Começou por volta das 10h desta quarta-feira (8) o julgamento do diplomata espanhol Jesús Figón Leo, acusado de matar a esposa, Rosemary Justilo Lopes, no bairro Jardim Camburi, em Vitória, no dia 11 de maio de 2015. O júri, marcado inicialmente para 9h, está sendo realizado no Fórum Criminal, no Centro da cidade. Quase oito anos separam a morte da cabeleireira e a data de desfecho do caso, nesta quarta-feira (8), Dia Internacional da Mulher. Como o diplomata está morando na Espanha, ele tem a permissão para participar do julgamento por meio de videoconferência. Segundo apuração do repórter Vinicius Zagoto, Jesús Figón acompanha o júri pela internet.
O julgamento conta com quatro testemunhas de defesa, incluindo a filha do diplomata espanhol, e há a expectativa de que possa durar até esta quinta-feira (9), em virtude da quantidade de testemunhas a serem ouvidas. A primeira testemunha de defesa ouvida foi uma vizinha do casal no prédio em Jardim Camburi, onde Rosemary Justilo Lopes morreu.
O promotor do Ministério Público do Espírito Santo Augusto Leonardo Cezar informou, ainda antes do início do julgamento, que Jesús Figón não é obrigado a assistir nem a comparecer virtualmente. Um link de videoconferência foi disponibilizado para o acusado. Apesar de o acusado estar em outro país, o julgamento acontece de forma padrão, com a presença de testemunhas e de advogados de defesa presentes no Fórum Criminal.
A reportagem de A Gazeta acompanha o andamento do júri no local. Não é possível tirar fotos ou fazer gravações e filmagens no interior da sala. O júri acontece em uma sala fechada, como mostram as imagens abaixo, registradas do lado de fora do julgamento.
Na época do crime, Figón era conselheiro de interior da Embaixada da Espanha no Brasil. Ele atuava em Brasília (DF), mas passava alguns dias na residência que tinha com a esposa na capital do Espírito Santo.
A CBN Vitória divulgou, na ocasião, que o diplomata se apresentou na Delegacia de Proteção à Mulher (DHPM), em Vitória, na manhã do dia 14 de maio de 2015, e confessou ter matado a esposa com cinco facadas. A imunidade diplomática de Jesús Figón Leo foi suspensa pelo Governo Espanhol. Com isso, o diplomata passou a ser investigado pela Polícia Civil do Espírito Santo.
A prisão preventiva do diplomata, pedida por Adroaldo Lopes, foi negada na época, assim como a cassação do passaporte. Mas, segundo o delegado, o espanhol colaborava espontaneamente com as investigações. Ele acabou indiciado pelo crime de homicídio.
Apesar da confissão inicial dada aos policiais, a versão de Jesús mudou quando o caso chegou à esfera judicial: os advogados passaram a defender a tese de suicídio, segundo o promotor Leonardo Augusto Cezar, em entrevista coletiva do Ministério Público do Espírito Santo (MPES) na segunda-feira (6).
Na época, o advogado Jovacy Peter Filho justificou a tese apresentada pela defesa. "A alegação é de que não houve autoria. Infelizmente, a ex-mulher sofria de vários transtornos psicológicos, já havia tentado se suicidar várias vezes. Os primeiros depoimentos dele (Figón) foram sem a presença de um tradutor e isso gerou um problema de interpretação. Da boca dele não saiu absolutamente nada, não houve homicídio nos termos do que foi apontado pelo Ministério Público", afirmou.
Se condenado, o acusado pode continuar solto na Espanha, onde mora. O promotor de justiça detalhou que existe na legislação internacional o princípio da reciprocidade, ou seja, se condenado, para que o acusado cumpra a pena na Espanha, a legislação brasileira tem que "espelhar" as leis espanholas.
Nesta quarta-feira (8), o promotor do Ministério Público do Espírito Santo Augusto Leonardo Cezar citou ainda um documento do governo espanhol que sinaliza uma divergência entre a legislação espanhola e brasileira, que pode fazer com ele não seja obrigado a cumprir a pena na Espanha, em caso de condenação. "Corremos o risco de esse julgamento ser apenas simbólico", afirmou o promotor.
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