, para alunos do 1º ano do ensino médio, fornecia um texto, retirado da Livraria do Congresso Americano (Library of Congress – LOC, na sigla em inglês). O texto fornecido aos alunos aborda o significado de cada letra da sigla LGBTQIA+ e conta a história da origem do movimento nos Estados Unidos. O objetivo da tarefa era interpretar o conteúdo em inglês e responder a perguntas objetivas em português.

A atividade utiliza um texto, em inglês, retirado do site da Livraria do Congresso dos EUA
A atividade utiliza um texto, em inglês, retirado do site da Livraria do Congresso dos EUA. (Reprodução)

O caso foi levado à Polícia Civil. A professora registrou um boletim de ocorrência contra Gilvan por ameaça e intimidação. Ela cita a tentativa de acuá-la e intimidá-la durante o trabalho.

Após a divulgação do caso, um grupo formado em grande parte por estudantes chegou a realizar um ato de apoio à professora em frente Escola Estadual Renato Pacheco, onde ela dá aula. Aos gritos de "Rafaella Machado, estamos com você", o grupo percorreu ruas do bairro Jardim Camburi.

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